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Sabesp oferece ao Rio volume morto de Paraibuna em troca de transposição

OESP, Metrópole, p. A28-A29
23 de Nov de 2014

Sabesp oferece ao Rio volume morto de Paraibuna em troca de transposição
Projeto feito em parceria com técnicos da Universidade de São Paulo dá como garantia reserva de 162 bilhões de litros de água

ADRIANA FERRAZ e RAFAEL ITALIANI - O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) quer criar uma reserva de 162 bilhões de litros de água para oferecer ao governo do Rio como forma de compensar a obra de transposição prevista para a Bacia do Paraíba do Sul. A expectativa do Estado é de que esse "volume morto" funcione como uma espécie de "fiador" no processo de aprovação da medida, que visa a aumentar a capacidade hídrica das regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo.
De acordo com estudo formulado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em parceria com técnicos da Universidade de São Paulo (USP), a que o Estado teve acesso, a intenção é reforçar e aumentar os níveis de garantia do Sistema Cantareira, a partir de uma obra de interligação entre as Represas Jaguari e Atibainha (mais informações nesta página).
Caso o projeto de Alckmin, que está avaliado em R$ 830 milhões, receba o aval da Agência Nacional de Águas (ANA), a Sabesp poderá captar, em média, 5 mil litros de água por segundo da Bacia do Rio Paraíba do Sul, dando fôlego ao Cantareira.
A autorização da ANA é necessária porque a Bacia do Paraíba do Sul tem gestão federal. O rio corta Minas e São Paulo, onde a água é armazenada na Represa de Paraibuna, na qual será assegurado o volume morto. Em seguida, corre para o Estado do Rio, onde posteriormente forma a Represa do Funil. Na prática, a reserva representa a soma dos litros por segundo que serão revertidos para o Cantareira ao longo de um ano de transposição entre os mananciais.
A empresa desenvolveu o projeto segundo critérios de segurança para o abastecimento e também a geração de energia - os Rios Jaguari e Paraíba do Sul são usados pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp). A Furnas, que produz energia para o Estado do Rio, também usa os mesmos recursos na divisa de Estados.
Com capacidade total de 2,1 trilhões de litros de água, quase duas vezes maior do que o Sistema Cantareira, a Represa Paraibuna vive uma das maiores estiagens de sua história.
Garantia. As condições apresentadas por São Paulo ao governo do Rio e à ANA foram baseadas em simulações feitas no Laboratório de Sistema de Suporte a Decisões (LabSid), da USP. De acordo com o coordenador do órgão, Rubem La Laina Porto, o volume morto é sugerido como uma garantia.
"É uma reserva que só deve ser usada em casos extremos, em uma probabilidade muito pequena", afirma o engenheiro e professor de Hidrologia da USP. "A quantia é o suficiente para atender à necessidade dos três Estados", diz.
Ao mesmo tempo em que possibilita a reversão de água de Jaguari para Atibainha com o objetivo de reforçar o Sistema Cantareira, a transposição libera a captação inversa. Isso quer dizer que a obra permitirá que São Paulo "devolva" o mesmo volume captado caso chova o suficiente no Estado para aliviar a crise hídrica sem a utilização da alternativa.
Tanto essa devolução quanto o uso do volume morto são vistos pelo governo fluminense como cenários extremos. De acordo com a Secretaria Estadual de Ambiente do Rio, ambos seriam cogitados caso não ocorressem as chuvas da estação, que já começaram.
Em nota, a pasta informou que, apesar de o Rio ter entrado na temporada de chuvas, a orientação é prever quadros adversos. Por isso, a secretaria já solicitou dados sobre a reserva técnica de Paraibuna. O pedido foi feito à ANA no dia 5.
Segurança. Já a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos de São Paulo afirmou que a interligação proposta entre Jaguari e Atibainha vai assegurar o armazenamento de água nos dois reservatórios.
Quanto ao uso do volume morto de Paraibuna, o governo paulista afirmou que o tema é de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da ANA, que disse ainda estar discutindo com os demais interessados a viabilidade de execução da obra.

Plano de Alckmin custa R$ 3,5 bi e inclui uso de esgoto

A interligação das Represas de Jaguari e Atibainha, em São Paulo, faz parte de um plano de ação apresentado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à presidente Dilma Rousseff, no início deste mês, para enfrentar a crise hídrica. São oito obras no total, ao custo de R$ 3,5 bilhões.
A lista inclui, por exemplo, a construção de estações que transformam esgoto em água de reúso, de dois novos reservatórios em Campinas e a perfuração de poços artesianos na região do Aquífero Guarani. Nenhuma saiu do papel ainda.

Seca leva prejuízo para comerciantes da região de Paraibuna
Dono de pesqueiro perdeu clientes e viu movimento diminuir depois que nível começou a baixar; donos de embarcações temem troncos

RAFAEL ITALIANI - O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Com capacidade total de 2,1 trilhões de litros de água, quase duas vezes maior do que o Sistema Cantareira, a Represa Paraibuna vive uma das maiores estiagens da história. Nesta sexta-feira, 21, o manancial estava com 74 bilhões de litros de água do volume útil (sem contar os 162 bilhões de litros do volume morto), segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA).
Na cidade de Paraibuna, comerciantes perdem cada vez mais clientes. Benedito Marcos Farias Soares, de 60 anos, dono de um pesqueiro, diz que o movimento caiu 40%. "Antes, as crianças brincavam no balanço molhando o pé na água. Agora, a represa desceu mais de 20 metros e chegou a uma parte que eu nunca tinha visto", afirmou, apontando para as árvores que apareceram.
"As pessoas pescavam, passeavam de barco e jet ski. Agora, com esse monte de tronco aparecendo, elas ficam com medo." O pesqueiro do comerciante era dividido pela água da Represa Paraibuna. Para chegar do lado oposto de onde fica o restaurante era necessário usar um barco. Hoje, o caminho é feito sem molhar os pés.
O mesmo prejuízo por falta de movimento vive uma marina da região. Conforme a água foi baixando, os clientes retiraram os barcos. Na terça-feira, um empresário de São Paulo teve de recolher sua lancha.
"Aqui é muito bonito, vou sentir falta da represa, mas a água está cada vez mais baixa. Corre o risco de eu bater em alguma árvore e causar um acidente", disse Sebastião de Oliveira, de 59 anos. A embarcação foi levada para Itanhaém, no litoral.
"Já tirei o jet ski depois que ele quebrou três vezes por causa das árvores que enroscaram. Não dá mais para ficar aqui. Infelizmente, está insustentável", afirmou o empresário.

Manancial também divide água com hidrelétricas

Não é só a severa estiagem que prejudica o nível dos reservatórios. A geração de energia com a água da Represa Paraibuna e com o restante da Bacia do Rio Paraíba do Sul deixa a crise hídrica ainda mais problemática na região do Vale do Paraíba, no interior paulista.
De acordo com Malu Ribeiro, coordenadora da Rede Água da SOS Mata Atlântica e especialista em recursos hídricos, a seca da Paraibuna também é responsabilidade do setor hidroelétrico. "O setor sempre mandou na questão da água. Existem reservatórios grandes, mas que não são de usos múltiplos, como é o caso da Represa Paraibuna. A única saída para resolver isso são planos estratégicos de bacias hidrográficas", afirma.
Segundo ela, a falta de opções para gerar energia é um problema nacional, o que deixa o País dependente das águas dos reservatórios que poderiam ser economizadas nas secas.
Sobre o estudo do governo do Estado de criar um volume morto de 162 bilhões de litros de água para atender o Rio, ela concorda com o uso da reserva em estiagens, desde que o governo tenha planos de como usar o recurso.
"Está se correndo atrás de todas as águas que restam. O que a sociedade civil quer é que haja um plano maior que detalhe os próximos passos sobre o uso do volume morto e as medidas que serão tomadas para encher novamente os reservatórios", afirma.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de 11 milhões de pessoas dependem da água da Bacia do Rio Paraíba do Sul. A bacia atende cidades do Vale do Paraíba, mas a maior parte dos consumidores está no Estado do Rio. / R.I.

OESP, 23/11/2014, Metrópole, p. A28-A29

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