VOLTAR

Reserva guarani de SP vive em precariedade

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
21 de Fev de 2006

Todas as noites, os guaranis da aldeia do Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo, reúnem-se na casa de reza para orar e conversar. Nas últimas semanas, o tema é um só: a falta de moradias. O problema se agravou depois que 39 eucaliptos da área que ocupam há pelo menos dez anos foram cortados, a pedido da própria comunidade.

Na derrubada, em dezembro, 47 casas foram destruídas, agravando a situação já precária das 57 famílias indígenas da área. As que ficaram em pé precisam de reformas. Como conseqüência, os índios se abrigam como podem.

Oito famílias ocupam o Centro Educacional de Cultura Indígena (Ceci), menina dos olhos na gestão Marta Suplicy (PT), criado para o ensino de crianças e incentivo à cultura guarani. As demais se espalham pela casa de reza, pela cozinha comunitária e pelos frágeis barracos de madeira que sobraram.

Na sexta-feira, o coordenador de Assistência e Desenvolvimento Social da Subprefeitura de Pirituba, Fábio Riva dos Santos, foi até a tribo conversar com os índios. Prometeu que até o início do mês a prefeitura vai doar telhas e madeirites, além de ajuda técnica, para construir ou reformar 57 casas, incluindo aí as destruídas pela derrubada dos eucaliptos e as já existentes.

Os próprios índios serão responsáveis pela construção das moradias - três a cada dia - em um esquema de mutirão. Segundo a subprefeitura, não será preciso licitação, porque já há ata de preços feita para os materiais. Eles prometem ainda fazer calçadas em torno da área, que fica próxima da Rodovia dos Bandeirantes, e pedir ao governo do Estado sinalização, informando que ali há uma aldeia indígena.

Tupã Mirim, líder da comunidade, diz que os eucaliptos foram cortados com conhecimento das autoridades, porque traziam risco para a comunidade. Cinco casas já haviam sido danificadas em dias de chuva e vento, com a queda de galhos. O corte causou protestos de gente que vive na região, mas os índios prometem reflorestar a área com árvores frutíferas. "Eles podem ser contra agora, mas no futuro vão gostar", garante o monitor educacional da tribo, Pedro Karai Tataendy.

Segundo ele, vivem hoje na tribo do Jaraguá 220 indígenas. Os primeiros chegaram há dez anos, seguindo o pajé e cacique José Fernandes. "Para nós, ele é o papa. Quando viu o espaço e veio morar aqui com a família, a gente aos poucos foi chegando." Muitos vieram da aldeia de Parelheiros, que já está demarcada, mas também enfrenta dificuldades.

No Jaraguá, é fácil constatar os problemas. As carências de moradia dão à tribo aparência de favela. Numa das antigas salas de aula da Ceci, o quadro-negro virou apoio para roupas e sapatos. De um lado, um fogão cheio de barro e o botijão de gás.

De outro, uma família indígena vendo televisão em cima de um colchão. Os espaços antes utilizados para dança, palco e arquibancada abrigam móveis das famílias. No que era um antigo museu guarani, há restos de fogueira em cima de um tijolo. Um risco, considerando o chão de madeira e o telhado de piaçava.

Particular
Praticamente metade da comunidade é formada por crianças. Em outubro, uma delas morreu e duas mães perderam os bebês por falta de atendimento. Desde aquela época, segundo os índios, uma equipe da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) faz plantão ali. Para eles, os problemas se agravam porque a área que ocupam é particular e ainda não foi demarcada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Isso torna mais difícil a obtenção de ajuda de empresas e até do poder público.

"Temos projetos de moradia e empresas interessadas, mas sempre perguntam se nossa terra está demarcada. Quando dizemos que por enquanto não, ninguém quer ajudar", diz Tupã Mirim. "O que precisamos mais rápido é de casa, mas só com a demarcação vamos conseguir realizar nossos sonhos e ter também outras coisas, como um posto de saúde."

Não há prazos para resolver a questão. Segundo a Assessoria de Imprensa da Funai, o caso está desde 2002 na fase de estudo de identificação para verificar quais as possibilidades para demarcação. Uma delas é ampliar outra reserva indígena que existe na região e já está demarcada.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.