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Riqueza do cerrado

CB, Cidades, p.28
10 de Ago de 2004

Riqueza do cerradoPesquisa da Universidade de Brasília mostra as qualidades do pequi no combate aos radicais livres

João Rafael TorresDa equipe do Correio
Wanderlei Pozzembom 12.9.03
O sabor é forte, o cheiro é peculiar. O que a ciência não sabia é que o pequi é mais do que um ingrediente para iguarias mineiras e goianas. O tradicional fruto do cerrado ajuda a prevenir doenças como o câncer, por combater radicais livres — moléculas que se formam no organismo humano e reagem de forma danosa às células sadias. A conclusão é do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB). Depois que patentear os resultados, a universidade deve buscar parcerias para produzir cápsulas de extrato concentrado do pequi.   As pesquisas duraram três anos. O geneticista e professor da UnB César Grisólia, que coordenou o trabalho, adverte, entretanto, que o fruto não substitui o tratamento medicamentoso contra o câncer. Descobrimos apenas que o pequi combate radicais livres. Mas não é o suficiente para dizer que o alimento possa combater o câncer.   Os valores nutricionais do pequi já são conhecidos por especialistas da área. O fruto é rico em vitaminas A, E, C, ácidos graxos, fósforo, potássio e magnésio. Essas substâncias são responsáveis pelo bom funcionamento do organismo de forma geral. E também são capazes de evitar problemas de pele e gripes, entre outras doenças. O combate aos radicais livres é feito por flavonóides e pelos betacarotenóides, anti-oxidantes que dão a coloração amarela do fruto.   Os anti-oxidantes também ajudam a evitar os danos no organismo provocados pelo fumo, bebidas alcoólicas e comidas com toxinas — que provocam a formação de radicais livres. Estudos também investigam se a ação dos anti-oxidantes podem levar à redução dos efeitos colaterais provocados pela quimioterapia.   As propriedades do pequi se concentram principalmente no fruto cru. Quando cozido, perde de 20% a 30% dos nutrientes. Mesmo com a capacidade diminuída, as vantagens para o paciente são grandes. O que diferencia o pequi das outras fontes naturais é a concentração de anti-oxidantes, substâncias que atuam contra os radicais livres.   A descoberta sobre os princípios ativos do pequi é vista pela comunidade médica como um progresso na prevenção contra o câncer. De acordo com o clínico geral Leopoldo Luiz Neto, chefe da Clínica da UnB, está comprovado que as substâncias anti-oxidantes são capazes de reduzir o número de casos da doença, além de fortalecer as células contra outros tipos de danos. Estudos como esse são promissores para a área médica. Resultados sobre nutrientes podem estimular a população a consumir produtos saudáveis.   Entretanto, o fruto não deve ser usado como apoio no tratamento do câncer. Pela falta de estudos específicos sobre esse assunto, é arriscado dizer que as substâncias do pequi podem ser usadas como complementos clínicos, afirmou. Medicina popular Apesar dos benefícios, o sabor extravagante do pequi não favorece o uso continuado do alimento. Para muitos, o fruto pode parecer enjoativo. Por essa razão, a Universidade de Brasília procura parcerias com laboratórios farmacêuticos para concentrar os princípios ativos do pequi em cápsulas, como já é feito com outras plantas na medicina fitoterápica.   Antes, os pesquisadores estão preocupados em registrar a patente, em nome da UnB. É uma forma de resguardar nosso trabalho, antes que nossas pesquisas sejam usurpadas por laboratórios estrangeiros, explicou Grisólia. O registro de patentes é de competência do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).   Na medicina popular, o pequi é conhecido como remédio para infecções e como preventivo para problemas respiratórios. Mesmo assim, é na culinária que o pequi ganha maior terreno. Na Embrapa Cerrado, por exemplo, existe até uma cartilha com receitas. Vão do tradicional arroz com pequi até o tablete crocante, feito com amêndoas do fruto.   A Embrapa desenvolve uma linha de pesquisas para favorecer a produção do pequi e de outros frutos do cerrado. A meta é aumentar a produção, especialmente das espécies que favoreçam o consumo. No caso do pequi, o grande desafio para os apreciadores é roer o caroço. Pequenos espinhos dificultam a tentativa e podem machucar os desavisados. Com base em enxertos, biólogos do instituto tentam reproduzir espécies que frutifiquem em menos tempo, que não contenham espinhos ou que tenham polpa mais carnuda.   De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrado José Felipe Ribeiro, o Caryocar brasiliense (nome científico do pequi) é uma das 38 espécies mais fartas na diversidade do cerrado. Mesmo sendo da mesma espécie, cada árvore produz um fruto com particularidades. Uns mais amargos, outros mais adocicados. Buscamos matrizes que ofereçam frutos com maior valor comercial. Hoje, já conseguimos até reduzir o tempo da primeira florada, de dez para quatro anos, disse Ribeiro.

A saúde à mesaO caroço do pequi é envolvido por pequenos espinhos, que ficam logo depois da polpa (veja na foto ao lado). Para comer, é preciso ter muito cuidado. Morda superficialmente, para que os espinhos não penetrem na gengiva.ARROZ AMARELO Ingredientes 20 a 30 caroços de pequi com polpa 1kg de arroz Óleo Sal, alho, cebola, cheiro-verde Modo de fazer Refogar os caroços em óleo, sal, alho e cebola. Colocar um pouco de água e deixá-los cozinhar até a água secar. Adicionar o arroz e refogar bem. Colocar um pouco de água, acrescentar o cheiro-verde e deixar cozinhar. DOCE CREMOSO Ingredientes 1 litro de caroços de pequi 2 litros de leite fervido Meio quilo de açúcar Canela em pau Modo de fazer Lavar bem os caroços e cozinhá-los. Retirar do fogo e deixar escorrer em peneira. Retirar a polpa com faca. Juntar todos os ingredientes em uma panela e levar ao fogo até apurar o doce. Se necessário, acrescentar mais leite. ARROZ DA CHAPADA Ingredientes 3 dúzias de caroços de pequi 2kg de arroz 1kg de carne-de-sol 2 xícaras (chá) de óleo Alho, sal, cebola ralada, cheiro-verde Modo de fazer Lavar o arroz e colocar para escorrer. Cortar a carne em pedaços pequenos. Levar uma panela ao fogo com óleo, temperos, carne e pequis. Refogar bem, mexendo sempre. Acrescentar o arroz, refogar por alguns minutos e colocar água fervente. Tampar a panela e deixar cozinhar. MAXIXADA Ingredientes 1 litro de caroços de pequi 2kg de maxixes raspados Leite 2 colheres de sopa de manteiga Pimentão, tomate, cebola, cheiro-verde, pimenta-do-reino, alho e sal Modo de fazer Cozinhar com sal, separadamente, porções de caroços de pequi e maxixes. Deixar escorrer. Refogar os temperos na manteiga, menos o cheiro-verde. Acrescentar os caroços e os maxixes, mexendo bem. Adicionar leite, continuar mexendo até engrossar o caldo. Por último, acrescentar o cheiro-verde, no momento de servir. Acompanham arroz e farinha.
Fonte: Embrapa Cerrado

CB, 10/08/2004, p. 28

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