VOLTAR

Reservatório de Sobradinho atinge nível mais baixo

OESP, Economia, p. B8
03 de Ago de 2017

Reservatório de Sobradinho atinge nível mais baixo
Com estiagem, volume de água guardada é o menor já registrado em agosto desde a década de 80; há risco de racionamento na região

André Borges, O Estado de S.Paulo
03 Agosto 2017 | 05h00

BRASÍLIA - O maior reservatório do Brasil em área alagada ainda desconhece os limites de sua crise hídrica. O lago de Sobradinho, na Bahia, iniciou o mês de agosto com apenas 10% de sua capacidade total de armazenamento, o pior resultado registrado para este mês desde que foi formado, em 1980. O volume de água guardada equivale a menos da metade do que Sobradinho tinha em agosto de 2016, quando o principal regulador de águas da Bacia do Rio São Francisco já enfrentava uma situação crítica.
Em agosto de 2012, quando teve início a forte estiagem que castiga toda a Região Nordeste do País, o reservatório estava com 38% de reserva de água. O que está ruim, no entanto, pode piorar.
Por causa do baixo volume de água armazenada, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Ibama analisam a possibilidade de reduzir, nos próximos dias, a vazão de Sobradinho para 550 metros cúbicos de água por segundo (m³/s). Hoje o lago tem liberado 600 m³/s, mas as estimativas apontam que esse volume pode comprometer a situação de abastecimento de água na região até o fim do período seco, ficando abaixo do volume morto em novembro. Para se ter uma ideia do que esse volume de água representa, em situações normais, o volume mínimo que o Ibama autoriza de liberação de água em Sobradinho é de 1.300 m³/s.
"Estamos partindo para volumes de vazão nunca antes praticados, porque passamos por uma crise hídrica que nunca vivemos", diz o presidente da ANA, Vicente Andreu. Ele reconhece, no entanto, que a situação estaria menos crítica se, no passado, as reduções tivessem ocorrido mais rapidamente, em vez de priorizar a geração de energia das hidrelétricas, que demandam maior volume de água para rodar suas turbinas.
Uma redução inédita para 550 m³/s, admite o presidente da ANA, poderá causar um racionamento de água em municípios abastecidos pelo São Francisco, por causa de restrições de infraestrutura nas tubulações que captam água do fundo do rio. Além disso, há preocupação com a chamada "intrusão salina" no rio, o volume de água do mar que avança pelo São Francisco, em decorrência da baixa pressão exercida naturalmente pela vazão do rio. Municípios como Piaçabuçu (AL), localizados na foz do São Francisco, já enfrentam problemas com a qualidade da água que é captada, situação que pode se agravar.
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que, seja qual for a redução de vazão de Sobradinho, o reservatório vai atingir seu volume morto até dezembro, como ocorreu no ano passado. A preocupação atual, portanto, deixou de ser a geração de energia pelas várias hidrelétricas que operam abaixo do reservatório, mas sim garantir a segurança hídrica, com oferta de água para abastecimento humano e irrigação.
"É preciso que cada município busque soluções de captação de água que sejam estruturantes, simplesmente porque não sabemos se já chegamos ao pior cenário ou se as coisas podem se complicar no ano que vem", diz Vicente Andreu.
A reportagem procurou a estatal Chesf, do grupo Eletrobrás, para comentar o reflexo da crise nas operações de suas usinas e as iniciativas para garantir o abastecimento à população, mas não obteve resposta.

Técnicos vão monitorar situação do Rio Tocantins
Principal reservatório do rio, o lago de Serra da Mesa está com apenas 10,8% de sua capacidade total de armazenamento

André Borges, O Estado de S.Paulo
03 Agosto 2017 | 05h00

BRASÍLIA - Os 2.830 quilômetros de extensão do Rio São Francisco deixaram de ser a única preocupação da Agência Nacional de Águas (ANA) atrelada à crise hídrica. Nesta semana, a agência criou um grupo para definir que medidas serão adotadas para evitar o colapso do Rio Tocantins. Com 2.640 quilômetros que avançam pelos Estados de Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, o Rio Tocantins também vive um drama sem precedentes em sua região central.
Seu principal reservatório, o lago de Serra da Mesa, entre Goiás e Tocantins, está com apenas 10,8% de sua capacidade total de armazenamento. Nesta mesma semana do ano passado, esse volume era 13,2%. Na avaliação da ANA, não restará outra saída, senão reduzir as vazões de Serra da Mesa e demais represas do rio. "Passaremos a fazer reuniões regulares para acompanhar a situação da região. É algo inédito para o Rio Tocantins", diz o presidente da ANA, Vicente Andreu.
As reduções deverão afetar, em alguma medida, o volume de energia gerado pelas hidrelétricas em operação ao longo do Tocantins, usinas como as de Serra da Mesa, Estreito e Tucuruí. Hoje o volume de água que passa pelas turbinas da hidrelétrica de Estreito, por exemplo, é de 744 metros cúbicos por segundo, de acordo com dados ANA, mas já está claro que esse volume terá que ser reduzido nas próximas semanas.
Os cortes nos volume de água preocupam o setor elétrico, porque a redução da geração hidrelétrica implica, necessariamente, em acionar mais usinas de geração térmica, que são mais poluentes e caras, com impacto direto na tarifa de energia entregue ao consumidor. Foi o que ocorreu com frequência entre 2013 e 2015.
A crise hídrica que afeta o reservatório de Serra da Mesa, maior lago artificial da América Latina em volume de água armazenado, é inédita. Nas próximas semanas, municípios localizados no entorno da represa que guarda 54,4 bilhões de metros cúbicos de água em épocas de cheia deverão reviver os mesmos problemas enfrentados no período de seca de 2016, quando a estiagem comprometeu a pesca, a geração de energia e o turismo.
Apesar de toda a pressão sobre o Alto Tocantins, na região de Goiás e Tocantins, a crise hídrica não tem previsão de afetar as operações da hidrelétrica de Tucuruí, terceira maior usina do País, só inferior a Itaipu e Belo Monte, que ainda está em construção. Localizada no município de Tucuruí, a 300 quilômetros de Belém (PA), a usina em operação na Amazônia não vive problemas com abastecimento de água, com seu reservatório próximo da plena capacidade.
PARA ENTENDER
As Bacias dos Rios São Francisco e Tocantins estão entre as principais fontes de geração de energia elétrica do País, com distribuição dessa capacidade por meio do Sistema Interligado Nacional, que integra a rede de transmissão de energia. O papel desses reservatórios fica ainda mais evidente quando considerada sua participação na capacidade de armazenamento dentro de suas regiões. O São Francisco e suas represas de Sobradinho, Três Marias e Itaparica respondem por 97% da capacidade total do Nordeste. A Bacia do Rio Tocantins equivale a 96% do que é armazenado em represas da Região Norte. A preocupação do setor elétrico com a piora da estiagem está atrelada ao volume de energia do País que depende de turbinas de hidrelétricas. Hoje o Brasil tem 153 mil MW de potência em operação, dos quais 98.800 MW têm origem nas águas dos rios, o equivalente a 63% do volume total que pode ser produzido.

OESP, 03/08/2017, Economia, p. B8

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,reservatorio-de-sobradinh…

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,tecnicos-vao-monitorar-si…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.