JB, Pais, p.a6
17 de Out de 2004
Sertanistas reclamam de falta de segurança
Maurício Hashizume
Entre os que têm alguma relação mais próxima com os povos indígenas do país, é comum o sentimento provocado pelo assassinato do sertanista Apoena Meireles, morto a tiros em Porto Velho, semana passada. Independentemente da motivação do crime - a policia anunciou a prisão de um jovem de 17 anos, que teria agido sozinho ao tentar roubar o sertanista -, todos concordam que o poder público tem obrigação de proporcionar mais condições de segurança e estrutura para quem trabalha para a Fundação Nacional do índio (Funai).
Ligada ao Ministério da Justiça, a Funai é o órgão responsável pela política indigenista na estrutura do governo federal. Meireles exerceu o cargo de presidente da Funai entre 1985 e 1986.
- A Funai hoje não está em condições de exercer a sua função institucional - avalia Edson Beiriz, administrador do órgão em Goiânia.
Beiriz vem sofrendo seguidas ameaças de morte por estar envolvido no caso conflituoso da terra indígena Maraiwatséde, em Mato Grosso. Ele e o bispo da região, dom Pedro Casaldáliga (da Prelazia de São Félix do Araguaia), sofrem pressão de fazendeiros e posseiros locais por estar do lado dos índios Xavante na área que já foi até homologada. Na opinião de Beiriz, a Funai precisa ser fortalecida dentro da estrutura governamental. Uma das formas sugeridas por ele para mudar esse quadro é o aumento imediato de pessoal para a atuação de equipes maiores em casos de maior tensão. A fundação tem hoje cerca de 2 mil funcionários para atender todo o país.
- O funcionário da Funai é enviado muitas vezes sozinho para "apagar incêndio" em regiões de conflito. Você não vê a Polícia Federal fazendo uma operação de grande relevância para o país com pouca gente assim.
Para o caso de Apoena em Rondônia, por exemplo, o ideal seria, segundo o administrador, pelo menos um grupo de seis a oito funcionários.
Com experiência na função, Beiriz lembra que a PF participa de ações conjuntas com funcionários do órgão, mas a dianteira da negociação sempre fica a cargo de funcionários da Funai. Ele ressalta que a ação direta (demarcação de terras indígenas, por exemplo) de funcionários, como ele próprio e Apoena, fere com freqüência interesses políticos e econômicos locais.
- Por isso, não acredito que tenha sido um crime simples. 0 assassinato de Apoena, uma pessoa de atitudes tranqüilas, tem ligação com o trabalho dele.
Beiriz considera temerário o simples anúncio da intenção do governo federal de delegar poder de polícia aos funcionários da Funai.
- Nem todo mundo está preparado para isso. Falta o fortalecimento da instituição. Desse jeito, as coisas não podem continuar - adverte Beiriz.
JB, 17/10/2004, p. A6
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