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Rio de plástico

OESP, Notas e Informações, p. A3
28 de Out de 2007

Rio de plástico

Os governos estadual e municipal fizeram grandes investimentos nos últimos anos em obras como piscinões e manutenção do sistema de drenagem para combater as enchentes na cidade de São Paulo. A Prefeitura está gastando, neste ano, R$ 100 milhões com esse objetivo. E, desde o governo Mário Covas, o Estado usou grande parte dos recursos destinados a obras para a construção de piscinões na região metropolitana. A partir de 2002, concentrou seus esforços no Plano de Macrodrenagem da Grande São Paulo e aplicou mais de R$ 1 bilhão no projeto de ampliação da Calha do Tietê, que reduziu de 50% para 1% a probabilidade de inundações nos bairros cortados pelo rio. As parcerias também se fortaleceram e, atualmente, permitem a execução de programas como a Operação Córrego Limpo, lançada em março. Nesse projeto, Estado e Prefeitura investirão R$ 200 milhões na despoluição de mais de 40 cursos d'água no prazo de 50 meses, beneficiando 2,35 milhões de pessoas.

Mas os esforços das administrações estadual e municipal podem não ter os resultados esperados por causa de falhas na gestão dos resíduos sólidos e na campanha de educação da população. As chuvas que, depois de longa estiagem, voltaram a São Paulo nessa semana mostraram isso. Na quarta-feira, após um dia de chuva, de fraca a média intensidade, mas ininterrupta, o Tietê se transformou num rio de garrafas PET, sacolas plásticas, pneus e inúmeros outros materiais que tomaram conta do seu leito.

Era a exibição uma séria ameaça ao trabalho de cinco anos para livrar o Tietê do assoreamento e a população do transtorno das enchentes. Antes da obra, a cada duas temporadas de chuva ocorria uma inundação, que bloqueava por muitas horas a Marginal do Tietê, por onde são realizadas 750 mil viagens diárias. Entre 2002 e 2006, 10 milhões de metros cúbicos de sedimentos, rochas, detritos e lixo foram retirados do rio. É um volume suficiente para encher por 31 vezes o Estádio do Pacaembu. Naquele período, diariamente, em mil viagens de caminhão eram transportadas, em cada uma, 12 toneladas de detritos - delas, 1,5 tonelada de garrafas PET, sacos plásticos, móveis, carcaças de automóveis e todo tipo de lixo. Mais de 120 mil pneus foram tirados das águas do Tietê.

Hoje, para manter a obra realizada, o governo estadual tem de investir de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões por ano, na retirada do lixo que continua a ser despejado no rio. A perspectiva é de que esse volume de recursos aumente muito caso as prefeituras da região metropolitana não façam a sua parte na gestão dos resíduos sólidos. Se as garrafas PET continuam tomando o leito do rio, assim como toneladas de lixo variado, é porque há muitas deficiências na varrição das ruas, na coleta e no despejo dos resíduos sólidos.

Grande parte de todo o investimento já realizado pode se perder, e também o trabalho da Prefeitura que, nos últimos anos, intensificou a limpeza de bocas-de-lobo, galerias, ramais, córregos e piscinões. Em 2005, por exemplo, 299 mil bocas-de-lobo foram limpas. No ano passado, foram 629 mil e neste ano, até agora, 536 mil. Em 2005, 80% dos piscinões estavam assoreados. Hoje, 20% aguardam limpeza. Entre os córregos, há 15% esperando manutenção.

A administração municipal tem pedido à população que não jogue lixo na rua. Mas isso não basta. É preciso coleta de lixo em todas as favelas, regularizar os loteamentos clandestinos e providenciar saneamento e infra-estrutura para que os córregos deixem de levar lixo ao Tietê.

A Sabesp e as subprefeituras têm se empenhado na conscientização ambiental dos moradores atingidos pela Operação Córrego Limpo, através de palestras em escolas para que as crianças e seus pais entendam a necessidade de não jogar lixo na rua. Para colocar a teoria em prática, no entanto, é preciso oferecer coleta diária, varrição eficaz e despejo adequado dos resíduos.

Pela quantidade de lixo que invadiu o Tietê e os córregos nos últimos dias, percebe-se que falta muito para que isso ocorra, tanto na cidade de São Paulo quanto nos demais 39 municípios que compõem a região metropolitana.

OESP, 28/10/2007, Notas e Informações, p. A3

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