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Salles defende novo sistema de alerta de desmatamento

O Globo, Sociedade, p. 25
01 de Ago de 2019

Salles defende novo sistema de alerta de desmatamento
Ministro critica interpretação de dados de ferramenta que monitora devastação do bioma; diretor de instituto denuncia falta de diálogo com Ibama

Renato Grandelle

Em meio a críticas sobre a escalada da devastação da Amazônia , o ministro do Meio Ambiente , Ricardo Salles , criticou a forma como os índices medidos pelo sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) são interpretados e defendeu a criação de um novo sistema de monitoramento.

O Deter é uma ferramenta criada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ) para alertar para evidências de alteração da cobertura florestal, municiando operações de órgãos como o Ibama . A taxa de desmatamento é calculada por outro índice, o Prodes , divulgado anualmente.

Segundo o Inpe, os alertas de desmatamento em junho atingiram 920,4 km². No mesmo mês em 2018, este índice foi de 488,4 km². Comparando ambos os dados, trata-se de um aumento de 88%.

- (Esta entrevista) é para dizer que realmente os percentuais que foram divulgados na imprensa não estão corretos, não porque o Inpe errou, mas porque quem os interpretou o fez de maneira equivocada - criticou Salles, em entrevista coletiva improvisada. - Daqui pra frente, é construir um sistema que seja mais rápido na detecção, que permita orientar as ações de controle e comando.

Embora tenha reconhecido que o desmatamento aumentou, Salles indicou supostas "distorções numéricas" do Deter, como a duplicidade da contagem de áreas e o atraso para computação de alertas. O diretor do Inpe, Ricardo Galvão , concorda que o Deter não foi criado para medir o desmatamento, mas sublinha que o número de alertas aumentou 88%.

Galvão, no entanto, lembra que Salles já culpou o Deter pela falta de ações do Ibama contra o desflorestamento. É, para ele, uma "mentira fajuta".

- O Deter foi criado pela ministra Marina Silva , no governo Lula , e, desde então, graças aos alertas, houve uma redução violenta no desmatamento. Mas o ministro Salles acabou com a interlocução entre Ibama e Inpe , provocando uma queda no número de operações.

Secretário-executivo do Observatório do Clima , Carlos Rittl alerta que o número de operações de fiscalização ambiental do Ibama na Amazônia caiu 70% de janeiro a abril em relação ao mesmo período do ano passado.

- O Deter tem um grau de precisão menor do que o usado pelo Prodes para medir o desmatamento, então ele oferece uma análise conservadora sobre a perda da cobertura florestal. Assim, é um bom indicador da tendência do desflorestamento da Amazônia - explica. - Não é brigando com a régua que se resolve o problema.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro prometeu um "dado real" sobre desmatamento do bioma:

- Um fazendeiro no Amazonas, por exemplo, tinha uma reserva de 80%... aqueles 20% que ele está há anos sem usar, quando ele desmata e cresce (...), o Inpe pode dizer que aquele desmatamento é suspeito. Tem que ir lá alguém do Ibama e comprovar. Não pode jogar esses números.

O desmatamento legal é aquele que não viola as normas do Código Florestal , que estabelece um percentual de terras dentro de uma propriedade que deve ser protegida. Esse percentual - Reserva Legal - varia de acordo com o bioma. Na Amazônia, por exemplo, equivale a 80% da propriedade. A área restante é passível de exploração. Ainda assim, são vetadas as áreas consideradas de preservação permanente, como o entorno de cursos d'água. O terreno que não viola as limitações só pode ser explorado economicamente com licença ambiental do Ibama. (Colaboraram Gustavo Maia e Jussara Soares)

O Globo, 01/08/2019, Sociedade, p. 25

https://oglobo.globo.com/sociedade/salles-defende-novo-sistema-de-alert…

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