VOLTAR

Reze-se pelos curumins

O Povo-Fortaleza-CE
21 de Abr de 2002

Crianças indígenas enfrentam problemas de adultos

Os problemas das crianças filhas de povos indígenas identificados no Ceará, denunciados na reportagem ''A guerra dos curumins'', da jornalista Rita Célia Faheina, publicada na edição de ontem do O POVO, colocam os descendentes das populações pré-cabralinas na contramão da História. São, proporcionalmente, tão graves quanto as queixas dos adultos, comprometendo o futuro das novas gerações. Uma das deficiências sofridas pela primeira idade indígena resume-se em escolas sem merenda escolar e com material didático insuficiente, apesar de os alunos estarem conscientes da luta pela terra e a preservação da cultura de suas tribos.

Dos primeiros anos de existência do Brasil Colônia, um dos aspectos mais evocados é a introdução do ensino na nova terra pela Companhia de Jesus. Nesse ponto, vale a pena relembrar a atuação do beato José de Anchieta, ou padre Anchieta, cujos métodos sintetizavam tanto a conversão dos nativos ao cristianismo, inclusive por meio da escola, como o respeito às origens dos indígenas. Tanto que chegou a publicar uma gramática de tupi-guarani, numa tentativa de facilitar a comunicação e a doutrinação das tribos e, ao mesmo tempo, de oficializar esse idioma nesta porção do Novo Mundo.

No Ceará, a situação é agravada pelo fato de as comunidades indígenas aqui localizadas só terem sido redescobertas em décadas recentes. Para grande parte da opinião pública, os índios que existiam tinham ficado para trás na criatividade da prosa de José de Alencar e Franklin Távora, entre outros autores. Deve-se lembrar que o livro-arquétipo do Estado, o poema-em-prosa Iracema, de Alencar, sublima a união do colonizador Martim Soares Moreno e da indígena Iracema como se fossem o Adão e a Eva da capitania recém-nascida, exemplo de manifestação de um autor vinculado ao romantismo.

Por outro lado, em termos estaduais, à exceção de historiadores, a exemplo de Thomaz Pompeu Sobrinho e do trabalho desenvolvido pela Pastoral Indígena da Arquidiocese de Fortaleza, de maneira alguma apareceram paladinos da causa indígena em número suficiente que deixassem um legado definitivo a favor dela.
Ao contrário do que ocorreu em outros recantos do País, nos confins do Brasil Central e da Amazônia, com o marechal Rondon, os irmãos Villas-Boas e o médico Noel Nutels. Assim, de decênios para cá é que a opinião pública urbana tomou conhecimento de denominações como Jenipapo-Kanindé, Pitaguary, Tapeba e Tremembé, já contatadas pela Funai, mas nem todas com reservas demarcadas, à exceção dos tremembés do córrego João Pereira, atualmente em andamento.

A saúde é outro ponto a se cobrar quando se fala em adultos e crianças indígenas. Desde a viagem de Pedro Álvares Cabral, os índios de todo o País foram contaminados por diversas doenças transmitidas, primeiramente por marujos que viajavam em navios sem menor resquício de higiene. Esse problema persiste até hoje, tendo em vista que os povos indígenas, principalmente os contatados mais recentemente, continuam vulneráveis a todo tipo de enfermidade contagiosa. É um pessoal que precisa ser assistido primordialmente por campanhas de vacinação, para que fique protegido pelo menos das doenças evitáveis por imunização.

A questão envolve outros problemas. A comunidade Pitaguary, em Maranguape, se queixa até da construção de uma churrascaria em terras que reivindica, tendo como conseqüências, além da invasão da terra, a poluição sonora e ambiental. Também denuncia violência e perseguições por parte do Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar, exploração da mão-de-obra infantil, assim como drogas e alcoolismo incentivados pelo turismo marginal.

Este é um ano em que a Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), teve como tema, ''A fraternidade e os povos indígenas'' e lema, ''Por uma terra sem males''. É o que os índios do País aguardam há 502 anos, principalmente ontem, quando transcorreu a data dedicada a eles

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.