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São Paulo é a principal beneficiária da exploração da Amazônia, diz estudo

Amigos da Terra - www.amazonia.org.br
Autor: Bruno Calixto
17 de Out de 2008

A exploração não sustentável da Amazônia alimenta o consumo desenfreado das grandes metrópoles brasileiras, principalmente o de São Paulo, de acordo com o relatório "Quem se beneficia com a destruição da floresta?", produzido pelas ONGs Repórter Brasil e Papel Social. O estudo foi apresentado na terça-feira (14) no seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo - Amazônia, na capital paulista.

"A destruição da Amazônia tem uma forte relação com a economia de mercado. Na ponta da cadeia produtiva, diversos atores se beneficiam. Madeireiras, frigoríficos e agroindústrias estão diretamente ligadas ao problema, pois compram de fornecedores que estão na linha de frente do desmatamento. Posteriormente, distribuem produtos industrializados para uma ampla rede de compradores. O resultado final chega à casa dos paulistanos", diz o relatório.

Para fazer o estudo, as ONGs Repórter Brasil e Papel Social limitaram a análise na bacia do rio Xingu e adjacências, e direcionaram o foco em setores estratégicos ao desenvolvimento da Amazônia e à sua relação com a cidade de São Paulo. Os setores analisados foram a pecuária bovina, extrativismo vegetal, plantio de soja e outros grãos. Apesar dessa restrição, o relatório diz que nessa região e nesses setores é possível ter uma amostra do que ocorre no restante da Amazônia.

No setor de frigoríficos, o relatório aponta a falta de controle da origem da carne bovina. "Hoje, é impossível afirmar com segurança que até mesmo a carne de frigoríficos localizados fora do bioma amazônico não foi obtida a partir de animais que pastavam em áreas situadas na principal floresta do planeta. Isso porque existe um comércio bastante freqüente entre os próprios frigoríficos".

Na questão do extrativismo, denuncia a prática de "esquentar" as madeiras ilegais, burlando a elaboração do plano de manejo. No setor da soja e grãos, o relatório reconhece avanços, mas diz que as lavouras na região da Amazônia ainda não podem ser consideradas satisfatórias do ponto de vista ambiental. "Grãos produzidos por fazendas presentes na "lista suja" do trabalho escravo ainda abastecem armazéns. Propriedades e produtores com passivos ambientais também integram a lista de fornecedores de grandes empresas".

Estudo de caso
O relatório apresenta diversos estudos de casos de grandes empresas, nos setores da pecuária bovina, extrativismo vegetal e grãos. Entres os que mais chamam a atenção estão o caso da Bunge, que adquiriu soja de uma fazenda embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o do frigorífico Marfrig, que manteve relações comerciais com dois pecuaristas envolvidos com trabalho escravo, e o da empresa de móveis Sincol, que controla uma madeireira no Mato Grosso e é acusada de grilagem de terras.

Além disso, o relatório analisa diversos financiamentos controversos, como os US$ 30 milhões que o Grupo André Maggi (Amaggi), empresa do governador do Mato Grosso, recebeu da Corporação Financeira Internacional (IFC). "Apesar de reconhecer esforços da empresa para melhorar seus processos de monitoramento e mitigação, o relatório observa que 40% das compras da Amaggi não são objeto de qualquer controle". O relatório também questiona o financiamento da IFC de US$ 90 milhões ao Grupo Bertin, um dos maiores frigoríficos do país com forte atuação na Amazônia.

FSC
Um ponto polêmico levantado pelo relatório diz respeito à certificação florestal. Repórter Brasil acusa algumas empresas de utilizar a certificação emitida pela Forest Stewardship Council (FSC) como uma "garantia de ficha limpa" em relação a irregularidades na cadeia produtiva. "Há casos em que se deixa de especificar, explicitamente, qual é o percentual de madeira que está certificada e qual é exatamente o lote certificado. O selo, então, torna-se bastante conveniente até mesmo para empresas com extensa ficha de problemas ambientais", diz o estudo.

Segundo Luís Fernando Guedes Pinto, secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), presente na apresentação do estudo, o selo de certificação garante que o produto que o possui foi feito a partir de matéria-prima e processo produtivo sustentáveis. Apesar disso, é "possível que algumas empresas que tiveram o selo concedido para determinados produtos utilizem esse fato em uma mensagem publicitária mal formulada".

Para o diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira Roberto Smeraldi, o estudo mostra a necessidade da certificação. "Parece-me que reforça a demanda para certificação, ao mostrar que não dá para certificar apenas uma parcela", diz. A organização possui projetos que estimulam a compra de produtos florestais certificados e lidera uma iniciativa para propor uma certificação no setor agropecuário.

Veja o estudo na íntegra:
Conexões Sustentáveis São Paulo - Amazônia - Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?
Repórter Brasil e Papel Social
(http://www.amazonia.org.br/arquivos/288311.pdf)

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