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Sistema Cantareira tem recebido menos chuva que o esperado há anos

G1 - http://g1.globo.com/bom-dia-brasil
03 de Fev de 2015

Sistema Cantareira tem recebido menos chuva que o esperado há anos
Falta d' água é prevista há, pelo menos,11 anos. Crise poderia ter sido evitada se dados meteorológicos dos últimos 15 anos tivessem sido observados.

Edição do dia 03/02/2015
03/02/2015 08h39 - Atualizado em 03/02/2015 08h39

O principal reservatório da Grande São Paulo nunca esteve tão seco. Mesmo com o socorro da segunda cota do volume morto, e da chuva dos últimos dias, o Cantareira está no nível mais crítico da sua história.
Isso poderia ter sido evitado se dados meteorológicos dos últimos 15 anos tivessem sido observados com rigor. Estes dados mostram que, justamente no verão, o Cantareira tem recebido menos chuva do que o esperado.
Tem chovido na região metropolitana, mas pouco tem chovido na área da Cantareira. Vários relatórios apontaram a necessidade de obras no reservatório, mas pouco foi feito até agora. E o resultado é que a Cantareira está cada vez mais seca, e a pouca água que cai acaba sendo absorvida pela terra.

Mas por que a principal caixa d´água dos moradores da Grande São Paulo está a um passo do esgotamento total? Há um ano, a crise hídrica foi declarada pelo governo estadual, mas os especialistas dizem que ela chegou bem antes disso.
Um gráfico mostra a evolução das chuvas de janeiro, fevereiro e março na região que inclui a Grande São Paulo e a Cantareira. As linhas azuis indicam que desde o verão de 1999, as chuvas, ou ficaram abaixo da média ou pouca coisa acima da linha vermelha. E detalhe: mesmo em anos em que a quantidade de chuva na cidade de São Paulo ficou dentro do esperado, no reservatório, ficou abaixo da média.
Em 2014, choveu 87,12% do esperado para o ano todo na capital e apenas 61,58% no Cantareira. Em fevereiro de 2012, por exemplo, choveu, na cidade, 21% acima da média. No mesmo período, no Cantareira só choveu 46% do previsto. Essa diferença, segundo professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da USP, Ricardo Camargo, já é percebida há muito mais tempo. "Há estudos que monitoram a chuva com radares meteorológicos que indicam que está havendo uma concentração da chuva em cima da região metropolitana e obviamente isso gera um déficit na região do entorno, que normalmente onde estão localizados os mananciais", explica.
Até choveu mais, no Cantareira, em janeiro deste ano do que no mesmo mês do ano passado. Mas essa água não ajudou a subir o nível do reservatório. É o tal efeito esponja.
O que tem caído de água fundo da represa não tem feito diferença pelo seguinte: parte da chuva evaporou antes de chegar ao solo ou foi retida pela vegetação. Quando a água finalmente bateu na represa, a terra extremamente ressecada absorveu toda água que podia.
Uma crise prevista há, pelo menos,11 anos. Em 2004, ao receber a concessão para uso do Cantareira, o governo de São Paulo foi avisado pela Agência Nacional de Águas sobre a necessidade de investimentos em novas fontes de abastecimento.
Mas só no ano passado, parte das medidas começou a ser, de fato, implantada. Como a intensificação da redução da pressão da água na rede e o bônus para economia de água. Já as obras para ampliar a produção de água, extremamente necessárias para garantir o abastecimento, não devem ficar prontas tão cedo.
"O problema é: tem pouca água nas represas. Não necessariamente construir obras para ampliar a quantidade de água que se produz como um todo, para região, vai resolver o problema no curto prazo", afirma a coordenadora do Instituto Socioambiental, Marussia Whately.
O governo do estado sabe disso. Tanto que desde o ano passado estuda possíveis modelos de racionamento. O ano de 2000 foi o em que o rodízio no abastecimento foi adotado. E olha que na época, os reservatórios tinham muito mais água do que hoje. E nem foi preciso usar o volume morto. Por enquanto, nem a meteorologia sabe se teremos chuva suficiente para abastecer os reservatórios em 2015.
"Se a gente for considerar esses 700 milímetros esperados para janeiro, fevereiro e março, a gente teria que quase dobrar esse valor para ter um excedente de volume de precipitação que nos deixaria menos sufocados com essa questão de água", analisa Ricardo Camargo
"Nesse cenário, é possível que os reservatórios sequem logo em março ou abril, mais tardar, maio. E a partir daí só vamos poder contar com a vazão que entra nos reservatórios, a vazão dos rios que abastecem os reservatórios", conclui professor de hidrologia da Unicamp Antônio Carlos Zuffo.
E São Paulo ainda perde 20% de sua água, só em vazamentos no caminho entre as estações de tratamento e as torneiras. A Sabesp disse que tem uma previsão de investimento de R$ 6 bilhões para reduzir as perdas, no período de 2009 a 2020. E que já atingiu redução de nove pontos percentuais nos últimos 10 anos.
Parece que a chuva não consegue chegar nos reservatórios mais distantes da cidade, como o Cantareira. O Bom Dia Brasil explicar porque isso acontece.
Segundo o Instituto de Ciências Atmosféricas da USP, as Represas Billings e Guarapiranga estão ficam na Zona Sul de São Paulo, região mais próxima do litoral e, por isso, recebe mais umidade do mar. Além disso, essas represas estão em uma área mais urbanizada, recheada de asfalto e concreto, que acaba concentrando mais o ar quente. Tudo isso junto, ajuda a formar nuvens mais pesadas, a chamada ilha de calor. Diferente do Cantareira que está em uma área mais isolada da região metropolitana.
E por isso é preciso de obras para interligar o sistema. Obras urgentes. Algumas das principais obras para contornar a atual crise de abastecimento e não deixar faltar água na região metropolitana: Interligação do Jaguari, Rio Paraíba do Sul ao Atibainha que faz parte do Sistema Cantareira; Interligação da Represa Billings ao Alto Tietê, segundo sistema mais importante para São Paulo; Por meio de uma parceria público-privada, o governo também está criando o sistema produtor de água São Lourenço, que vai ajudar a abastecer 1,5 milhão pessoas; Além de estações de reuso de água.
A previsão para que todas as obras fiquem prontas é o ano de 2018.

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