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Represas de São Paulo estão cheias

OESP, Metrópole, p. C4
06 de Jan de 2010

Represas de São Paulo estão cheias
Quatro das 11 principais barragens estão acima do limite de segurança

Felipe Oda

Quatro das onze principais represas que abastecem de água a região metropolitana de São Paulo estão operando com volume superior a seus limites de segurança. Outras duas estão próximas de exceder esses limites, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) - tudo por causa do excesso de chuvas.

A empresa vem realizando operações de "descarregamento" do excesso de água nos rios, para afastar o perigo de transbordamento. Mesmo assim, um reservatório em Atibaia já ultrapassou o nível máximo e causou alagamentos (leia ao lado).

O Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 8,8 milhões de pessoas, é composto pelas barragens Jaguari/Jacareí, Paiva Castro, Atibainha e Cachoeira. Nas últimas duas represas, o volume de água ultrapassava, ontem, em 9,7% e 2,4%, respectivamente, os níveis de segurança para armazenamento. Em Jaguari/Jacareí o volume armazenado ainda está 1,4% inferior ao limite e em Paiva Castro, ainda faltam 4,6% para a barragem chegar ao volume máximo. A capacidade de segurança total do sistema é de 98%. Atualmente, ele opera com 96,8% do nível ocupado.

Os sistemas Guarapiranga e Rio Grande (Represa Billings), que juntos abastecem cerca de 5,4 milhões de pessoas, também operam com volume de água armazenada superior ao limite de segurança. Informações da Sabesp indicam que o Guarapiranga tem 77,1% de sua capacidade preenchida pelas águas e o Rio Grande, 97,6%. No entanto, o limite de segurança exato nesses sistemas não foi divulgado pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), também responsável pelos reservatórios.

Procurada pela reportagem, a empresa não se manifestou. A situação nos cinco reservatórios administrados pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) que formam o Sistema Alto Tietê também não foi divulgada pela empresa responsável.

PREVISÃO

Para os próximos três meses estão previstos 240 mm de chuva na cidade. Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o volume é 25% superior ao registrado em dezembro, quando a capital enfrentou enchentes como as do Jardim Romano, na zona leste, e das Marginais do Pinheiros e do Tietê. Por esse motivo, a Agência Nacional de Águas (ANA) prevê ainda mais problemas nos próximos meses.

Hélio Luiz Castro, superintendente da Sabesp, diz que a empresa está preparada para emergências. "É de se esperar que aconteçam chuvas intensas e por isso nós estamos descarregando algumas represas", explica.

Medidas para dar vazão ao volume de água são eficazes na opinião dos especialistas ouvidos pela reportagem. "Não há um grande motivo de preocupação, caso o limite de segurança de cada compartimento (represa) seja respeitado. Só uma cheia extraordinária poderia acarretar danos", afirma Mário Thadeu Leme de Barros, especialista em Engenharia Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Daniel Henrique Candido, doutorando em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta que o perigo das represas operarem acima ou próximas dos limites de segurança são as edificações irregulares ao longo dos rios que as abastecem.

"O sistema (de represas) é projetado para suportar um volume X de água. Porém, os represamentos irregulares, como lagos, braços do rio desviados para a agricultura, podem sobrecarregá-lo em períodos de chuvas intensas. A represa pode não estar preparada para receber a água desses ramais", alerta Candido.

Atibaia critica Sabesp e decreta emergência

Marcela Spinosa

Os estragos provocados pela chuva fizeram a prefeitura de Atibaia, a 69 km da capital, decretar ontem situação de emergência. O rio que leva o nome do município transbordou no fim de semana e atingiu 500 famílias, em cinco bairros. Cinco estão desabrigadas e 80, desalojadas. A inundação, segundo a prefeitura, foi provocada pelo excesso de chuva e pela abertura das comportas das represas de Nazaré Paulista e Piracaia. Ambas chegaram perto do limite de volume de água armazenada e tiveram parte da água "descarregada" pela Sabesp no Rio Atibaia.

O nível das represas, que compõem o Sistema Cantareira (conjunto de reservatórios que abastece a Região Metropolitana de São Paulo), atingiu 96,5%. Por isso, segundo a Sabesp, as comportas foram abertas no dia 23 para dispensar o excesso de água. A empresa ressalta que a abertura das comportas não contribuiu com a cheia. Segundo a Sabesp, a operação de descarregar as águas ajuda a conter as cheias porque as represas retêm parte da vazão do rio e liberam a água aos poucos. A prefeitura, no entanto, diz que esse procedimento colaborou com o transbordamento do rio. "O rio já estava cheio antes das chuvas. Por isso, por menor que fossem as precipitações, a capacidade de escoar água já estava comprometida", disse o chefe da Defesa Civil do município, Maurício Benevides.

O prefeito José Bernardo Denig (PV) esteve ontem na capital para tentar liberação de verbas para suprir gastos com as enchentes.

OESP, 06/01/2010, Metrópole, p. C4

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