VOLTAR

Repressao em Anapu sera implacavel, avisa Bastos

OESP, Nacional, p.A7
15 de Fev de 2005

Repressão em Anapu será implacável, avisa Bastos

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, prometeu ontem repressão "dura e forte" aos assassinos da missionária americana Dorothy Stang, de 73 anos, morta com nove tiros no último sábado em uma emboscada em Anapu, a 500 quilômetros de Belém. "Existe um trabalho muito grande naquela região do governo federal em parceria com o governo estadual para tentar civilizar a questão. Isso provoca reações, violência. E a resposta que nós temos é a repressão penal dura, forte e implacável", afirmou o ministro, durante o lançamento da Campanha Nacional do Desarmamento 2005, em São Paulo.
Bastos reagiu às críticas de que o crime seria resultado da falta de ação do governo na região e com relação à proteção da irmã. "Não acho que o governo falhou. As situações são difíceis. A Terra do Meio (como a região de que faz parte Anapu é conhecida) tem sido objeto de uma atenção do governo federal como nunca nenhum governo deu." Ele disse que o único posto da Polícia Federal na região "foi instalado por este governo". Há dois meses foram cumpridos vários mandados de prisão que estavam pendentes, informou o ministro.

Para Bastos, a morte da missionária, que ele conheceu no julgamento dos assassinos do líder seringueiro Chico Mendes, foi justamente uma reação ao trabalho "sério e grande" do governo na região. "É uma reação forte de pessoas que não estão acostumadas com a convivência democrática e civilizada. É a presença do Estado que provoca essa reação, uma prática que vem desde os tempos do Brasil colônia", disse.

Segundo ele, está em andamento um trabalho interministerial e em cooperação com o governo do Pará para resolver a situação local. Hoje haverá reunião entre ministros para discutir a ação integrada. Participarão, entre outros, Nilmário Miranda (Direitos Humanos), Ciro Gomes (Integração Nacional), José Dirceu (Casa Civil), Marina Silva (Meio Ambiente) e Thomaz Bastos. "Acreditamos que em mais algumas horas aquelas pessoas (suspeitas pelo crime) estarão presas", disse.

COBRANÇA

A morte da missionária dominou os discursos no lançamento da campanha. O arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, que dividiu o palco com Bastos e o prefeito José Serra, dedicou a maior parte do seu pronunciamento ao caso. O arcebispo falou da indignação e do choque que foi para a Igreja o assassinato. "É um dia triste, um dia em que todos estamos chocados e indignados depois que ouvimos a notícia do assassinato torpe da irmã Dorothy. É um exemplo vivo do quanto importante é combater a violência e a injustiça no Brasil."

Segundo ele, a irmã era "exemplo de pessoa que lutava pelos direitos humanos, pelos mais injustiçados e para que o povo possa viver melhor e em paz". Em tom de cobrança, o arcebispo pediu apuração exemplar do crime. "Nós esperamos que este crime seja apurado até o fim e que sejam punidos aqueles que estão por trás dele."

O assassinato foi classificado pelo presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho, Grijalbo Coutinho, como um crime covarde. "Os juízes do trabalho repudiam o crime bárbaro praticado contra a missionária e aguardam rigorosa punição dos grileiros e de seus agentes."

Coutinho acha lamentável que no Brasil o direito à terra seja tratado com intolerância por quem se julga dono de latifúndios que são quase sempre terras griladas do poder público. "A causa dos direitos sociais humanos está de luto, mas não será calada por nenhum assassino covarde", enfatizou.

OESP, 15/02/05, Nacional, p.A7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.