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Rio+20: inclusão das minorias e crescimento econômico norteia debates no Encontro de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia

Roraima em Foco - http://www.roraimaemfoco.com/
Autor: Tércio Neto
01 de Jun de 2012

Com a interpretação do hino nacional feito pela índia Iecuana, Djuena Tikuna, teve início nesta última quarta-feira, 30, as 9h30 da manhã os debates do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, no Salão Rio Negro, em Manaus-AM.

As delegações de todos os Estados da Amazônia Legal estão discutindo quais são as prioridades da Amazônia e qual será o modelo de desenvolvimento econômico a ser defendido na Conferência das Nações Unidas RIO+20 a ser realizada de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. O objetivo principal é a construção da Carta da Amazônia, que contém ações de desenvolvimento sustentável do Norte para os próximos anos.

O governador de Roraima, Anchieta Júnior, está em Manaus para participar do Fórum dos Governadores da Amazônia, que acontece hoje, 1o de junho, na sede do Governo do Amazonas. Em pauta a busca pelo consenso e finalização da Carta da Amazônia.

Debates e visões do mundo amazônico - o governador do Amazonas e anfitrião do evento, Omar Aziz, abriu os debates no dia 30 de maio com tom firme e discurso de inclusão do homem no processo de crescimento da Amazônia, "somos favoráveis a preservação do meio ambiente, mas nesse contexto há que se observar as dificuldades de viver na Amazônia, ver o que nossos ribeirinhos e homens da floresta vivem e enfrentam, posso dizer que este Fór
um é um dos maiores encontros já feitos para se discutir a Amazônia; na RIO+20 os países vem discutir modelos de desenvolvimento para o mundo, mas virão também discutir nossa região", disse o governador.

Na abertura do Encontro, autoridades e estudiosos deram o tom de como pretendem trabalhar o ideal de sustentabilidade na Amazônia. No primeiro dia de debates, 30 de maio, observou-se que há vontade de pesquisadores e políticos em criar um modelo de desenvolvimento pensado pelos próprios amazônidas em detrimento a modelos impostos por outros estudiosos fora do contexto amazônico, "com a Carta da Amazônia queremos dizer ao mundo o que entendemos por desenvolvimento sustentável, é fácil dizer o que é bom para nós, mas desejamos mostrar o que queremos e pensamos", disse o representante de secretarias de meio ambiente da Amazônia.

Outro palestrante foi o Doutor Ennio Candotti, Diretor do Museu da Amazônia. Candotti ministrou palestra sobre os problemas da Amazônia e apontou sugestões para enriquecer os debates.

Falou ainda sobre o pequeno número de pesquisadores que há na Amazônia e os poucos incentivos para a área de pesquisas na região, "cerca de 70% das pesquisas na Amazônia são realizadas por estrangeiros, temos que mudar este quadro valorizando nossos cursos de mestrado e doutorado, minha sugestão é que o programa Ciência sem Fronteiras, [programa de incentivo a ciência e pesquisa do governo federal] que investe em 75 mil bolsas de estudos, transfira pelo menos 20 mil destas bolsas para o desenvolvimento da Amazônia, em nossos estudantes da região", relata.

O palestrante abordou temas delicados, como o crédito de carbono, na qual chamou de colonialismo, ao ver que certos países possuem licença para desmatar e produzir, bastando somente que consigam áreas em outras regiões onde se preserve a floresta. Outro ponto foi quanto as águas na Amazônia que, ao exemplo do petróleo, poderia gerar 'royalties' por onde passasse, por exemplo, na água que move turbinas e que irriga plantações.

Candotti frisou pela preservação do potencial amazônico e seus microorganismos, onde a regeneração da floresta depende de fungos que transformam folhas e madeiras em nutrientes. Outro ponto foi quanto à falta de menção no novo código florestal as florestas alagadas que, segundo o cientista, atinge uma área de 500 mil quilômetros quadrados na Amazônia.

No discurso final fez uma defesa das populações ribeirinhas, povos indígenas e dos aqüíferos [reservatórios de águas subterrâneas] na Amazônia. Ennio Candotti é físico, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Atualmente atua como diretor do Museu da Amazônia.

Outro palestrante foi a Doutora Berta Becker. A professora deu inicio a sua fala onde cita que há mudanças propostas pelo mundo entre o conceito de desenvolvimento sustentável para o de sustentabilidade global. A doutora fez críticas às exportações feitas na Amazônia atualmente, "temos que terminar com este conceito de exportar em bruto, temos que fortalecer nossas cadeias produtivas, isso melhorará nosso modelo de desenvolvimento e nossa contribuição ao PIB nacional que é de apenas 8%", disse.

Berta Becker expôs que este modelo de exploração da Amazônia está mudando. A exploração de nossas matérias primas estão cedendo a exploração das funções da natureza, por exemplo, o uso racional de nossa estrutura para fins mais sustentáveis como o uso de energias alternativas.

Também relatou sobre a transformação da Amazônia em uma fronteira de imigrantes internacionais, "países como índia e o Haiti são exemplos onde há pessoas vindas para trabalhar e viver na Amazônia", disse.

Outros segmentos da sociedade também expuseram suas opiniões e conceitos sobre a Amazônia. O Conselho de Seringueiros do Acre citou os poucos avanços que houve desde a ECO-92 até agora. A ONG Natura Ativa de Tocantins puxou os debates para os problemas causados pela água, onde cita que 86% das doenças surgem por meio de má utilização da água e seu tratamento. Um ponto em comum foi à menção e culto ao líder seringueiro Chico Mendes.

O indígena Jonas Marcolino, do Estado de Roraima, expôs em plenário suas expectativas quanto ao Fórum e o desenvolvimento da Carta da Amazônia, expôs sua preocupação com os povos indígenas e como observa a condição indígena na atualidade. Já o Movimento Jovem do Amapá fez críticas ao novo código florestal e expôs as expectativas pela construção da Carta da Amazônia.

Outros assuntos como a soberania alimentar dos Estados, onde se pontua que cada ente federativo possua sua própria produção de alimentos minimizando as exportações de comida, foram expostos. Outro ponto de divergências deu-se pela questão energética de cada região, a autosuficiência em produção de energia.

As discussões entraram durante todo o dia 31 de maio, onde houve grandes debates para a finalização da Carta da Amazônia. Neste dia 1o de junho, as delegações estão reunidas no auditório Salão Rio Negro, no Tropical Hotel em busca de um consenso para o documento que será avaliado e referendado pelos nove governadores e representantes da Amazônia Legal, nessa tarde de sexta-feira, 1o de junho, a partir das 14h.

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