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Relatório mostra que saúde indígena vai mal no Estado

A Gazeta - Cuiabá - MT
Autor: Najla Passos
06 de Abr de 2001

A saúde dos índios mato-grossenses vai mal. A cada 20 crianças nascidas vivas, uma morre antes de completar 12 anos. Em Mato Grosso, no geral, o coeficiente de mortalidade infantil é de 27,96. No Rio Grande do Sul, estado que também possui uma grande população indígena, o mesmo coeficiente cai para 19,40.
Mas, voltando a Mato Grosso, para cada 10 mil índias grávidas, 360 morrem ao dar à luz. O tolerável, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), é de apenas uma. O índice geral de mortalidade indígena não é menos assustador. Em 2000, foi de 6,9 índios para cada mil.
Os números foram apresentados ontem durante o seminário "Saúde nas Aldeias", promovido pela organização não-governamental Trópicos, responsável pela aplicação de 80% dos programas de saúde indígena desenvolvidos pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no distrito de Cuiabá.
De acordo com o gerente do projeto Saúde nas Aldeias da Trópicos, Villi Seilert, a situação tem melhorado muito, embora a ONG não tenha dados comparativos com anos anteriores. "Não existem dados sistematizados sobre saúde indígena", justifica. Segundo ele, a melhoria no atendimento à saúde é inquestionável. "Até iniciarmos o projeto, não havia registro de visitas médicas nas aldeias da região", afirma.
Lideranças indígenas presentes ao evento contestaram a informação. E aproveitaram para protestar contra a política adotada pelo governo federal. "Os brancos continuam decidindo tudo sem ir às aldeias, sem ouvir os índios, que são quem realmente sabem das suas necessidades", afirma o presidente do Conselho de Saúde dos Parecis, Carlito Okenazoku.
O presidente do Conselho de Saúde Bakaeri, Alinor Aiakade Kaluiava, concorda. "A gente até participa das discussões, mas nunca somos ouvidos. Não conseguimos encaminhar as propostas. Quando vamos à Funasa, dizem que a responsabilidade é da Trópicos. Na Trópicos, dizem que é da Funasa".

ONG é responsável por 80% da assistência médica em MT

A terceirização dos programas de saúde indígena foi aprovada pelo governo federal em julho de 1999, através de Medida Provisória (MP), que transferiu a responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai) para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Na época, o governo enfrentou forte resistência dos indígenas, que chegaram a se deslocar até Brasília para protestar contra a medida. Chegou a ampliar os recursos destinados ao programa em 5,5 vezes para conseguir a aprovação, mas os índios resistiram.
Com a publicação da MP, a Funasa firmou parceria com diversas ONG"s para executar o programa. Uma delas é a Trópicos, responsável por 80% das ações desenvolvidas pelo distrito de Cuiabá, um dos quatro de Mato Grosso, segundo mapeamento da Fundação.
O distrito engloba uma população geral de 3.798 índios, agrupados em 640 famílias, distribuídos em 59 aldeias. São seis as etnias assistidas: bakairi, bororo, nhambikwara, pareci, umutina e terena.
De acordo com Villi Seilert, a Trópicos já movimentou recursos da ordem de R$ 3,4 milhões em investimentos de saúde indígena, desde que firmou contrato com a Funasa. Ergueram 10 postos de saúde, reformaram outros 12, implantaram uma rede de comunicação entre as aldeias com 27 sistemas de radiodifusão.
"Nunca um governo investiu tanto em saúde indígena como o atual. No entanto, em função do déficit acumulado nos últimos 20 anos, esses recursos ainda não são suficientes. Além disso, os índios precisam de muitas outras coisas para viver bem, como alimentação saudável e atividade econômica rentável, entre outras", afirma.

Pneumonia provocou mais mortes

A pneumonia foi a doença que mais vitimou indígenas em 2000. No geral, as doenças respiratórias responderam por 12,5% do total de óbitos registrados no distrito de Cuiabá. Com índices equivalentes, estão as complicações obstétricas diretas, as indiretas e as doenças infecciosas e parasitárias.
O que mais chocou a equipe médica da Trópicos, no entanto, foi o alto índice de óbitos causados por câncer entre os índios, por esta não ser uma doença típica das aldeias. Foram outros 12,5% do total. As mortes por causas não definidas também preocupam a ONG.

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