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Ritmo de desmatamento da mata atlântica se mantém desde 2000

OESP, Vida, p. A15
27 de Mai de 2009

Ritmo de desmatamento da mata atlântica se mantém desde 2000
Devastação atingiu 102,9 mil hectares entre 2005 e 2008; atualmente restam apenas 11,4% das áreas originais

Cristina Amorim

A taxa de desmatamento da mata atlântica mantém o mesmo ritmo desde 2000. Segundo o atlas dos remanescentes feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela ONG SOS Mata Atlântica, o bioma perdeu 102.938 hectares entre 2005 e 2008, mais de 34 mil hectares por ano.

Entre 2000 e 2005, foi registrada a perda de 34.965 hectares anualmente. Os números referem-se a 10 dos 17 Estados onde há mata atlântica.

É uma área pequena (o município de São Paulo, por exemplo, tem 150.900 hectares), mas não para a mata atlântica: o bioma mais explorado do País tem hoje 11,41% dos 131 milhões de hectares que havia quando os portugueses chegaram.

É nesse trecho que moram 112 milhões de brasileiros, que dependem dos serviços ambientais fornecidos pela floresta - disponibilidade de água, por exemplo. "Grande parte do que sobrou está em mãos de proprietários particulares e, neste sentido, a participação deles é importante para garantir a manutenção das áreas, especialmente das matas ciliares", diz Marcia Hirota, coordenadora do atlas.

ILHAS VERDES

Tão importante quanto a taxa de desmatamento é a situação do que restou. De acordo com o atlas, dos 233 mil fragmentos florestais com mais de 3 hectares existentes na mata atlântica, só 18,4 mil são maiores que 100 hectares. Ou seja, a maioria é formada por pequenas ilhas isoladas de floresta, muitas vezes completamente desconectadas umas das outras.

A fragmentação funciona como uma implosão: as árvores e os animais que se encontram naquele pedaço cruzam entre si, enfraquecendo a espécie. Além disso, essas "ilhas verdes" ficam mais expostas a pressões ambientais. "A falta de conexão causa sérios problemas, o chamado efeito de borda (agressão por fogo, veneno, sementes de capim, plantas invasoras)", explica Mário Mantovani, diretor de mobilização da ONG.

É o caso de Santa Catarina, um dos Estados que mais derrubaram mata no período (ficou atrás apenas de Minas Gerais). O presidente da Fundação de Meio Ambiente do Estado, Murilo Flores, afirma que há mais floresta ali do que diz o atlas (2,1 milhões de hectares, ou 22% da área - originalmente, o Estado era totalmente coberto de mata atlântica).

Segundo ele, isso acontece porque a metodologia usada nesse trabalho não identifica fragmentos muito pequenos. "Essas manchas (de vegetação) são insuficientes para a biodiversidade, mas podem ajudar a criar corredores", diz Flores.

Corredores ecológicos são uma estratégia de recuperação e conservação, quando tenta-se unir fragmentos de floresta para que haja trânsito e cruzamento das espécies. "O que restou é muito pouco e, se algo não for feito efetivamente, a conectividade cada vez mais estará comprometida", afirma Flávio Ponzoni, do Inpe, coordenador técnico do estudo.

A despeito dos valores identificados pelo atlas, Marcia afirma que Santa Catarina confirmou, nesse atlas, uma tendência de corte sistemático da vegetação. "É um Estado que ainda detém bastante mata comparada à área original (de ocorrência), mas há 20 anos os desmatamentos vêm acontecendo."

CAMPEÕES

Minas foi o Estado que apresentou a maior área desmatada nos últimos três anos: 32,7 mil ha. Ela se concentra onde a mata atlântica encontra outro bioma tipicamente brasileiro, e ameaçado, o cerrado. O mesmo acontece na Bahia, em terceiro lugar entre os Estados que mais cortaram árvores - segundo o atlas -, os baianos perderam pouco mais de 24 mil ha no período.

Em nota, o governo mineiro afirma que "a pressão exercida nas florestas nativas em decorrência da expansão agropecuária e do consumo ilegal de carvão vegetal estão entre os principais responsáveis pelos números divulgados". Também lembra que Minas é o Estado que possui a maior área remanescente de mata atlântica - mas, indica o atlas, menos de 10% da floresta original.

OESP, 27/05/2009, Vida, p. A15

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