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Seringal Cachoeira, em Xapuri, aposta no desenvolvimento sustentável

Página 20-Rio Branco-AC
17 de Mai de 2002

A maior prova de que o futuro das comunidades que residem na floresta está no desenvolvimento sustentável e no uso racional dos produtos da floresta pode ser comprovada nos avanços e progressos alcançados nos últimos anos pelas 75 famílias que vivem distribuídas pelo 24 mil hectares do Projeto Agroextrativista Chico Mendes, ou simplesmente seringal Cachoeira, no município de Xapuri.
Em Rio Branco ontem, onde veio palestrar a um grupo de estudantes dos cursos de Ciências Sociais, Economia e Pedagogia da Universidade Federal do Acre (Ufac) sobre manejo florestal, desenvolvimento sustentável e biodiversidade, o produtor extrativista Nilson Mendes, 39 anos, membro do Conselho Fiscal da Associação de Moradores e Produtores do Projeto Agroextrativista Chico Mendes, fez um rápido relato de como está a situação dos produtores do Seringal Cachoeira. Para ele, "a nossa qualidade de vida deu um passo significativo nos últimos três anos, exatamente devido ao apoio que nós temos recebido do governador Jorge Viana. Lá, a gente vive agora com cidadania, com dignidade".
Primo do líder seringueiro Chico Mendes, morto em dezembro de 1988, Nilson Mendes é a empolgação em pessoa quando o assunto é a preservação das florestas, o uso da mata com racionalidade e o investimento na qualidade de vida das famílias de produtores do Cachoeira.
Para ele, tanto o apoio que a comunidade tem recebido do governo do Estado, como do deputado estadual Ronald Polanco (PT), tem sido um grande impulso para o desenvolvimento do projeto e o resgate da auto-estima de famílias inteiras de produtores da localidade.
Nilson lembra a trajetória de luta das famílias do Cachoeira. Segundo relato dele, no princípio, a tradição no seringal era a exploração da borracha e da castanha, criação de pequenos animas e cultivo de lavoura branca para subsistência. "E isso era um estilo de vida muito primitivo que não batia com o que nossas famílias pensavam para o futuro", diz.
Hoje, já dentro de uma realidade bem mais desenvolvida, Nilson destaca que os produtores trabalham o manejo florestal comunitário e sustentável, investem em piscicultura e começam a criar animais silvestres como porco, capivara, paca e outros para iniciar um processo de repovoação da floresta com essas espécies.
Do patrão para a liberdade
O produtor extrativista Nilson Mendes lembra que na década de 60, apenas 30 famílias, comandadas por um patrão, habitavam o local chamado na época de Seringal Mucuripe, mas já naquele tempo, os seringueiros preferiam o nome de batismo Cachoeira.
Ele conta que na década de 70 já entrando na de 80, foi o período dos grandes empates liderados por Chico Mendes contra os grandes fazendeiros que queriam derrubar a floresta para plantar pasto e criar bois. "Era o Chico no sindicato defendendo a floresta e os seringueiros e o povo unido lutando pela vida", lembra Nilson.
Em 1989, o presidente José Sarney assinou o decreto criando a reserva extrativista do seringal Cachoeira, a maior conquista dos seringueiros em todos os tempos. Com o decreto e a reserva vieram também as primeiras vitórias como o direito à propriedade da terra, o uso dela e sem correr mais o risco da expulsão. Entre outras conquistas destacadas por Nilson ao longo dos anos estão a formação de cooperativas, a elaboração a aprovações de diversos projetos que levaram recursos e benfeitorias às famílias, construção de dois postos de saúde, duas escolas, 33 quilômetros de ramais, implantação do Telecurso 2000 para jovens e adultos entre outros.
O apoio importante do governo
"O governo do Estado tem sido o grande parceiro e, é bom destacar, muito respeitado pela comunidade", disse o produtor Nilson Mendes. Segundo ele, nos últimos três anos o desenvolvimento no projeto foi grandioso, com conquistas incalculáveis. "O Jorge Viana tem uma aceitação especular entre as famílias, nós nunca tínhamos tido o que temos hoje e o que temos hoje foi graças ao apoio, aos investimentos do governo do Estado e do gabinete do deputado Ronald Polanco. Antes era um descaso muito grande, as coisas para vir só com nossa mobilização. Para conseguir posto de saúde e escola para a comunidade nós tivemos de invadir o Incra para garantir os recursos porque já tinham desviado a verbas para outros fins no governo do Orleir Cameli.
De acordo com Nilson, "a luta era muito difícil para nós, as pessoas davam alguma coisa, mas davam de mau gosto. Com o governo de Jorge Viana a relação tem sido de respeito, já fizemos dois convênios e todos dois aprovados pelo governo e que vão beneficiar a comunidade".
Outra parceria que tem levado muitos frutos à comunidade do seringal Cachoeira tem sido a firmada com o gabinete do deputado estadual Ronald Polanco. Segundo Nilson, Polanco ajudou muito a projetar o desenvolvimento que as famílias da localidade sempre sonharam, que o Chico Mendes sempre sonhou. O que nós tínhamos no papel o deputado Polanco ajudou a gente a colocar na prática".
"De 99 até hoje, a qualidade de vida das nossas famílias melhorou em mais de 60% e nós temos a perspectiva de melhorar a nossa sobrevivência ainda mais, com o uso múltiplo da floresta e com o que a gente chama de segundo empate manso, porque antes, nossos empates era para proibir a derrubada da floresta, agora é para fazer o uso múltiplo das riquezas da mesma floresta e sem desmatar, aumentando a renda dos produtores e fazendo com que eles tenham uma qualidade de vida cada vez melhor".
Nilson disse ainda que para que "nossas conquistas continuem se ampliando, é importante que esse projeto político que se estabeleceu no Estado com a eleição de Jorge Viana em 98 continue predominando no Acre, mas caso isso não seja possível, nós vamos continuar lutando como sempre lutamos, porque a luta é a única forma que nós temos de ter uma vida melhor, nós temos que aumentar nossas culturas, nossas riquezas, nossas viabilidades econômicas".
Hoje no Cachoeira, disse o produtor, "as famílias estão se estabilizando lá mesmo. Tem produtor lá que sonhava em ter energia elétrica, uma televisão e hoje tem tudo isso, com o dinheiro ganho com seus próprios produtos compra energia, televisão, até aparelhos de telefones celulares algumas pessoas já tem, isso é melhorar de vida, isso é dignidade, isso é ser cidadão".

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