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Satélite combate roubo de madeira

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
Autor: Mário Adolfo
15 de Jun de 2003

De desenvolvimento sustentado ao rastreamento, via satélite, de caminhões com mogno para evitar o roubo de carga, passando pela língua solta do vice-presidente José Alencar, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, responde tudo. E sequer pára pra pensar sobre a pergunta feita pelo repórter e alinhavar o que vai responder. A resposta está na ponta da língua. É como seu discurso, que quase sempre vem bordado de dignidade e transparência, fizesse parte de um script que ela estuda e decora antes de sair de casa. Nada disso. A menina do Acre, que alimentou a esperança com a seiva da floresta e foi tecida com a fibra dos povos excluídos, aprendeu cedo que é possível tirar o sustento da natureza, sem desfechar golpes mortais. O maior exemplo de sua vontade política está na estratégia para exploração florestal que o Ministério do Meio Ambiente está lançando agora. A exploração de mogno, por exemplo, proibida desde 2001 no País, voltará a ser permitida a partir de julho, mas somente em áreas com projeto de manejo aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Explicou a ministra que para comercializar mogno no Brasil e no exterior será indispensável a comprovação de que a madeira saiu de área de manejo.

- Para combater a exploração ilegal o governo muda a fiscalização e vai monitorar as cargas de mogno via satélite - explicou a ministra.

Isso quer dizer que o transporte das toras de mogno das áreas de manejo até o destino final será monitorado via satélite, um sistema como o de rastreamento de caminhões para evitar o roubo de carga. "Isto é, o controle será em tempo integral", garantiu Marina Silva.

Na entrevista que concedeu ao editor de Primeiro Plano, na sua passagem por Manaus, a ministra falou também da controvérsia que o vice-presidente tem gerado ao disparar verdadeiros torpedos contra a política monetária do Banco Central, principalmente no que diz respeito à taxa de juros.

- O presidente Lula tem o diálogo aberto e franco com o nosso vice-presidente, que é altamente importante e relevante para o nosso processo político. Tanto no momento em que nos ajudou a ganhar as eleições, quanto agora, no momento em que nos ajuda a governar - diz a ministra, manifestando mais uma vez o equilíbrio.

A entrevista:

Em Tempo - Ministra, qual o maior desafio hoje de seu Ministério?

Marina Silva - Temos o desafio de utilizarmos de forma sustentável os nossos recursos naturais para não repetirmos aqui, aquilo que já aconteceu no Sudeste do País, com graves prejuízos para a Mata Atlântica, que hoje só tem 7%. Nós temos uma biodiversidade fantástica, temos uma potência hídrica e uma população altamente capaz de dar respostas adequadas para os desenvolvimentos social e cultural.

Em Tempo - Ministra, a partir de agora o Ibama vai monitorar a exploração de madeira através de satélite. Como é que funciona o sistema?

Marina Silva - Na verdade nós estamos fazendo todo um trabalho para que a exploração florestal, o uso sustentável de nossos recursos florestais aconteçam sem a velha lógica da devastação. Para isso, além de termos incluído o mogno no anexo 2 da SAE, nós estamos com um sistema de monitoramento para o acompanhamento em tempo real da exploração dessa espécie.

Em Tempo - O sistema de rastreamento de caminhões é para evitar o roubo de carga ou controla somente a retirada da madeira, não acompanhando as toras até seu destino comercial?

Marina Silva - O monitoramento acontecerá desde a retirada, lá na floresta, até o momento de chegada para o beneficiamento. E nós queremos que a nossa madeira possa ser utilizada agregando valor e, sobretudo, gerando possibilidade de vida para a nossa região. Mas sem os problemas dos grandes impactos que são causados pela exploração predatória.

Em Tempo - A senhora anunciou na abertura do Encontro da Amazônia o novo destino para o mogno apreendido. Como isso deverá ser feito?

Marina Silva - Conseguimos dar uma destinação para o mogno apreendido. Nós temos cerca de 60.000 m³ de mogno que foram extraídos de forma irregular, sabendo que o primeiro lote de 14.500 m³ já foi doado para uma entidade de altíssima relevância, de alta confiabilidade que venderá esse mogno e reinvestirá o dinheiro em projetos sociais e ambientais beneficiando as populações locais que foram afetadas por essa exploração irregular. Essa entidade é a Fave e terá o acompanhamento do governo federal, do Ministério Público.

Em Tempo - Para comercializar mogno no Brasil e no exterior é indispensável a comprovação de que a madeira saiu de área de manejo. Com essas novas medidas será possível combater a exploração ilegal?

Marina Silva - Nós estamos agindo baseados numa determinação da Justiça. Isso vai inaugurar uma nova fase no tratamento dos problemas ambientais. Tanto na punição quanto na reparação dos danos ambientais.

Em Tempo - Essa preocupação do Ministério do Meio Ambiente é só com o mogno ou serve também para outros tipos de madeira?

Marina Silva - Essa preocupação com o mogno vai servir para organizar as outras espécies que precisam ser exploradas com outros critérios de sustentabilidade. E qualquer que seja o processo de madeira apreendida de forma ilegal, nós estamos criando um processo para que ela seja utilizada de forma correta em benefício da sociedade.

Em Tempo - A partir de agora estão suspensos os leilões de madeiras ilegais apreendidas?

Marina Silva - De certa forma o leilão alimentava o círculo vicioso dos contraventores que muitas vezes, eles próprios, acabam participando para comprar a madeira de volta. É por isso que nós resolvemos doar a madeira.

Em Tempo - Como administrar o comportamento do vice-presidente José Alencar que insiste em contestar o governo Lula na questão das altas taxas de juros?

Marina Silva - O vice-presidente é uma pessoa que tem maturidade política, é uma pessoa comprometida com nosso programa de governo e ele tem conversado com o ministro Palocci (Antônio, da Fazenda), com o presidente Lula e esse processo vai se definir dentro do governo. Nesse momento todos querem a redução dos juros. O problema é que nós estamos vivendo uma situação estrutural da nossa economia e que haverá o tempo necessário para que essa redução aconteça. Mas o presidente Lula tem o diálogo aberto e franco com o nosso vice-presidente, que é altamente importante e relevante para o nosso processo político. Tanto no momento em que nos ajudou a ganhar as eleições, quanto agora, no momento em que nos ajuda a governar.

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