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São Paulo sediará conferência mundial sobre urbanismo

FSP, Cotidiano, p. C1
Autor: BURDETT, Richard
02 de Dez de 2008

São Paulo sediará conferência mundial sobre urbanismo
Diretor do Urban Age diz que impacto de cidades no planeta é problema a ser compartilhado
Principal evento internacional de urbanismo começa amanhã com cerca de 90 especialistas vindos de 25 cidades de 14 países

Mariana Barros
Da reportagem local

A cidade que não pára fará uma pequena pausa para olhar para si mesma. De quarta a sexta-feira, São Paulo sediará o Urban Age -principal conferência internacional de urbanismo do mundo-, que chega à edição brasileira após passar por metrópoles como Londres, Nova York, Mumbai e Joanesburgo. O evento terá a participação de cerca de 90 especialistas, entre urbanistas, sociólogos, políticos e especialistas em segurança e em mobilidade, provenientes de 25 cidades e de 14 países. Fruto de uma parceria entre a LSE (London School of Economics) e o Deutsche Bank, a conferência premiará ainda um dos 12 projetos finalistas desenvolvidos na capital paulista. Richard Burdett, diretor do evento, professor da LSE e fundador do LSE Cities, que pesquisa as ligações entre arquitetura, desenho urbano e sociedade, falou à Folha.

Folha - Qual a importância de haver tantos olhares internacionais voltados para São Paulo?

Richard Burdett - Talvez não seja o primeiro debate internacional sobre São Paulo, mas o primeiro interdisciplinar. Uniremos diferentes departamentos, e não só arquitetos falando com arquitetos. É por isso que acho que muitos políticos querem vir escutar, e não só falar.

Folha - Como as grandes cidades deixaram de ser um problema municipal para virar questão global?

Burdett - Há duas questões que afetam todas as cidades do mundo: as mudanças climáticas e a desigualdade social. Metade da população do mundo vive em cidades e uma em três pessoas que vive em cidades vive em favelas. Se isso continuar, serão bilhões de pessoas vivendo em condições inaceitáveis. Uma das boas coisas de vir para a América do Sul é que se vê um monte de idéias positivas sobre as cidades. Em Paraisópolis, na Vila Leopoldina e outros lugares em que estive, vi muito mais idéias positivas, de como melhorar a cidade de dentro para fora, do que uma situação de desespero, que é o que você tem ao andar por exemplo por Joanesburgo ou Mumbai -você quer simplesmente recomeçar do zero.

Folha - E as mudanças climáticas?

Burdett - As cidades do mundo, juntas, consomem 75% da energia mundial. Também contribuem com 75% para a poluição e para a emissão de dióxido de carbono. O que as cidades fazem tem um impacto tremendo no planeta, e é aí que todas compartilham um mesmo problema. São Paulo, comparada a outras cidades, já tem muito: está em um país rico, onde o debate está maduro, com pessoas sofisticadas no governo.

Folha - Moradia é outra questão?

Burdett - Caracas, Rio e São Paulo têm muitos problemas de assentamento informal ou irregular. A questão é como lidar com isso. O que começa a acontecer são investimentos em transformar o que já existe, tornando aquele lugar mais digno. Mas isso significa que é preciso ter um reconhecimento por parte do governo de que o lugar onde as pessoas moram é algo importante.

Folha - Segurança também é uma questão política?

Burdett - Claramente a segurança está ligada à desigualdade social. E isso é de novo uma escolha política, e não um problema da cidade. Não acho que o governo municipal consiga resolver a desigualdade. O federal pode e acho que a forma como se auxilia as pessoas das classes mais baixas é uma questão ideológica, mas isso leva 30 anos para mudar.

FSP, 02/12/2008, Cotidiano, p. C1

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