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A Semana do Meio Ambiente, a sério

Marcos Sá Corrêa - http://marcossacorrea.com.br
Autor: Marcos Sá Corrêa
10 de Jun de 2010

Uma das vantagens de qualquer parque nacional em relação a tudo o que eles têm em volta é que, neles, a natureza é concreta. Tão concreta que até as comemorações da Semana do Meio Ambiente perdem aqui, na prática, seu jeito de festa cívica, herança típica de um país que, quando se trata da própria conversação, prefere mil vezes os grandes gestos abstratos.

Como o Dia da Árvore, decano do civismo ambiental no Brasil, que só foi instituído na década de 1920 porque os políticos ainda estavam adiando, desde o Segundo Reinado, a efetivação do Código Florestal e a decretação dos primeiros parques nacionais no Brasil - quando a invenção norte-americana já tinha pegado até em outras terras da América Latina.

No Iguaçu, a Semana do Meio Ambiente foi comemorada com a limpeza do rio. Ele atravessa quase todo o estado do Paraná, antes de cair nas Cataratas, mais de 1.200 quilômetros depois. Nasce nos arredores de Curitiba, em zona industrial e favelizada. Passa pelas barragens de quatro hidrelétricas no caminho. Só reencontra margens florestados no trecho final, de 50 quilômetros, quando passa entre os parques nacional do Brasil e da Argentina.

Ou seja, não é preciso dizer que chega sujo. Traz tudo o que as cidades brasileiros costumam jogam nos rios, como se eles fossem esgotos naturais a céu aberto. Vem barrento, nas chuvas, tingido pela erosão do solo em plantações e pastos que invadem as reservas legais. Nos remansos, às vezes forma uma espuma suspeita. Mas isso tudo as Cataratas disfarçam ou escondem, além de remediar parcialmente pela aeração forçada nas quedas e nas corredeiras.

Mas isso só aos olhos dos turistas. Os especialistas sabem até dizer, pelas variações do volume da água, se as mudanças se devem ao regime de chuva ou ao abre-fecha das comportas a montante. Por essas e outras, esta Semana do Meio Ambiente incluiu, na quarta-feira, uma faxina em regra das margens e ilhotas, cujos bambuzais e ramos entrelaçados as últimas cheias decoraram com garrafas PET, sacos plásticos, sandálias japonesas e outros descartes que, às vezes, é melhor não identificar.

Uma das amostras recolhidas do lixo ancorado nos barrancos do Iguaçu era um saco com mais de 100 fraldas descartáveis. Usadas. A limpeza do rio reuniu voluntários escolhidos entre os candidatos a estágios no parque, como complemento de cursos nas faculdades da região. É gente jovem, animada e bonita. Que pega no batente com cara de quem está ali se divertindo.

O dia frio, mas de sol quente, ajudou a dar um ar de festa ao programa, comandado de dois barcos cedidos pelo Macuco Safari, a concessionária de eco-turismo no parque, pelos biólogos Ivan Baptiston e Pedro Fogaça, da área de Conservação e Manejo. Quando a noite caiu, os 12 voluntários haviam recolhido, nos arquipélagos acima dos saltos, 30 sacos de 100 litros, cheios de todo o tipo de imundície que se possa imaginar - em parte, colhido como frutas exóticas no alto das árvores, que andaram semi-encoberta nas cheias de maio.

Abaixo das quedas, 7 montanhistas de Foz do Iguaçu, escoltados pelos operadores de rapel do Macuco Safari, faziam o mesmo serviço no cânion. Tinham feito o dia inteiro, de graça e para valer, um programa que os turistas mais ambiciosos pagam para exerimentar rapidamente. E, de quebra, os funcionários do parque, ao recolher o lixo deixado na beira do rio por pescadores clandestinos, pegaram em flagrante um acampamento montado na noite anterior.

Tinha restos de peixe frito nas panelas, remos ainda úmidos da travessia fluvial na noite anterior, linha de espinhel e uma canoa de madeira, grande e tosca, propositalmente inundada para se camuflar como um tronco meio submerso na correnteza. O material ficou todo lá e se juntou ao lixo. Mas os pescadores, alertados pelo motor da lancha, fugiram a pé, pelo mato adentro. É pena. Porque ali estava uma turma realmente necessitada de aprender o que essa tal de Semana de Meio Ambiente, de fato, quer dizer.

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