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Seguradoras preocupadas com o clima

CB, Economia, p. 9
21 de Jul de 2008

Seguradoras preocupadas com o clima
Companhias pagaram, nas últimas três décadas, 15 vezes mais sinistros por conta de desastres climáticos. Estudo da Allianz mostra que perdas entre 2010 e 2019 podem atingir US$ 41 bilhões anuais

Priscilla Borges
Da equipe do Correio

As conseqüências das mudanças climáticas estão atingindo em cheio os cofres das companhias de seguros. Nos últimos 30 anos, a média de pagamentos de sinistros por conta de desastres climáticos, como tempestades e enchentes, aumentou 15 vezes. Em 2005, o setor teve perdas de aproximadamente US$ 60 bilhões em decorrência de catástrofes naturais. E a previsão para o futuro é de que os gastos com sinistros dessa natureza continuem aumentando.

Pesquisa apresentada pela Allianz Seguros esta semana, durante o Fórum Internacional de Seguros, promovido pela empresa em São Paulo, estima que a média de perdas das seguradoras, entre 2010 e 2019 seja de US$ 41 bilhões ao ano. De acordo com Lutz Cleemann, coordenador da pesquisa e chairman da Allianz para o desenvolvimento sustentável, o pico de perdas nesse período pode atingir US$ 100 bilhões. "Não estamos inventando problemas. Dados científicos comprovam as mudanças. Houve um aumento no número de desastres naturais como tempestades, inundações, secas", destaca Cleemann.

O presidente da Allianz, Max Thiermann, acredita que o mercado segurador deve produzir estudos científicos e acadêmicos sobre o tema para ajudar as empresas a evitar prejuízos. A Allianz fechou uma parceria com a WWF para realizar esse tipo de pesquisas. "As mudanças climáticas eram pouco consideradas nos cálculos das seguradoras. Agora, as previsões futuras estão sendo utilizadas para avaliar o risco", acrescenta Cleemann. Os gastos das seguradoras com o pagamento de sinistros não têm acompanhado o crescimento da venda de apólices. Em 2007, o setor cresceu globalmente apenas 3,3%.

O coordenador da pesquisa defende que as companhias de seguro criem alternativas para reduzir os riscos e incentivar as empresas a adotarem tecnologias menos agressivas ao meio ambiente. No futuro, ele acredita que será possível dar descontos nas apólices, por exemplo, a consumidores que utilizem veículos cuja emissão de gás carbônico na atmosfera seja reduzida.

Karen Suassuna, analista do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da WWF Brasil, esclarece que ainda não há dados precisos sobre os impactos das mudanças do clima na economia no Brasil. Porém, destaca que os mapas de chuva e temperatura elaborados a partir de dados históricos mostram que os dias serão mais quentes e mais secos, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, a partir de 2071. "Destruir a Floresta Amazônica, por exemplo, significa prejudicar o ciclo de chuvas no sul da América Latina, onde há grande produção de grãos. Então, conter os impactos das mudanças não interessa só à preservação do planeta, mas aos setores ligados ao desenvolvimento do país", enfatiza.

Poucas contribuições
A Allianz e a WWF elaboraram um ranking que apontou os países do G8 (formado por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos) que mais contribuem para o acontecimento de mudanças climáticas e como eles estão se preparando para atingir as metas definidas no Protocolo de Kyoto. Eles precisam assumir a responsabilidade de reduzir as emissões de gás carbônico (entre 25% e 40%). Os Estados Unidos estão no fim da lista e são os que menos adotaram políticas para reduzir a emissão e ainda possuem forte dependência de petróleo e carvão como fonte de energia. Canadá e Rússia também foram mal avaliados.

Os melhores no ranking são Reino Unido, França e Alemanha. Mas eles ainda precisam acelerar as políticas para atingir as metas. Os países em desenvolvimento (o G5, formado por Brasil, China, Índia, México e África do Sul) também receberam avaliação no estudo, mas não foram colocados em ranking. O Brasil emite baixas quantidades de gás carbônico, por causa da geração de energia elétrica em hidrelétricas. As queimadas, no entanto, ainda são um desafio para o país.

Proteção maior para agricultura

Luciano Pires
Da equipe do Correio

Prevenir nunca foi uma característica do produtor rural brasileiro, mas essa cultura tende a mudar. A partir deste ano, grandes empresas estrangeiras deverão disputar espaços no mercado de resseguros, trazendo para o país planos de proteção personalizados e pacotes mais acessíveis. Já o Ministério da Agricultura promete ampliar os incentivos oficiais, incentivando o seguro rural. A expectativa é de que, em uma ou duas décadas, o país recupere o tempo perdido.

O Brasil é o último dos grandes celeiros mundiais onde o seguro não é prioridade para o campo. Em 2004 e 2005, o agronegócio nacional quase foi à falência. Secas fora de época e chuvas em excesso provocaram quebras de safra históricas, o que fez despencar a renda do agricultor e explodir o endividamento rural. Até hoje, alguns estados com forte vocação agrícola, como Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, sofrem os efeitos daquele período.

A modalidade de seguro rural tem como objetivo garantir a renda do produtor mesmo em épocas de crises. O foco está, sobretudo, nos imprevistos climáticos. Antes de iniciar o plantio, o agricultor calcula a área a ser segurada. Isso tem um custo que, em parte, é absorvido pelos incentivos oficiais. Uma outra parcela sai do bolso de quem planta.

O número
o impacto US$ 60 bi foram as perdas do setor em 2005 em decorrência das catástrofes naturais

CB, 21/07/2008, Economia, p. 9

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