VOLTAR

Seca prolongada faz produtor rural disputar água no interior de São Paulo

OESP, Vida, p. A29
26 de Set de 2010

Seca prolongada faz produtor rural disputar água no interior de São Paulo
Ambiente. Agricultores e pecuaristas captam água em riachos e córregos para irrigar a plantação ou dar aos animais e são notificados pela Polícia Ambiental. Longo período sem chuva afeta a vida da população em geral - há lugares onde já há racionamento

José Maria Tomazela

A estiagem que atinge o interior de São Paulo tornou a água objeto de disputa em alguns municípios. Por causa da seca, produtores rurais passaram a captá-la em riachos e córregos para irrigar a plantação ou dar de beber aos animais e foram denunciados à Polícia Ambiental por outros que se sentiram prejudicados. A falta de chuva afeta a vida em geral - há locais que já enfrentam racionamento.
Em Itapetininga, a 165 quilômetros da capital, a Polícia Ambiental notificou dois produtores rurais. Eles foram obrigados a suspender a retirada da água de ribeirões que deságuam no Rio Guareí, sob pena de apreensão dos equipamentos. A água era usada para abastecer centros de irrigação em lavouras de milho e feijão. De acordo com o comandante da 3.ª Companhia de Policiamento Ambiental, Edson Moraes, a fiscalização foi feita a pedido do Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado (Daee) por falta de autorização para a captação.
Agricultores que irrigam lavouras a partir de afluentes do Rio Itapetininga também tiveram de suspender a captação porque as bombas de sucção já não alcançam a água. Segundo Moraes, os mananciais são afluentes da represa de Jurumirim, na região de Avaré. Como o nível da represa está muito baixo, as águas passaram a ser drenadas para o reservatório, deixando os leitos quase secos.
O produtor Paulo Nunes, do Sítio Fazendinha, tem açude próprio para irrigar 100 hectares de milho e feijão, mas a água está acabando. "Se não chover logo, terei de desligar os centros de irrigação", lamenta.
Em Cesário Lange, a 146 quilômetros da capital, um produtor rural foi obrigado a retirar uma barragem de pedras que havia feito no Ribeirão Aleluia para facilitar a captação. A água era usada para irrigar pomares de manga e laranja, mas houve reclamação de vizinhos prejudicados.
Produtores de verduras de Rio Claro, região de Piracicaba, também estão na mira da Polícia Ambiental. Os Rios Corumbataí e Claro, utilizados para irrigar as plantações, também abastecem a cidade e estão com os níveis comprometidos.
Dia a dia. A caseira Juraci Barbosa faz as contas de quantas vezes por dia carrega baldes de água para abastecer o bebedouro improvisado, na Fazenda Santa Helena, zona rural de Pereiras, a 161 quilômetros de São Paulo. "Dá mais de 20 litros por cabeça."
Não chove há 72 dias na região e, com o açude quase seco, os animais que se aproximam da água acabam atolando no barro. Ela passou a usar o poço doméstico, que também abastece a casa, para matar a sede do gado. Com tanto uso, o nível do poço baixou e a bomba queimou. "Enquanto não chega a bomba nova, tiro água no braço", conta.
Na região de Pereiras, até quinta-feira, o índice de chuvas na região era de 5 milímetros, menos de 10% da média do mês nos últimos anos. "Nem chuva teve, caíram garoazinhas", relata o pecuarista Silvano da Paz, do bairro dos Braganceiros. A escassez de água fez com ele que suspendesse uma integração de frangos de corte. O aviário permanece vazio. Com o tanque quase sem água, os 70 bois se equilibram no barranco para matar a sede. O nível baixo e a falta de oxigenação levaram à proliferação de algas no açude. "Pior é o pasto seco, com zero de alimento."
Famintos, os bois comem até os sacos de ráfia usados para armazenar ração. Fazendas vizinhas registraram mortes de reses por fome e sede. Outros produtores temem faltar água para frangos e suínos engordados em uma centena de granjas espalhadas pela zona rural.
"Mudei o ponto de captação duas vezes e o fio de água está cada vez mais ralo", diz o criador João Oliveira, que trabalha em uma empresa avícola. No Ribeirão das Conchas, que abastece Pereiras, a seca cortou o fluxo da água. O operário Antonio Abrantes corta caminho pelo leito de pedras com sua bicicleta e aproveita as poças para pescar. "Até os peixes estão com sede", brinca, exibindo um curimbatá que acabou de apanhar.
Com a captação suspensa, os 7 mil moradores do município convivem com o racionamento de água há 22 dias. A cidade passou a ser abastecida por antigos poços artesianos, mas a água não é suficiente. "Chega fraca, sem força para subir até o piso de cima", queixa-se o comerciante Ricardo Ribeiro, morador de um sobrado. O serviço municipal de água construiu às pressas mais um poço artesiano, mas a operação ainda depende de licença ambiental. Um trator-tanque tem levado água até as casas. De acordo com José Pereira, funcionário da prefeitura, há muito tempo não ocorre uma estiagem tão rigorosa. "Ao ponto de secar o ribeirão, isso nunca aconteceu."
Em Altinópolis, no norte do Estado, a 332 quilômetros da capital, a estiagem afeta o principal apelo turístico. O ribeirão que forma a cachoeira do Itambé, com 60 metros de salto, secou e outras 34 quedas d"água da cidade estão quase desaparecendo.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100926/not_imp615415,0.php

Incêndios também são problema na região

A temporada de estiagem traz o agravante das queimadas. Este é o mês de setembro com o maior número de focos de incêndio no Estado de São Paulo desde 2006. Até anteontem, São Paulo havia registrado 754 focos de calor. No mesmo período de 2006 foram 500 incêndios. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Embora a queima da palha da cana-de-açúcar esteja sendo substituída pela colheita mecanizada na maior parte do Estado, a prática ainda é comum entre produtores. Há também incêndios de caráter criminoso, em que o fogo se espalha sem controle.
O aumento dos focos de incêndio é cenário comum em todo o País. Do início de janeiro até anteontem, o Brasil acumulava 93 mil focos - um crescimento de 225% em relação ao mesmo período de 2009, segundo o satélite Noaa-15, do Inpe. É a maior quantidade de queimadas desde 2007, quando a seca prolongada levou o País a registrar 106 mil focos no mesmo período.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100926/not_imp615418,0.php

OESP, 26/09/2010, Vida, p. A29

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.