VOLTAR

Senadores questionam policia do PA

FSP, Brasil, p.A8
30 de Mar de 2005

Relatório aponta que trabalhadores rurais foram mais investigados
Senadores questionam polícia do PA
O relatório da Comissão Externa do Senado, criada para acompanhar o caso do assassinato da missionária Dorothy Stang, apontará que dez dos 12 inquéritos abertos pela Polícia Civil do Pará nos últimos dois anos na região de Altamira tinham o objetivo de investigar trabalhadores rurais.
Os outros dois inquéritos policiais, segundo a comissão, foram abertos para apurar o próprio caso Dorothy. A freira foi morta no dia 12 de fevereiro em Anapu.
O parecer deverá ser votado hoje na comissão. Inicialmente, o texto seria apreciado ontem no Congresso, mas a votação foi adiada devido a divergências entre os integrantes da comissão. O principal ponto de discordância era o volume de críticas à ação da polícia estadual e do governo paraense na condução das investigações de conflitos agrários e casos de mortes no campo.
O senador tucano Flexa Ribeiro, que defende o governador Simão Jatene (PSDB), pressionou e conseguiu fazer algumas modificações no texto. Em alguns trechos, a redação crítica foi alterada por "apresentação de sugestões".
Os senadores também apontarão que há indícios da existência de um "consórcio" de pessoas que estavam interessadas na morte da missionária e defenderão que o caso não está esclarecido.
A assessoria de imprensa do governo do Pará disse que prefere receber hoje uma cópia do relatório para só depois comentar o assunto. O Ministério do Meio Ambiente informou não poder comentar o relatório por não ter recebido até ontem à noite uma cópia do documento.

Dois fazendeiros citados por Bida em depoimento têm processo por Sudam
Dois dos três fazendeiros citados no depoimento à Polícia Federal por Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato de Dorothy Stang, 73, enfrentam processos por envolvimento no caso Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
Em seu depoimento à PF, embora não tenha acusado nenhum fazendeiro de Anapu (PA), onde a freira foi morta, confirmou seu envolvimento com Regivaldo Galvão, o Taradão, e Délio Fernandes. Um terceiro fazendeiro citado foi Luiz Ungaratti. Apontado como um dos maiores donos de terras local, Fernandes responde a ações civil e penal, acusado de desvio de recursos da Sudam.
Criada para disponibilizar recursos para o desenvolvimento do Norte, a Sudam foi extinta em fevereiro de 2001, devido a denúncias de desvios de recursos.
Segundo o procurador da República no Pará, Ubiratan Cazzeta, Fernandes é relacionado em ao menos 5 de 12 ações de fraudes da Sudam. Seu nome às vezes aparece como destinatário final das verbas desviadas, ou então o dinheiro transitava em contas de empresas ligadas a ele ou de laranjas. Bida disse ter pedido ajuda a Fernandes após o assassinato.
No depoimento, Bida também falou sobre Galvão, que teria lhe vendido uma fazenda dentro da área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança. Segundo o Ministério Público Federal, Galvão foi processado no caso Sudam. Ele atuava como um agiota, emprestando dinheiro a juros altos a contratantes da Sudam. Dorothy denunciou Galvão ao Ibama por corte de madeira ilegal.
A Folha só conseguiu falar com Ungaratti, que negou que conhecesse Bida e a freira.

Fazendeiro diz que madeireiro pagou delegado para obter proteção policial
O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que escreveu um bilhete no qual denuncia o madeireiro Luiz Ungaratti de ter pagado um delegado da Polícia Civil para que lhe desse proteção.
O delegado da PF Ualame Machado confirmou a existência do bilhete, entregue a Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ser o intermediário do crime.
Segundo o delegado, o bilhete diz para Tato falar a verdade e contar que a autoridade recebeu o pagamento, de cerca de R$ 10 mil.
Machado disse que não foi citado o nome do delegado que teria recebido o dinheiro.
A existência do bilhete era mantida em sigilo. A divulgação da informação, segundo ele, foi feita pelo promotor estadual Sávio Brabo, do Grupo Especial de Prevenção e Repressão às Organizações Criminosas do Estado, que acompanhou o depoimento.
Para o delegado-geral da Polícia Civil do Pará, Luiz Fernandes Rocha, o bilhete foi plantado. "Há uma campanha de querer desmoralizar o trabalho em tempo recorde e sem defeito nenhum, que foi feito pela Polícia Civil."
Ungaratti disse que não conhece Bida, "apesar de trabalhar há anos em Anapu" e nem a missionária assassinada. Negou também ter feito a negociata descrita no bilhete: "De jeito nenhum, nunca nem vi o Bida. Nunca conversei com ele. É mentira. Deus me livre. Nem de brincadeira".
Ele é proprietário de um lote na gleba Bacajá, em Anapu, onde se localiza o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, que era capitaneado pela freira. Segundo ele, suas terras (cerca de 3.000 hectares) não eram parte da área estipulada para o projeto.

FSP, 30/03/2005, p.A8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.