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Reserva aumenta risco na fronteira, alerta Inteligencia

OESP, Nacional, p.A7
20 de Jan de 2004

Reserva aumenta risco na fronteira, alerta Inteligência Relatórios mostram perigos da demarcação contínua de área indígena em Roraima
TÂNIA MONTEIRO
BRASÍLIA - Os órgãos de inteligência do governo, inclusive das Forças Armadas, alertam, em relatórios encaminhados ao Palácio do Planalto, para o risco que a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol em terras contínuas poderá trazer para a segurança nacional. De acordo com os relatórios reservados, a demarcação em Roraima poderá causar "prejuízos para a segurança do País, para o desenvolvimento da região, além do risco de grave conflito" entre os que defendem e os que são contrários à reserva.
"É um absurdo porque há gerações de brasileiros que foram criados ali e não se pode, simplesmente, extinguir dois municípios", declarou o general Luiz Lessa, presidente do Clube Militar e ex-comandante Militar da Amazônia.
Profundo conhecedor da região, Lessa tem verbalizado a inquietação dos oficiais da ativa que preferem manifestar suas preocupações nos relatórios reservados.
"Ninguém é contra a demarcação, mas que ela seja feita em ilhas porque as pessoas não podem ser expulsas do local onde moram e trabalham. Está faltando visão estratégica e de segurança", disse. "No Brasil, a convivência entre índios e não-índios é uma tradição, não havendo como separá-los." Para ele, a polêmica é fruto "da pressão internacional" e "o governo não está atento que aquela área, que é de fronteira, é sensível e pode se transformar em um ponto de conflito".
Dois pelotões do Exército, em Pacaraima e Uiramutã, estão instalados na área da Raposa Serra do Sol, e, mesmo se a demarcação for feita de forma contínua, a manutenção das tropas está garantida por dois decretos de 2002.
Pelos decretos, tanto as Forças Armadas quanto a Polícia Federal têm "liberdade de trânsito" em terras tradicionalmente ocupadas por índios.
Mas tanto o general Lessa como o atual comandante Militar da Amazônia, general Cláudio Barbosa de Figueiredo, manifestaram uma outra apreensão: a possibilidade de esses decretos serem revogados, por meio de pressão das organizações não-governamentais que atuam na região. "A manutenção desse decreto é de fundamental importância porque é a garantia que precisamos para atuar em área indígena e de conservação ambiental", afirmou Figueiredo. "A nossa grande preocupação é com a possibilidade de convulsão interna", continuou ele, que não quis falar sobre os problemas políticos e econômicos que estão envolvidos na discussão. "Nós apenas acompanhamos a evolução dos fatos, pois precisamos estar atentos e informados em relação a tudo."

Inviável - Outro ex-comandante da Amazônia, o general da reserva Alcedir Pereira, disse que, da forma como estão querendo promover a demarcação, toda a riqueza de Roraima estará em terras indígenas, evitando que o Estado explore suas riquezas. "Roraima está se tornando inviável de governar, vão conseguir que toda a área da fronteira norte fique sem a presença de qualquer órgão representante do Estado brasileiro e isso é inadmissível", afirmou.
"O próximo passo é tentar tornar ali um Estado independente e Roraima se restringirá à área de Boa Vista para baixo, com um enorme cinturão de pobreza em torno da capital, formado pelos arrozeiros expulsos de suas terras."

OESP, 20/01/2004, p.A7

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