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Sem agronegócio fome não diminuiria

O Globo, Opinião, p. 6
16 de Set de 2010

Sem agronegócio fome não diminuiria

Thomas Malthus teria que rever seus prognósticos, alarmantes para a época (fim do século XVIII/início do XIX), se tivesse testemunhado o sensacional avanço da produtividade da agropecuária nas últimas décadas.

O agronegócio não pode mais ser conceituado como setor primário, no sentido de uma produção sem complexidade.

Nos tempos de Malthus, a agricultura tinha "rendimentos decrescentes", pois as melhores terras aráveis da Europa já haviam sido aproveitadas. Nos ensaios sobre a expansão demográfica (que efetivamente era mais acelerada que o aumento da produção de alimentos), Malthus não poderia vislumbrar a ampliação da fronteira agrícola no Novo Mundo e, posteriormente, os saltos tecnológicos do setor. Simultaneamente a esses avanços (em uma relação de causa e efeito difícil de ser avaliada), os mecanismos de mercado também se sofisticaram, o que facilitou a oferta de alimentos e o atendimento da demanda nos quatro cantos do planeta. O fortalecimento do agronegócio sem dúvida foi um dos fatores que impulsionaram as chamadas economias emergentes nas décadas mais recentes. A renda média de bilhões de pessoas aumentou, criando condições para a compra dos alimentos ofertados.

Programas oficiais de incentivo à agricultura e de combate à subnutrição também acumularam mais êxitos do que no passado, e o resultado é uma animadora notícia divulgada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Abastecimento (FAO): o número de pessoas com fome teria se reduzido de cerca de 1 bilhão para 925 milhões este ano, uma queda expressiva (quase 10%). A FAO estabeleceu como uma das metas do milênio diminuir para 10%, até 2015, o número de pessoas que passam fome nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Pelas estimativas do órgão, esse percentual estaria hoje em torno de 16%.

Para se atingir a meta proposta, a cada ano 100 milhões precisam deixar de ser subnutridas. O Brasil já não está mais distante de ser um dos países da América Latina onde a fome desaparecerá. Pesquisa feita pelo IBGE no ano passado mostrou que crianças abaixo do peso ou com crescimento fora dos padrões haviam se tornado uma exceção mesmo nas áreas mais pobres do país. O sobrepeso e a obesidade agora são motivos de igual preocupação, pois já se tornaram um problema de saúde pública pelo risco que representam.

China e Índia, os países mais populosos do mundo (cada qual com mais de 1 bilhão de habitantes), respondem por 40% do número de pessoas que ainda passam fome no planeta. Pelas altas taxas de crescimento econômico que ambos têm registrado, a oferta interna de alimentos poderá ser suprida por importações. O Brasil já está entre os fornecedores das duas nações, e terá condições de atendê-las nessa provável demanda futura, num processo que não envolve empresas estatais produtoras de alimentos. O mercado, tão criticado por governantes que esperam acabar com fome pela via assistencialista, é peça-chave na solução do problema.

O Globo, 16/09/2010, Opinião, p. 6

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