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Seminário debate discriminação

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Autor: ÂNGELA BASTOS
21 de Jul de 2001

Florianópolis reúne populações negras, índigenas, mulheres e homossexuais O município de Florianópolis tem a ver com a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia (aversão a estrangeiros) e Formas Correlatas de Intolerância e que será realizado no período de 30 de agosto a 5 de setembro, na cidade de Durban, na África do Sul. A capital dos catarinenses sedia desde ontem o Seminário Interestadual Preparatório à Conferência Mundial, que vai encaminhar propostas que serão levadas para Durban. O seminário está discutindo questões referentes à prática de discriminação contra as populações negras e indígenas, mulheres, homossexuais. Estamos tratando da questão da reparação pela escravização, explicou Ivair dos Santos, secretário nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça. Santos diz ser muito grande a complexidade da Conferência Mundial, pois envolve interesses muito diferentes e com reflexos de pesados investimentos econômico. A aprovação ou não dos itens discutidos na Conferência Mundial dependem de concenso e não de votos, sendo muito difícil fazer com que países europeus concordem com o bloco africano e mesmo da América Latina, alerta. Cerca de 200 pessoas vindas também do Rio Grande do Sul e do Paraná estão reunidas na Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha, na Escola Sindical da CUT, em Ponta das Canas, Norte da Ilha de Santa Catarina. A promoção é do Núcleo de Estudos Negros (NEN), Comissão Estadual de Combate ao Racismo da CUT/SC e Fórum Estadual de Entidades Negras, com apoio da Fundação Ford. O evento se encerra hoje à noite. Líder indígena luta por terras O líder indígena Marcos Terena é um dos palestrantes do Seminário Interestadual Preparatório à Conferência Mundial contra o Racismo. Para os povos indígenas, explicou, duas questões preocupam muito no país: a terra e a representatividade política. Hoje são 515 as terras indígenas identificadas no Brasil, mas 40% não está demarcada. O representante Terena falou da polêmica da obra de duplicação da BR-101 e que conforme projeto do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens (DNER) prevê um túnel na aldeia Guarani, localizada no Morro dos Cavalos. Terena acompanhou o processo da construção do gasoduto Bolívia-Brasil, que passava por terras indígenas no Pantanal. A questão da estrada aqui é basicamente igual: os Guarani já estavam ali quando a estrada chegou, diz. Aqui no Sul, explicou, existe um problema com relação ao tamanho das áreas: foram constituídas nos anos 50 e 60, quando a expansão urbana não era tão grande. Os espaços tornaram-se pequenos. Além de estarem próximas de estradas, cidades e obras. Naquela época, o pensamento do Instituto Indigenista era de que o índio iria se integrar a sociedade e a comunidade desapareceria. Nós provamos o contrário, os povos indígenas se organizaram independente da política indigenista e criaram mecanismos próprios de defesa, compara Terena. Terena lembrou que em Santa Catarina tem um índio que é vice-prefeito e mais cinco nos demais estados, além de um prefeito na Paraíba. São 87 os vereadores indígenas no Brasil. Nenhum deles pediu permissão da Funai para concorrer, foi uma iniciativa própria, diz. Há 15 dias, contou Terena, ele foi fazer uma aula inaugural numa universidade indígena. Não houve a necessidade de passar pelo Ministério da Educação ou governo federal, foi uma conseqüência da organização e discussão dos índios do Mato Grosso com pedagogos e educadores das secretarias de Educação, explicou. São 200 índios representando 35 povos que estão cursando Pedagogia e que já foram avisados por quem sonha alto: Vão tratando de estudar para virarem doutores, brincou Marcos Terena, piloto de avião do quadro de servidores da Funai.

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