OESP, Metrópole, p. C11
12 de Mai de 2007
Secovi critica projeto de energia solar
Construtoras rejeitam uso obrigatório em prédios novos, alegando que ela só é adequada para imóveis menores
Humberto Maia Junior
O Sindicato da Habitação (Secovi) vai se reunir com vereadores para propor mudanças no projeto de lei enviado esta semana à Câmara pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), que obriga novas edificações a utilizarem energia solar para obter pelo menos 40% do aquecimento de água. Para o diretor de Instalações do Secovi, Paulo Rewald, a obrigatoriedade só faz sentido para casas e prédios residenciais baixos. "Não sou contra a energia solar, mas devemos discutir sua viabilidade, para que não tenhamos mais uma lei que não pega." Ele disse que edifícios comerciais não devem sofrer alterações com a proposta, porque não têm banheiros com água quente.
Rewald vai dizer aos parlamentares que prédios com muitos apartamentos têm perfil incompatível com o aquecimento por energia solar. O primeiro problema citado por ele é a falta de espaço para a instalação das placas de captação em quantidade suficiente para atender à demanda. "Não tem como colocar nas coberturas."
O diretor do Secovi calculou que é preciso instalar placas de 1,3 metros quadrados por pessoa. "Num prédio de 18 andares, com quatro apartamentos por andar e cinco pessoas por apartamento, situação bastante comum em São Paulo, seriam necessários 468 m² de placas. Não existe esse espaço." Ele afirmou que é impossível aproveitar áreas do térreo. "Se constrói um prédio mais alto do lado vai criar sombra."
Rewald disse ainda que, mesmo que o edifício tenha condições de empregar energia solar, o custo será de cerca de R$ 2 mil por apartamento. Outro problema apontado é a necessidade de o sistema de aquecimento ser centralizado. Em prédios novos, cada apartamento tem o próprio medidor de água. "Se for adotado o sistema centralizado, sempre vai haver a discussão entre moradores que consomem mais e os que consomem menos água."
Rewald também disse que São Paulo não tem muitos dias com insolação suficiente para geração de energia. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia, a cidade teve, de 1961 a 1990, uma média de 1.732 horas de insolação por ano. A média nacional é de 2.200.
Para o físico Délcio Rodrigues, que trabalha com planejamento energético e é associado à ONG Vitae Civilis, o projeto de lei é viável. Ele cita o exemplo de Barcelona, onde todas as edificações são obrigadas a ter energia solar. "Em São Paulo a lei é suavizada."
O pesquisador admite que alguns prédios não têm espaço para instalar placas de captação para atender aos moradores. "Mas a maioria tem, até porque a lei não exige 100% da água aquecida por energia solar."
O presidente da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara, Dalton Silvano (PSDB), considera que a proposta é importante por colocar em debate o uso de energia limpa e renovável. "Temos de aumentar a nossa matriz energética, ainda mais que o País vive uma crise nessa área." Silvano não acredita que os métodos de edificação sejam um obstáculo. "Nossa engenharia será capaz de achar soluções."
O vereador Paulo Fiorilo (PT) elogiou a proposta, mas disse que é necessário avaliar seu impacto. Fiorilo tem dúvidas sobre como será fiscalizada a lei e sobre como os órgãos públicos, municipais, estaduais e federais, vão se adaptar a ela. "Minha primeira impressão é positiva", afirmou o petista. "Mas precisamos ouvir especialistas e a construção civil."
OESP, 12/05/2007, Metrópole, p. C11
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