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Sem chuva, interior de São Paulo vive pior seca em 70 anos

O Globo, País, p. 3
07 de Ago de 2014

Sem chuva, interior de São Paulo vive pior seca em 70 anos
Situação impede a navegação até de barcos de pescadores; hidrovia demite três mil

Germano Oliveira, Enviado especial

ARAÇATUBA E PEDERNEIRAS (SP) - Não é apenas a capital paulista que vive a maior crise no abastecimento de água da sua história. O rico interior do estado de São Paulo enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos. Não chove desde o final do ano passado. O Rio Tietê baixou em até oito metros na região de Araçatuba, a 467 quilômetros de São Paulo, interrompendo há dois meses o tráfego de barcaças na Hidrovia Tietê/Paraná, uma das maiores do país, já que há lugares onde o rio está no nível zero. Com isso, não será possível escoar parte das seis milhões de toneladas de grão transportadas por ali anualmente.
A situação impede a navegação até de barcos de pescadores, agravando a crise social. Já foram demitidas três mil pessoas que trabalhavam na hidrovia na região entre Araçatuba e Barra Bonita, com 42 municípios.
CHUVA SÓ EM OUTUBRO OU NOVEMBRO
A disputa pela água atinge proporções alarmantes, pois as seis hidrelétricas na região dão prioridade ao uso da água para a produção de energia elétrica e, assim, evitar um apagão. A agricultura também sofre e as destilarias de açúcar e álcool, com quebra na safra em até 25%, já dispensaram mil trabalhadores. E, para piorar, só há previsão de chuva para outubro ou novembro.
Essa bacia hidrográfica atinge 223 municípios, onde moram 27 milhões de pessoas que dependem da água do Tietê para viver. O nível do rio, porém, está baixo, sobretudo porque 65 de seus afluentes estão secos ou com um fio de água, segundo levantamento de Luiz Otávio Manfré, do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), do governo de São Paulo.
É o que ocorre com o Córrego Lafon, no distrito de Engenheiro Taveira, a cinco quilômetros de Araçatuba. O nível desse rio, afluente do Tietê, que já chegou a ter seis metros de profundidade, hoje não passa de um fio água fedorento, recebendo o esgoto de cinco mil pessoas que vivem em Taveira, além dos dejetos de um curtume da região.
- Só tenho um barco para meu uso, mas até o cobri com lona porque ele está ancorado a cem metros do rio, quando antes ficava no píer dentro d'água - disse José Carlos, estabelecido no Porto Bico de Pedra, às margens do Tietê.
Alagoano, Júnior Francisco da Silva, de 32 anos, há 13 no local, acha que o clima na região está parecido com o Nordeste, onde nasceu.
- Nem parece que ali passava um rio em que a gente pescava - disse.
A situação desses 65 rios secos se agravou porque este ano só choveu 50 milímetros (mm) na região, em julho, insuficiente para reduzir o déficit hídrico na bacia do Tietê. Em 2009, chegou a chover na região 2 mm. Em 2011, choveu 1.315 mm, caindo para 1.260 mm em 2012 e para 835 mm em 2013. De outubro de 2013 até agora, só choveu 715 mm. De janeiro a março, época de chuvas no estado, nem um pingo.
- O mais grave é que agora só há previsão para chover em outubro ou novembro. Se voltar a chover dentro da média histórica, ainda vamos levar meses para recuperar o déficit hídrico - disse Manfré.
PREJUÍZO DE R$ 200 MILHÕES
A água, sempre abundante em Araçatuba, devido à proximidade com o Tietê e pelo fato de a região estar acima do Aquífero Guarani, virou artigo de luxo. A empresa de abastecimento local explora dois bilhões de litros de água por mês, dos quais cinco milhões por dia do Tietê. Com a seca, o canal que leva ao rio assoreou. Foi preciso aprofundá-lo e, assim, evitar o racionamento de para os 185 mil habitantes da cidade.
Economicamente, a situação mais crítica foi a paralisação da Hidrovia Tietê/Paraná, que nasce em Goiás e vai até a Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, com 2,2 mil quilômetros, dos quais 800 quilômetros no estado de São Paulo. A hidrovia está paralisada desde maio, porque o Rio Tietê baixou até oito metros em alguns trechos, inviabilizando a navegação. Com a hidrovia parada, o prejuízo é estimado em R$ 200 milhões, segundo o Departamento Hidroviário (DH).

O Globo, 07/08/2014, País, p. 3

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