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Sem-terra invadem e depredam pelo país

FSP, Brasil, p. A6
11 de Jun de 2008

Sem-terra invadem e depredam pelo país
Ação em 13 Estados envolve 6.900 contra multinacionais, monocultura da cana, aumento nos alimentos e modelo energético
Manifestações foram organizadas pela Via Campesina, que reúne, entre outros grupos, o MST, e pela Assembléia Popular

Da agência Folha

Cerca de 6.900 manifestantes, a maioria deles sem-terra do MST, participaram ontem de uma onda de invasões, protestos e depredações em 13 Estados contra a atuação de empresas estrangeiras no país, a monocultura da cana, o aumento nos preços dos alimentos e o modelo energético.
A manifestação foi organizada pela Via Campesina -que reúne MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), entre outros- e pela Assembléia Popular, articulação de movimentos sociais urbanos.
Os manifestantes tentaram invadir usinas hidrelétricas de Itá (RS) e fizeram um protesto em frente à usina de Salto Santiago (PR), ambas pertencentes à empresa franco-belga Suez, que lidera o consórcio vencedor da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO).
Para protestar contra a transposição do rio São Francisco, agricultores com foices, enxadas e pedaços de madeira invadiram as instalações da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), na usina de Sobradinho (BA). Eles forçaram o portão principal e quebraram alguns vidros. Deixaram o local no início da tarde.
Sem-terra invadiram a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Carpina (60 km de Recife), e destruíram mudas de cana-de-açúcar usadas para pesquisa.
Em Passo Fundo (RS), houve confronto. A Brigada Militar disparou balas de borracha contra sem-terra que invadiram fábrica da Bunge, multinacional de alimentos. Cinco sem-terra ficaram feridos.
Segundo o MST, o confronto teve início quando soldados apreenderam um caminhão com alimentos que seriam distribuídos à população carente que mora próximo à fábrica.
O subcomandante-geral da Brigada Militar, Paulo Roberto Mendes, disse que todos os manifestantes seriam detidos.
Em Belo Horizonte, manifestantes bloquearam por seis horas com pneus e fogueiras um trecho urbano da FCA (Ferrovia Centro Atlântica), do Grupo Vale, para protestar contra a falta de obras e por mais segurança ao trânsito local e aos moradores da região dos bairros afetados pela linha férrea.
No Pontal do Paranapanema, região oeste de SP, segundo a Polícia Militar, cerca de 400 integrantes do MST dominaram dois seguranças e invadiram o canteiro de obra de usina de álcool do grupo Odebrecht. No escritório da empresa, eles improvisaram uma cozinha.
Cerca de mil pessoas ligadas à Via Campesina armadas com pedaços de paus invadiram o Porto do Pecém (a 60 km de Fortaleza), impedindo a carga e a descarga de navios. Protestavam contra a construção, no local, de uma termelétrica e de uma siderúrgica.
Em Santa Catarina, 350 pessoas, de acordo com a PM, protestaram contra o funcionamento de uma indústria de celulose em Otacílio Costa. Houve bloqueio por uma hora da BR-282, na cidade de Maravilha (658 km de Florianópolis).
Em São Paulo, cerca de 600 trabalhadores rurais da Via Campesina e integrantes da Assembléia Popular invadiram ontem um prédio da Votorantim no centro da cidade.
Segundo o MST, a polícia tomou o prédio e reprimiu os manifestantes com "violência". A PM nega. A invasão tinha por objetivo denunciar os impactos ambientais da construção da barragem de Tijuco Alto, no rio Ribeira de Iguape, que corta os Estados de São Paulo e Paraná.
Colaborou a Folha Online

Alvos de ataques contabilizam os prejuízos

Da agência Folha

Instituições que foram alvo dos protestos de sem-terra e atingidos por barragens contabilizaram prejuízos com as manifestações, como danos a pesquisas de mestrado e doutorado em Pernambuco e a paralisação de uma unidade de processamento de soja no Rio Grande do Sul.
Em Carpina (PE), a direção da Universidade Federal Rural de Pernambuco informou que pretende pedir apuração da Polícia Federal sobre o protesto e os prejuízos causados.
Djalma Simões Neto, coordenador-geral da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar da instituição, que foi invadida ontem, disse que pesquisas desenvolvidas há três anos por alunos de mestrado e doutorado foram comprometidas com a destruição de mudas por integrantes da Via Campesina.
Segundo Simões Neto, o prejuízo material foi "irrelevante". A estação experimental ainda não fez a avaliação dos danos.
A Bunge, que teve uma unidade invadida em Passo Fundo (RS), disse que providenciou a reintegração de posse da área.
A empresa afirmou, em nota, que "repudia qualquer tipo de violência". A fábrica invadida foi paralisada por "questões de segurança", segundo a Bunge.
A Vale disse, por meio de sua assessoria, que a passagem de trens na região leste de Belo Horizonte (MG), alvo de protesto ontem, provoca problemas aos moradores, mas que já possui um estudo para tirar a linha de dentro da área urbana.
A empresa afirmou que a aprovação do projeto depende dos "órgãos competentes", com quem está "em negociação". Também disse que tem o "compromisso" de iniciar as obras.
A Odebrecht, por meio de sua assessoria, informou que entrará com o pedido de reintegração de posse da área invadida no interior de São Paulo e que, "por meio de medidas legais, o caso deve ser resolvido brevemente".
A Tractebel informou que desconhecia qualquer movimentação dentro da usina de Salto Santiago (PR) e que, por isso, não se pronunciaria.
A direção do Porto do Pecém (CE) não se manifestou ontem sobre o protesto feito no local por movimentos de sem-terra.

FSP, 11/06/2008, Brasil, p. A6

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