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A sangrenta disputa por diamantes

Zero Hora-Porto Alegre-RS
19 de Abr de 2004

Descoberta de jazida em reserva de Rondônia deflagrou guerra entre índios e garimpeiros, matando pelo menos 29 pessoas

Uma jazida de diamantes está por trás do sangrento confronto ocorrido entre garimpeiros e índios da etnia cinta-larga na reserva de Roosevelt, na divisa entre os Estados de Rondônia e de Mato Grosso. Desde a descoberta de uma jazida no local, em 1999, as invasões da área indígena e os conflitos se sucederam, tendo seu capítulo mais chocante na Semana Santa, quando 150 garimpeiros enfrentaram os índios próximo ao ponto de mineração. Na última sexta-feira, foram localizados, mutilados, 26 corpos de mineradores. Outros três já haviam sido encontrados no dia 10.

Cerca de 150 garimpeiros teriam invadido a reserva indígena e sido atacados pelos índios. Os mineradores pretendem retomar a exploração da jazida, enquanto os índios querem ter direito sobre as riquezas que estão no território de 2,7 milhões de hectares.

Ontem, sem sucesso, a Polícia Federal montou uma operação para resgatar os corpos da mata fechada. A chuva não deixou. A tentativa envolveu quatro helicópteros e 60 pessoas.

- O local é de difícil acesso, uma mata muito densa. Infelizmente, a chuva deste domingo atrapalhou ainda mais o resgate. Mas estamos com tudo preparado - disse o delegado da Polícia Federal, Mauro Spósito.

Segundo Spósito, o resgate dos garimpeiros mortos na reserva será dividido em duas etapas. Um delas começa na tarde de hoje e, a outra, na manhã de amanhã. Trinta agentes da Polícia Federal e 15 técnicos da Funai permanecem na área, cuidando dos corpos e abrindo uma clareira de um hectare para o helicóptero que levará os corpos ao IML descer.

De acordo com o delegado - que coordena a operação de buscas na reserva há 10 dias -, ainda não é possível saber exatamente quantos corpos foram encontrados. Até o momento, a PF calcula em 29 o número de mortos (26 corpos encontrados na sexta-feira e outros três no dia 10). Todos eles estavam em avançado estado de decomposição pelo tempo e pela ação de animais.

Cerca de 50 índios fugiram da região por medo de represálias

Os corpos estariam distantes cerca de três quilômetros da Grota do Sossego, onde era feita a extração de diamantes. Devido ao avançado estado de decomposição dos cadáveres, parentes das vítimas precisarão ser levadas até o Instituto Médico Legal de Porto Velho para ajudar na identificação. Para isso, o governo de Rondônia anunciou que vai colocar uma frota de ônibus à disposição dos familiares, cuja maioria mora no município de Espigão do Oeste (RO), a 500 quilômetros da capital do Estado e a cem da reserva conflagrada.

- Infelizmente, para cada um desses homens mortos, teremos que enviar pelo menos um familiar para ajudar na identificação dos corpos - disse o delegado da Polícia Civil em Espigão do Oeste, Raimundo Mendes.

Cerca de 50 índios da etnia cinta-larga fugiram, no sábado, da cidade de Espigão do Oeste. De acordo com o comandante da Polícia Militar, na região, Firmino Aparecido, homens, mulheres e crianças deixaram as próprias casas porque foram ameaçados de morte por garimpeiros. Eles disseram que vão buscar ajuda na sede da Funai em Cacoal, cidade próxima.

Os garimpeiros estão impacientes. Eles não acreditam mais na Polícia Federal. Disseram que, se os agentes não retirarem os corpos hoje, outros homens vão entrar lá, com a imprensa, para filmar os mortos, conta o comandante da PM.

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