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Ritmo de desmatamento cai 25%

OESP, Vida, p. A33
11 de Ago de 2007

Ritmo de desmatamento cai 25%
Entre agosto de 2005 e julho de 2006, região perdeu 14 mil km2 de florestas, ante 19 mil km2 no período anterior

Lígia Formenti

O desmatamento na Amazônia Legal caiu 25% entre agosto de 2005 e julho de 2006. No período, a região perdeu 14.039 km2 de suas florestas, ante 18.793 km2 no período anterior. Embora expressivo, o número é bem menor do que o registrado em 2004, quando 27,4 mil km2 foram devastados, e mostra tendência de queda no ritmo de desmatamento pelo segundo ano consecutivo.

Anunciados pelo governo ontem, os dados ainda mostram projeções animadoras: a perspectiva de que 2007 registre a menor taxa de desmatamento desde os anos 70: 9.600 km2.

"Os números mostram que estamos começando a dar conta da governança ambiental num dos biomas mais importantes do planeta", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Além dela, participaram da divulgação dos números a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o de Desenvolvimento Agrário, Guilherme Kassel e o secretário-executivo da Ciência e Tecnologia, Luiz Elias.

EMISSÃO DE CARBONO

Pelas contas do ministério, com a redução do ritmo de devastação, entre agosto de 2004 e agosto de 2006, o Brasil deixou de emitir 410 milhões de metros cúbicos de gás carbônico. "É quase 10% do total de redução assumido por países no Protocolo de Kyoto, entre 2008 e 2012", comparou a ministra. E, se as projeções para 2007 se concretizarem, o País terá deixado de emitir na atmosfera meio bilhão de metros cúbicos do gás, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.

Segundo Marina, a preservação registrada no período representou a manutenção de 600 milhões de árvores, de 20 mil aves e 700 mil primatas. O resultado obtido, afirma, é reflexo das ações desencadeadas pelo Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, lançado em 2004 pelo governo. A ação, coordenada pela Casa Civil, conta com a participação de 13 ministérios. No período, a taxa de desmatamento caiu 49% e foram feitas 20 operações integradas da Polícia Federal com o Ibama para desbaratar quadrilhas especializadas em desmatamento e comércio ilegal de madeira. Em tais ações, 560 pessoas foram presas, 1.500 empresas que atuavam no comércio ilegal de madeira foram fechadas, mais de 1 milhão de metros cúbicos de madeira foram apreendidos e aplicadas multas que somam R$ 3 bilhões.

Os dados do período 2005-2006 são os números consolidados do Prodes, o sistema de monitoramento por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a partir da análise de 312 imagens, captadas por três satélites diferentes. As projeções para 2007 são feitas a partir de dados captados por outro sistema, o Deter, de menor precisão. "Nossa projeção é pessimista, não fizemos uma simples regra de três", afirmou o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

A análise deste ano mostra uma mudança na forma do desmatamento. Há uma tendência de pulverização: áreas menores, espalhadas por várias regiões. Em 2006, foi registrado aumento de devastações em áreas com até 50 hectares e redução do ritmo do desmatamento em áreas com mais de 150 hectares. A alteração trará duas dificuldades para o governo: melhorar a forma de detecção por satélite - hoje, o Deter traz informações rápidas, mas consegue detectar apenas áreas maiores de desmatamento - e refinar a fiscalização.

Marina não quis responder se, com esse novo ritmo, o Brasil pensa em se comprometer internacionalmente a apresentar metas para redução do desmatamento ilegal, como reivindicam países desenvolvidos que integram o Protocolo de Kyoto. "Temos de mostrar que somos líderes mundiais em energia limpa e em conservação de florestas. Não precisamos dar respostas a ninguém, muito menos a quem não conservou suas florestas", disse o ministro da Agricultura. Stephanes disse ainda ser improcedente o receio de que o etanol traga pressões de desmatamento.

Dois sistemas de imagens fazem as medições
As taxas de desmatamento na Amazônia são calculadas, com base em dois sistemas de captação de imagens por satélite, Prodes e Deter. O primeiro, com dados mais precisos, registra imagens em quadros de 100 por 60 metros. Com isso, consegue captar alterações na vegetação como os desmatamentos a partir de 6 hectares. É usado para fornecer dados consolidados.

Usado pelo governo para projeções, o Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter) capta imagens em quadros de 250 por 250 metros. É capaz de observar áreas a partir de 25 hectares. Embora tenha menor definição e dados menos precisos, o Deter tem uma vantagem sobre o Prodes: passa todos os dias pela Amazônia e envia rapidamente registros da área. Essa agilidade é importante para que o sistema de fiscalização consiga identificar áreas suspeitas de desmatamento.

Pulverização do corte faz governo rever plano de ações
O governo prepara uma nova edição do Plano de Prevenção e Controle de Desmatamento. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que o novo plano deve reforçar medidas para garantir o desenvolvimento da região, com a preservação do meio ambiente. Uma das preocupações será combater a tendência de pulverização do desmatamento, detectada pelo governo. Nessa nova etapa, a ênfase será dada à programas do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Ciência e Tecnologia.

"Não podemos baixar a guarda na fiscalização. Mas agora é o momento de garantir resultados obtidos, aumentar insumos agrícolas, implementar florestas públicas", disse o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

Para o coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, os números mostrados ontem são animadores. "Mas o melhor é comemorar com moderação." Ele reconhece que a tendência de queda no desmatamento é reflexo em grande parte a políticas adotadas pelo governo, como aumento da fiscalização.

Adário considera um risco desconsiderar o fato de que, nos últimos anos, dois fatores contribuíram para a menor pressão sobre as florestas: a redução do preço da soja e a desvalorização do dólar. "Mas agora, os Estados Unidos reduziram a área plantada de soja e há uma previsão de que o mercado se aqueça, nos próximos anos", diz. Além disso, o preço da carne subiu. "E a conseqüência já se faz sentir: o número de queimadas em junho já começa a crescer."

Capobianco admite ser necessário aumentar o controle. "Há a proximidade das eleições municipais, período em que tradicionalmente há maior pressão para o aumento do desmatamento." O levantamento feito pelo Prodes mostrou ainda haver uma redução no nível de desmatamento em áreas assentadas, terras indígenas e em unidades de conservação.

OESP, 11/08/2007, Vida, p. A33

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