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Renda familiar cresce 10,8%, mas falta dinheiro para comprar alimentos

OESP, Economia, p. B6
24 de Jun de 2010

Renda familiar cresce 10,8%, mas falta dinheiro para comprar alimentos
Apesar do avanço do poder aquisitivo das famílias brasileiras de 2003 a 2009, mais de um terço tem comida insuficiente, diz o IBGE

Glauber Gonçalves, Jacqueline Farid / Rio

O rendimento das famílias brasileiras cresceu 10,8% de 2003 para 2009, bem acima dos 6% de alta dos gastos domiciliares no mesmo período. Mas, apesar do avanço no poder aquisitivo, mais de um terço das famílias (35,5%) vive com "insuficiência da quantidade de alimentos consumidos", como mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 (POF), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento demonstra que a meta "fome zero" lançada no início do governo Lula ainda não é realidade no País, embora o acesso das famílias brasileiras à comida tenha aumentado significativamente em sete anos. Na POF anterior, referente a 2002/2003, a alimentação era insuficiente para 46,7% das famílias consultadas.
De acordo com os dados coletados no ano passado, na Região Norte, que teve o maior aumento de renda (19,16%), passando à média mensal de R$ 2.092,32, mais de 50% das famílias ainda não comem o que necessitam.
Para o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, os dados confirmam a redução da desigualdade no País, porém em ritmo inferior ao do desenvolvimento econômico. "Nós percebemos a redução das desigualdades de uma forma clara. Ela revela o padrão de desenvolvimento da nossa economia, entretanto numa velocidade menor do que o grau de enriquecimento do País", avalia.
Em todo o País. Houve redução da fome em todas as regiões brasileiras. Os destaques são o Sudeste, onde os alimentos eram insuficientes para 43,4% das famílias em 2003 e em 2009 a situação baixou para 29,4%, e o Norte (de 63,9% para 51,5%).
Apesar de comerem mais, as famílias brasileiras ainda não conseguem escolher os alimentos. Apenas 35,2% delas consomem sempre os alimentos "do tipo preferido", enquanto 52% nem sempre conseguem comer o que querem. Outras 12,9% das famílias "raramente" dispõem do tipo preferido.
Já as despesas mensais de consumo das famílias com transporte cresceram nos últimos anos e boa parte desse aumento pode estar associada à maior disponibilidade de financiamento para a compra de automóveis, avaliam os técnicos do IBGE. A POF mostra que, em 2009, a maior parte das despesas familiares de consumo (75%) estava com o trio transporte, alimentação e habitação, praticamente o mesmo porcentual de 2003.
Porém, enquanto a fatia da alimentação no total de despesas de consumo caiu um pouco entre 2003 (20,8%) e 2009 (19,8%), e o porcentual da habitação ficou inalterado em torno de 36%, no caso do transporte houve aumento de 18,4% para 19,6%, ou seja, parte dos gastos com alimentação foi deslocada para o transporte.
O gerente da POF, Edilson Nascimento Silva, disse que o aumento nos gastos com transportes está relacionado a dois fatores: maior disponibilidade de financiamento para compra de carros e alta nos preços dos combustíveis. Além do transporte, também subiram os gastos de consumo com assistência à saúde (6,5% para 7,2%), mas caiu a parcela voltada para educação (4,1% para 3%).
Para José Márcio Camargo, o aumento na aquisição de automóveis é mais um dado que mostra a redução da pobreza. "A mudança da estrutura de gastos indica que as famílias brasileiras ficaram mais ricas nesse período. Com aumento da renda, tendem a gastar mais com transporte, automóvel e gasolina."

OESP, 24/06/2010, Economia, p. B6

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100624/not_imp571150,0.php

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