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Saterés vão ganhar escola diferenciada em Manaus

A Crítica-Manaus-AM
Autor: Ana Celia Ossame
27 de Nov de 2001

Eles deixaram para trás as terras demarcadas, as aldeias, o roçado e a pesca, em busca da realização de um sonho na cidade grande: educar os filhos na cultura dos brancos para torná-los profissionais sem perder o idioma nativo. Instalados há mais de sete anos na área verde do Conjunto Santos Dumont, Zona Centro-Oeste, índios sateré-maués reivindicam uma escola diferenciada, como já existe nas aldeias do Andirá e Marau, nos municípios de Barreirinha e Maués.

"Nós queremos viver aqui para eles aprenderem o que não aprendemos, que cresçam e sejam profissionais, mas que nunca deixem de ser índios", afirma o cacique Manuel Luís da Silva, 42, sem saber que uma resolução, recentemente aprovada pelo Governo do Estado, garante o atendimento da reivindicação, conforme explica Arlene Bonfim, gerente do programa de Educação Indígena da Secretaria de Estado da Educação e Qualidade de Ensino (Seduc). Arlene promete ainda para o próximo ano a construção da escola.

Para o cacique Manuel Luís da Silva, vir para a cidade foi um desafio assumido por 15 famílias, que vieram e foram se instalando aos poucos na área verde do Santos Dumont. Mesmo assim, não admite ser confundido com branco. "Somos saterés em qualquer lugar onde moramos, seja aqui no Brasil ou no exterior", afirma.

A justificativa pela saída de Barreirinha é econômica, social e política. "Nossa terra é grande, mas nós não temos condição para viver bem nela porque falta comida, remédios, roupas e por isso viemos para cá", diz o cacique, afirmando que as grandes distâncias, a carência material e financeira das aldeias impede o povo de viver bem nos municípios interioranos. Manuel não se incomoda com as virtuais críticas dadas a eles pela decisão de "invadir" uma terra no meio da civilização branca. "Essas terras eram todas de índios, nós temos os mesmos direitos", acrescenta.

A um passo de obter o título definitivo da área, onde estão instalados em casebres de madeira e até em casas de alvenaria, só quecom o piso de chão batido, Manuel quer a escola para tentar segurar os laços entre a cultura sateré e a cultura dos brancos. "Sei que nós podemos dar as nossas crianças essa educação, para eles aprenderem a nossa língua e continuar a ser saterés para o resto da vida", explica ele.

O primeiro passo neste sentido foi dado com a ida do professor Jeremias Capote Barbosa para um curso de formação no Projeto Pyra-Yauara, que vai acontecer no município de Barreirinha (a 328 quilômetros de Manaus) a partir da próxima semana, durante 45 dias. Segundo a gerente do programa, Arlene Bonfim, como seria difícil prepará-lo aqui, ele vai se reunir a outros professores saterés para fazer o curso em Barreirinha. "Eles estão respaldados na solicitação e a gerência de educação já planejou para o próximo a construção da escola", disse.

De acordo com ela, a Resolução no 11, de 13 de fevereiro deste ano, ampara a escola indígena no perímetro urbano, garantindo o direito a uma educação diferenciada, específica e intercultural.

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