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A reutilização da água

OESP, Notas e Informacões, p. A3
18 de Jan de 2005

A reutilização da água

A escassez de água e a necessidade de captá-la a distâncias cada vez maiores dos centros de consumo, a um custo alto, põem em relevo a importância da adesão do Brasil ao programa global desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para atingir três metas a partir do uso racional da água: proteção da saúde pública, manutenção da integridade dos ecossistemas e uso sustentado do recurso. A reutilização da água, depois de tratamento adequado, é uma das principais medidas a serem tomadas, principalmente pelo setor industrial, para que essas metas sejam alcançadas.
No Brasil, considerando-se apenas as indústrias, se o resfriamento das caldeiras, o abastecimento dos sistemas de ar-condicionado, a manutenção de máquinas e equipamentos e os serviços de limpeza utilizassem a chamada água de reúso, seriam economizados 1,65 bilhão de litros por dia - volume suficiente para o consumo de 8,2 milhões de pessoas. No entanto, apesar das vantagens financeiras e ambientais da reutilização da água potável, apenas 1% das indústrias faz o reaproveitamento.
Na Grande São Paulo, a Sabesp construiu, há sete anos, cinco grandes estações de tratamento de esgoto (ETEs) e em três delas instalou miniestações para produção de água para uso industrial. Nas estações, a água de esgoto passa por processo de filtragem e cloração que elimina os poluentes e microorganismos, e se transforma em água de reúso, livre de 90% das impurezas.
Durante três anos, as estações permaneceram ociosas. Até 2001, apenas a Coats, fabricante das Linhas Corrente, instalada no Ipiranga, comprava a água para uso nos processos de tingimento e lavagem de produtos. Hoje, a empresa economiza 70 mil metros cúbicos de água potável por dia.
Nos últimos dois anos, a ação dos movimentos de defesa do meio ambiente, somada à estiagem e ao elevado custo do recurso, fez a procura pela água de reúso aumentar na região metropolitana. A Sabesp tem hoje 13 indústrias como clientes, entre elas as empreiteiras OAS, VA Engenharia, DP Barros e Norte Sul. Além delas, as prefeituras de Diadema, São Caetano, Barueri, Carapicuíba, Santo André e São Paulo passaram a usar esse tipo de água na limpeza pública e na manutenção de áreas verdes. Por meio de suas contratadas, a Comgás também usa água de reúso nos processos de perfuração.
A Prefeitura de São Paulo é a maior consumidora. Somente na limpeza das ruas após as feiras livres deixou de usar 20 mil metros cúbicos por mês da água potável, volume suficiente para abastecer 6 mil pessoas. Os consumidores da água de reúso pagam R$ 0,38 por mil litros consumidos.
O obstáculo maior que impede a satisfação da demanda é a falta de redes específicas de distribuição do produto. Hoje, as empresas que utilizam água de reúso são obrigadas a transportar o produto em frotas próprias de caminhões-pipa. Somente a Coats, instalada a 500 metros da estação de tratamento e duas lavanderias vizinhas fazem uso da água distribuída pela pequena rede instalada na região.
Os investimentos para a expansão da rede são elevados e só seriam viáveis se houver garantia de retorno financeiro. E isso só acontecerá quando um grande número de empresas se convencer da necessidade de economizar água e preservar o meio ambiente. Recentemente, a Federeção das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) lançou um manual para incentivar a utilização de água de reúso. Trata-se de iniciativa válida, mas tímida, o que até se compreende por estar o setor industrial acostumado, historicamente, a explorar o recurso sem grandes preocupações com a escassez e com as conseqüências para o meio ambiente. Mas essa situação está mudando rapidamente. A água já não é um recurso natural abundante, gratuito ou barato. Desde o fim dos anos 90, nova legislação estabeleceu a cobrança pelo uso da água, prática que já está em vigor na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. As indústrias, principalmente as exportadoras, também estão sendo pressionadas pelos seus clientes a obter a certificação de que seus processos produtivos são cercados de cuidados ambientais.
Outras exigências passarão a ser feitas e será muito mais vantajoso ao setor acelerar o uso racional da água do que esperar pelas conseqüências negativas da extração desenfreada.

OESP, 18/01/2005, Notas e Informacões, p. A3

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