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Reuso em baixa no Brasil

O Globo, Amanhã, p. 28
25 de Set de 2012

Reuso em baixa no Brasil

Rafaella Javoski
rafaella.javoski@oglobo.com.br

O consumo de água no Brasil vem aumentando na mesma proporção que se agiganta o desperdício. Atualmente, 5,4 bilhões de litros de esgoto não tratados são descartados diariamente, o que, no final das contas, significa desperdício de água e de dinheiro, segundo cálculos das instituições de pesquisa Ressoar e da Trata Brasil. Como apenas 0,22% do produto interno bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviço produzidos no país) brasileiro é revertido para a área de saneamento, isso significa que levaremos quase 60 anos para alcançar a universalização do saneamento básico. Caso o país aumentasse esse percentual do PIB para 0,63%, em duas décadas o esgoto nacional estaria 100% tratado. Enquanto alguns países, como Israel, já acumulam conhecimento suficiente para exportar modelos de reuso de água, o Brasil caminha a passos lentos nesse setor.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, para cada R$ 1 investido em saneamento, R$ 4 são economizados em saúde pública. Como o Brasil está consumindo mais água - o consumo per capita aumentou 7,1% na comparação entre os anos de 2009 e 2010, chegando 159 litros por dia - o país acabou piorando sua posição no ranking de acesso a esgoto da Organização das Nações Unidas (ONU): do 48o lugar, em 1990, para a 67ª posição, em 2004, num grupo de 177 países pesquisados em todo o mundo.
Além da falta de investimentos, outra dificuldade é o baixo índice de profissionais qualificados. O diretor executivo da fornecedora de equipamentos Huber Technology no Brasil, Marco Aurélio Pereira da Silva, acredita que isso implica na inconsistência dos projetos que são apresentados neste setor, o que inviabiliza mudanças.
- No Brasil se projetam estações de tratamento da mesma forma que se fazia há 50 anos. Há necessidade de capacitação e treinamento de pessoal para elaborar projetos, sobretudo mais econômicos - critica.
Para que o país se modernize nesse setor e possa ainda reduzir os impactos ao meio ambiente, Silva aponta soluções de custos mais baixos. Uma delas é o destino do lodo gerado a partir do tratamento do esgoto. Ele explica que o mesmo é um resíduo sólido, que acaba em aterros sanitários. Nos Estados Unidos e na Europa, o mesmo é usado para produção de energia elétrica.
- O transporte para o aterro sanitário gera custo. Transformar esse material em energia elétrica, além de ser benéfico para o meio ambiente, é uma forma de agregar valor - compara ele.
Outra opção citada por Silva é o uso industrial dessa água reciclada, o que já acontece em São Paulo. A Sabesp, companhia responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos atua nesse segmento desde 1998, quando iniciou a produção de água de reuso para uma fábrica de linhas que, além de gastar com a despoluição, via sua possibilidade de crescimento limitada.
Desde então, duas lavanderias industriais passaram a contar com esse recurso, além de construtoras. Atualmente, a Sabesp fornece água reciclada para prefeituras da Grande São Paulo, que a utilizam para lavagem de ruas e monumentos, além de rega de jardins. Em 2011, a companhia forneceu um bilhão de litros. A alternativa é mais do que uma solução ecologicamente correta.
- A cidade de São Paulo tem um crescimento populacional de 200 mil habitantes por ano e nós praticamente já esgotamos toda a possibilidade de água bruta na bacia do Alto Tietê. Com isso, é preciso buscar projetos para atender a população sem restringir o desenvolvimento econômico. Não pode haver disputa entre a população e as indústrias pela água potável - comenta o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato.
Com 70 clientes neste segmento, a empresa fatura por ano entre R$ 1,8 milhão e R$ 2 milhões com a venda da água de reuso, que tem qualidades diferentes de acordo com a necessidade do consumidor.
Para incentivar ainda mais esse setor, já está em pré operação o Projeto Aquapolo, que vai abastecer o Polo Petroquímico do ABC Paulista. Com o início das atividades previsto para o próximo mês, o empreendimento vai fornecer 650 mil litros de água de reuso por segundo para as indústrias do polo. Cálculos feitos até agora indicam que a economia de água potável com este serviço é o suficiente para abastecer uma cidade de porte médio, com uma população de aproximadamente 350 mil habitantes.
Retrocesso
O Brasil vai levar 60 anos para atingir a universalização do saneamento básico.

O Globo, 25/09/2012, Amanhã, p. 28

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