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Religiosos e madeireiros criticam Planalto

FSP, Brasil, p.A7
15 de Fev de 2005

Para d. Pedro Casaldáliga, governo "joga" a favor do agronegócio; sindicatos pedem liberação de manejo florestalReligiosos e madeireiros criticam Planalto
Da Agência Folha, em Campo Grande Da Agência Folha O bispo d. Pedro Casaldáliga, 76, da prelazia de São Félix do Araguaia, norte de Mato Grosso, disse ontem, sobre o assassinato da missionária Dorothy Stang, 74, que o governo não faz "a reforma agrária porque está jogando a favor do agronegócio, do latifúndio, das madeireiras, das mineradoras e das multinacionais".O governo Lula, segundo Casaldáliga, não reagiu a esse sistema e a situação seria ainda pior "não fosse o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] que cutuca e obriga uma reação de vez em quando"."Pensa-se no FMI [Fundo Monetário Internacional], na dívida externa e no paraíso das exportações e se quer o lucro imediato. Deveriam atender, muito antes da dívida externa, a dívida nacional com gente que passa fome, desempregada, e tem sofrido cada vez mais a conseqüência da política agressiva dos agronegócios contra o meio ambiente", disse.Casaldáliga sofre ameaças de morte. Em 2003, sua igreja amanheceu pichada com a frase "padre espião, traidor contra o povo e o Brasil". O bispo, porém, está pessimista. "Quando morre alguém assim, durante uns 15 dias, os meios de comunicação tratam do caso, mas depois passa."O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, cobrou ação mais efetiva do governo. "Era uma morte anunciada. Deveria existir empenho maior do governo na segurança da população, principalmente na segurança de pessoas mais vulneráveis, como era o caso da irmã."MadeireirosOs sindicatos e as associações das indústrias madeireiras do sudoeste do Pará utilizaram ontem notas de pesar pelo assassinato para pedir a liberação de projetos de manejo florestal na região.Pelo menos três entidades do setor madeireiro, além da Faepa (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará) e do Sindicorte (Sindicato Paraense da Pecuária de Corte), protestaram contra restrições do governo à exploração de áreas florestais."A missionária é mais uma vítima da falta de regularização fundiária que já ceifou tantas outras vidas pela Amazônia afora [...]. A falta de estrutura dos órgãos responsáveis [...] juntamente à ganância de pessoas inescrupulosas, faz explodir constantes conflitos que só prejudicam a imagem do setor regional", diz a Asimas (Associação das Indústrias Madeireiras de Santarém e Região).O presidente do Simaspa (Sindicato das Indústrias Madeireiras do Sudeste do Pará), Luiz Carlos Tremonte, assina nota na qual lamenta a morte e pede que "as pessoas que detêm o poder possam solucionar o grave problema fundiário do Pará e da Amazônia, sem tirar o direito de trabalhar".Em manifestação conjunta, o Simbax (Sindicato da Indústria Madeireira do Baixo e Médio Xingu) e o Sindicorte classificaram a morte de "covarde" e afirmaram que "as divergências do setor com a política adotada pelo governo estão sendo manifestadas no foro próprio, que é o Judiciário".O presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Sudeste do Pará, Luiz Carlos Tremonte, rebateu a declaração da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que descreveu os madeireiros como "pessoas muito barra pesada". "Com uma declaração dessas, fica claro para mim que o governo quer o conflito. Vou telefonar para todos os sindicatos para mover uma ação contra ela. Gente que tem o poder deveria ter mais cuidado com o que fala", disse. (HUDSON CORRÊA e SILVIO NAVARRO)

Thomaz Bastos promete punição "implacável"
Lílian ChristofolettiDa Reportagem local O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, prometeu punição "rigorosa" e "implacável" para os assassinos da irmã Dorothy Stang, 74, morta a tiros na manhã de sábado em Anapu (PA).Bastos defendeu uma atuação conjunta entre o governo federal e o governo do Estado do Pará para localizar os criminosos."O que aconteceu com a irmã é indesculpável, é uma tragédia, e tem de ser punido com rigor, e vai ser punido com rigor", afirmou o ministro, que participou em São Paulo de ato público pelo desarmamento, ao lado do prefeito José Serra (PSDB). "O governo vai agir de forma firme e implacável".O ministro afirmou ter conhecido a freira durante o julgamento dos acusados pelo assassinato do ecologista e líder seringueiro Chico Mendes, morto em dezembro de 1988, quando ele era o então assistente da acusação.Tal como Chico Mendes, Stang também foi ameaçada de morte. Missionária da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a freira trabalhava na região da Transamazônica em defesa dos trabalhadores rurais há pelo menos 20 anos.O ministro disse que não houve omissão do governo em relação ao crime e que a questão antecede a gestão Luiz Inácio Lula da Silva.
FSP, 15/02/2005, p.A7

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