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Senadora vira alvo de invasão do MST

OESP, Nacional, p. A6
08 de Mar de 2013

Senadora vira alvo de invasão do MST
Sem-terra ocupam área da família de Kátia Abreu e promovem 'sabotagem' em canteiro de eucaliptos para protestar contra agronegócio

Vannildo Mendes
Débora Bergamasco
Célia Bretas Tahan

Num ato declarado de sabotagem, cerca de 500 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) - a maioria mulheres - invadiram ontem a Fazenda Aliança, propriedade da família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Encapuzados e munidos de foices, eles destruíram o canteiro de mudas de eucaliptos. Os seguranças e empregados da fazenda se recolheram aos alojamentos e não houve confronto.
O MST afirmou que a ocupação visava a marcar posição política contra o agronegócio e em defesa da reforma agrária. "A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas", disse Mariana Silva, dirigente do movimento em Tocantins. "Nosso objetivo foi mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo."
A invasão da propriedade faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas, que está em andamento desde segunda-feira, com a participação da Via Campesina e do Movimento Camponês Popular (MCP).
A ocupação da fazenda, que está registrada no nome do filho da senadora, o deputado federal Irajá Abreu (PSD-TO), durou cerca de uma hora - de acordo com a manifestante Cristina Lima, a propriedade foi desocupada por volta das 10 horas. No lugar do canteiro de eucaliptos, os ativistas deixaram sementes de arroz e feijão, além de mudas.
Entre as justificativas para a sabotagem, Mariana disse que a fazenda já foi multada duas vezes por crimes ambientais. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) confirmou as punições, em 2011 e 2012, por desmatamento em Área de Preservação Permanente (APP).
Assustada, a senadora disse ontem que vai contratar segurança armada para proteger a área. "Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida. Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá?"
Ação política. A integrante da bancada ruralista classificou a ação dos sem-terra como um ato político, com o intuito de inibir sua atuação como defensora do direito à propriedade privada. Ela se qualifica como "combatente dos crimes de invasão".
Segundo o Ministério da Justiça, a apuração de eventuais excessos nas manifestações é de responsabilidade das polícias de cada unidade da federação. A Polícia Federal informou que acompanha a movimentação das mulheres.
Um dos principais alvos da jornada de luta em andamento é a indústria de papel e celulose. Em Itabela, no sul da Bahia, militantes do MST ocupam desde segunda-feira uma fazenda de eucalipto da Veracel Celulose. Outras duas fazendas da Suzano Celulose foram invadidas na cidade de Teixeira de Freitas.
A coordenação do movimento estima que quase 1,2 mil mulheres participam das ações.
De acordo com Evanildo Costa, da direção estadual do MST, as terras serão desocupadas quando as empresas se sentarem à mesa para negociar a liberação de áreas para assentamento. "As companhias estão adquirindo terra de forma muito rápida e inviabilizando a reforma agrária", disse. Por meio de nota, a Veracel informou que a invasão contraria compromisso firmado com os movimentos sociais, com mediação do governo estadual, para a criação de assentamentos sustentáveis na região.
No Rio Grande do Sul, as mulheres se concentraram diante de uma unidade da empresa Milenia, em Taquari, para protestar contra o uso de agrotóxicos na agricultura.

Dois lados
"A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a Reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Nosso objetivo foi mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo." Mariana Silva, dirigente do MST em Tocantins.
"Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida. Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá?" Kátia Abreu, senadora (PSD-TO).

Ações violentas são marca das 'jornadas'

Cenário: Roldão Arruda

Há 15 anos as mulheres do MST realizam no início de março as chamadas jornadas de luta - com invasões de terras e de edifícios públicos, passeatas e interdições de rodovias - para lembrar o Dia Internacional da Mulher e cobrar a realização da reforma agrária no País. Em áreas de reflorestamento, elas também incluem nos protestos a depredação de áreas de pesquisa de melhoramento de florestas e viveiros de mudas.
O caso mais barulhento ocorreu em 2006, quando 2 mil mulheres invadiram um horto florestal e um laboratório de pesquisas da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul. Em termos de publicidade para o movimento, foi uma péssima iniciativa, uma vez que foi associada a vandalismo. A imagem do laboratório destruído, a entrevista com a pesquisadora que não conteve as lágrimas ao ver o estrago e a revelação de que anos de estudos haviam sido prejudicados só serviram para fomentar antipatias contra o MST.
As militantes do movimento insistem nas depredações como forma de chamar a atenção para os problemas ambientais causados pela expansão da monocultura do eucalipto, no rastro da indústria de celulose. No caso da Aracruz, o objetivo era denunciar o fato de que o empreendimento contava com financiamento público. Agora, na Fazenda Aliança, em Tocantins, estariam tentando chamar a atenção para um projeto de reflorestamento que, segundo o MST, é feito com eucaliptos, e não com plantas nativas da região.
Embora ainda patrocine ações desse tipo, o MST parece ter noção de que elas mais prejudicam do que ajudam a sua imagem e a causa da reforma. Uma indicação disso é o primeiro balanço da movimentação das mulheres neste ano, divulgado ontem pela coordenação nacional.
Ele mostra a depredação em Tocantins como um ato extremo da jornada, que, iniciada no dia 4, se estende por oito Estados. Até ontem haviam sido registradas oito ocupações de áreas rurais e a interdição temporária de uma rodovia federal, a Belém-Brasília. As mulheres também invadiram três edifícios públicos - entre eles a sede do Ministério da Agricultura, em Brasília - e os escritórios de duas empresas particulares.
Além de reivindicar terras para a reforma agrária e combater o agronegócio e o uso de agrotóxicos, elas protestaram contra o Poder Judiciário, pela lentidão nos processos que envolvem crimes contra militantes de movimentos. Foram quatro atos de protesto.
A jornada, que também incluiu marchas em cinco cidades, deve prosseguir hoje, Dia Internacional da Mulher.

OESP, 08/03/2013, Nacional, p. A6

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