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Santa Catarina sai em defesa do mero

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A7
12 de Jan de 2004

Santa Catarina sai em defesa do mero

Com verba de R$ 70 mil, programa vai estudar espécie e conscientizar pescadores locais. Os meros, peixes de grande porte de água salgada - chegam a medir 2,5 metros e pesar 400 kg - são agora o emblema de um projeto preservacionista que terá início em Santa Catarina e deverá, dentro de cinco anos, abranger todo o Brasil. No último sábado, foi lançado em São Francisco do Sul (SC) o projeto Meros do Brasil, fruto de uma parceria entre a Petrobras Transportes - Transpetro, a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a ONG Vidamar e a empresa de mergulho Sub-Marine.

A Transpetro está destinando ao projeto recursos iniciais da ordem de R$ 70 mil, que custearão as despesas com equipamentos, manutenção e profissionais envolvidos na iniciativa. As ações abrangem programas de educação ambiental junto à comunidade, fomento a programas de ecoturismo e pesquisas biológicas sobre a espécie, incluindo o mapeamento dos pontos de agregação na região sul do País, a marcação dos exemplares com o objetivo de reunir informações acerca de seus deslocamentos, tempo de presença na costa sulina, tamanho, entre outros itens. O embrião do projeto foram os estudos sobre os meros que começaram a ser desenvolvidos pela Univali em 2001, tomando por base a informação de que, com o passar dos anos, a incidência do peixe vinha diminuindo na região da baía de Babitonga, em São Francisco do Sul. "Neste primeiro ano, a ênfase será na educação ambiental, de modo a alertar a comunidade e os pescadores sobre a importância da não captura do mero", explica Adnelson Borges de Campos, gerente de segurança, meio ambiente e saúde da Transpetro. Atualmente, são 18 profissionais diretamente envolvidos no projeto, entre pesquisadores, pescadores e estagiários de meio ambiente da Transpetro.

Proibição

A pesca, a posse, transporte e comercialização dos meros está proibida na costa brasileira por força da portaria 121/2002 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que estabeleceu um prazo de cinco anos até que existam estudos mais aprofundados sobre a espécie, que forneçam subsídios para futuras medidas de proteção. A portaria baseou-se em informações da lista internacional de espécies ameaçadas de extinção divulgada pela instituição União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), já que no Brasil não existe ainda uma listagem de espécies de peixes ameaçadas de extinção.

Segundo Campos, muitos pescadores pescam o mero em sua fase juvenil, quando é freqüentemente confundido com badejos e vendido em peixarias locais. A pesca submarina, quando praticada fora das regulamentações, também ameaça a espécie. "Cerca de 70% dos meros são abatidos na pesca submarina", diz. No entanto, não existe uma atividade pesqueira direcionada para a captura do mero, ao contrário do que ocorre com a anchova e a curvina, pescados tradicionalmente capturados na região de São Francisco do Sul. O fato que deve auxiliar nas ações preservacionistas, na visão de Maurício Hostim, professor do departamento de biologia da Univali e um dos coordenadores do projeto Meros do Brasil. "Não é um peixe de conflito, como a sardinha, cuja exploração gera constantes embates entre preservacionistas, pescadores e indústria", ressalta o professor.

Senhor das pedras

Conhecido pelos pesquisadores como o "senhor das pedras", o mero vive em estuários em manguezais, costões rochosos e até mesmo recifes artificiais, como plataformas de petróleo. De acordo com Maurício Hostim, a intenção do projeto Meros do Brasil é usar o peixe como uma bandeira para a preservação dos ecossistemas em que ele vive. "Queremos fazer do mero um emblema para a preservação de ambientes como os manguezais e os costões rochosos, constantemente ameaçados pela poluição e especulação imobiliária", diz o professor.

O mero é considerado uma espécie de topo de cadeia, e os pesquisadores acreditam que ele possui um papel importante na regulação das populações do meio onde vive, por se alimentar de outros peixes, moluscos e invertebrados. "A partir de informações mais detalhadas sobre o mero, poderemos traçar planos de preservação para outros representantes da espécie em risco de extinção", diz Hostim.

A unidade da Transpetro em São Francisco do Sul existe há 27 ano e tem prestado apoio a projetos focados em meio ambiente e responsabilidade social, como o programa de preservação da Reserva do Arvoredo, próxima à capital Florianópolis, realizado em parceria com o Ibama e a ONG Aprender. Outro projeto com a participação da empresa é o Atlas Ambiental da região de Joinville, um mapeamento das condições ambientais, de uso da água e infra-estrutura dos municípios do nordeste catarinense.

kicker: Peixe será bandeira para a preservação de ecossistemas como mangues e costões

GM, 12/01/2004, Saneamento & Meio Ambiente, p. A7

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