VOLTAR

A religião mudou mitos e costumes indígenas

Jornal Nacional - http://migre.me/7RXi
24 de Set de 2009

Na quarta reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana, Lúcio Alves e Marcelo Canellas mostram, nesta quinta, como a religião mudou crenças, mitos e costumes dos povos indígenas.

Na quarta reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana, Lúcio Alves e Marcelo Canellas mostram, nesta quinta, como a religião mudou crenças, mitos e costumes dos povos indígenas.

"No princípio criou Deus o céu e a terra", disse o pastor. "A partir da baforada da fumaça do cigarro do avô do universo", acredita o índio. "E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança", segue o pastor. "Apareceu o ser humano em forma de redemoinho", reza o índio. No fundo, não seria o mesmo?

"O mito é o Gênesis da Bíblia na cultura indígena. Isso explica tudo", disse Genézio Savassa, padre salesiano.

Mas nem toda pregação é assim tão flexível. "Dançar eu posso, mas pra Jesus", disse Ana Ribeiro, índia wanana.

Índios num batismo em massa nas águas do Rio Negro. Os pastores dizem que é um ato de renúncia. E muitas vezes de adesão irrestrita a um novo conceito de Deus.

"Você tem que ensinar, que eles não conhecem o que está escrito na palavra, que tem um Deus que criou eles, que não é Deus Sol, que não é Deus Lua, que é um Deus que está escrito na bíblia", diz Wellington da Silva Monteiro, pastor da Assembléia de Deus.

"Deus é a natureza, são as árvores, a própria caça, a própria pescaria", acredita
Domingos Sávio Barreto, índio tukano.

Domingos acha que alguns evangélicos estão fazendo agora o que os católicos já fizeram antes. "Nos ensinaram dizendo: o que vocês têm não presta, não serve", acredita ele.

Ex-padre, domingos foi um dos alunos das imensas missões católicas inacreditavelmente construídas no meio da selva numa época em que acesso era muito mais difícil.

A partir de 1914, quando começaram a chegar aqui, os padres salesianos foram proibindo tudo: malocas coletivas, rituais, línguas.

"Disseram que a nossa cultura era do demônio", Damásio Azevedo, índio tukano. A nudez dos índios era considerada obscena.

Horácio, como todos os de sua aldeia, também chegou nu ao colégio há mais de 50 anos. Mas os padres o transformaram no primeiro alfaiate indígena da Amazônia.

"Fomos nós mesmo que vestimos os índios de Iauaretê", disse o alfaiate Horácio Moreira. Durante quase um século os ritos romanos da igreja tomaram o lugar dos mitos ancestrais.

A obsessão católica da conversão dos selvagens foi diminuindo com o tempo. A ideia de que há almas pagãs vagando na floresta e de que elas precisam ser salvas a qualquer custo já não é mais aceita pela direção da Igreja. O novo chefe da diocese de São Gabriel da Cachoeira chegou aqui já com a fama de ser o bispo dos índios.

A ordenação episcopal foi uma festa indígena. O gaúcho Edson Damian foi benzido e ganhou um cocar. Rezou a primeira missa numa igreja em forma de maloca. E veio disposto a rever o conceito de conversão.

"São os índios que estão vivendo como viviam os primeiros cristãos que tinham tudo em comum, nós é que temos que nos converter a eles", disse Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira.

Para ele, é papel da igreja defender os direitos dos índios. "O índio sem terra é o índio que perdeu toda a sua referência cultural e religiosa", acredita Dom Edson.

Dom Edson não está sozinho. Há entre os evangélicos, quem busque conciliar transcendência e vida concreta.

"A cultura só tem valor quando tem vida. Se não tiver vida, não tem valor a cultura. Então alguém precisa cuidar da saúde do índio, da vida do índio, do bem estar social do índio", disse Celânio Benjamim da Silva, pastor da Assembléia de Deus.

O esforço ecumênico de salvar a alma sem acabar com a tradição. "Para que o evangelho possa entrar no coração desses povos sem destruir os valores que eles já trazem, a cultura maravilhosa que eles conservam até hoje", disse dom Edson.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.