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Resistência à obra dura 35 anos e até astros de Hollywood estão convocados

O Globo, Economia, p. 28
11 de Abr de 2010

Resistência à obra dura 35 anos e até astros de Hollywood estão convocados
Críticos do projeto dizem que águas não serão suficientes para girar turbinas

Gustavo Paul
Enviado Especial

A resistência à construção da usina, começou tão logo os primeiros estudos foram iniciados, em 1975. O principal protagonista da resistência à usina é o bispo da prelazia do Xingu, Erwin Kräutler, notório também por denunciar madeireiros e pedófilos da região. Ao bispo se reuniram a outras entidades, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a ONG Instituto Sócio Ambiental (ISA). Desde 2008, este grupo é o rosto dos que tentam evitar que o primeiro cimento seja colocado na obra.

No início do mês, o Xingu Vivo partiu para a ofensiva final para tentar dobrar o governo. Enviou um documento de 20 páginas a sete relatores da ONU, denunciando supostas violações de direitos humanos causadas pelo projeto. O Ministério Público Federal (MPF) também se somou aos contra, entrando com duas ações civis públicas para embargar a obra e prometendo outras na véspera do leilão.

Na sexta-feira passada, estavam tentando fechar os detalhes da volta do diretor americano James Cameron, de "Avatar", e da atriz Sigourney Weaver, musa ambientalista do mesmo filme, a Brasília, Altamira e à Aldeia Indígena Pacajá, dos índios Caiapó, no Rio Pacajá, afluente do Xingu. Eles participariam de manifestações contra a usina, para chamar atenção do mundo sobre o tema.

Sem afetar diretamente áreas de proteção ambiental, a polêmica em torno de Belo Monte é basicamente social. Sob esse aspecto, o discurso é unificado e coleciona argumentos. O paulista Marcelo Salazar, do ISA, morador há dois anos de Altamira, garante que a obra não faz sentido energético - não vai gerar a energia que promete - e ainda vai abrir a possibilidade de construção de novas usinas no rio Xingu, apesar da negativa do governo federal. Além disso, não faz sentido social.

Falta informação sobre mitigação de dano ambiental
Apoiado em estudos técnicos de consultores independentes, ele afirma que a vazão de água do Xingu não será suficiente para girar as turbinas de Belo Monte como o governo diz. Por isso, o projeto original da usina - dos anos 80 - já previa outras seis barragens rio abaixo, que regulariam o fluxo da água. Segundo Salazar, o nível de água na Volta Grande do Xingu será bem menor do que estudos apontam.

- Isso vai ter um impacto profundo na vida das pessoas, que não poderão pescar e navegar mais - afirma.

Ele reclama também da falta de informações do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) sobre a forma como as populações serão tratadas: - Não existem informações suficientes sobre os cronogramas das obras de mitigação dos danos socioambientais.

Marcelo Dias, coordenador do Xingu Vivo, alerta que a atração de população para a região vai aumentar a especulação imobiliária, despertando conflitos agrários.

- Belo Monte vai colocar mais pólvora, em uma região que já é um barril e não sabemos o que poderá ocorrer - afirma Dias.

A professora Lenilda Gonçalves dos Santos, 38 anos, que dá aulas para 56 crianças de pré-escola à 8asérie na localidade de Santa Luzia, teme o destino dos alunos. Segundo ela, não há qualquer indicação de para onde serão deslocados e o que ocorrerá:
- Não temos qualquer informação sobre para onde vamos. A maioria das crianças nasceu na região e não tem onde ir estudar.

O Globo, 11/04/2010, Economia, p. 28

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