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Relatorio da Operacao Albatroz pode complicar governador do Amazonas

O Globo, O Pais, p.4
30 de Ago de 2004

Relatório da Operação Albatroz pode complicar governador do Amazonas
Helena Chagas e Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. As investigações da Polícia Federal sobre um esquema de desvio de recursos públicos no Amazonas supostamente chefiado pelo deputado estadual Antônio Cordeiro (sem partido) poderão complicar a situação do governador Eduardo Braga (PPS). Relatório reservado da chamada Operação Albatroz registra várias conversas em que Cordeiro comenta vantagens prometidas a ele pelo governador. O documento menciona encontros entre Braga e o deputado e informa que os dois mantêm estreito envolvimento”.
A partir das informações do relatório, o delegado Rodrigo Fernandes, responsável pelas investigações, já indiciou cinco integrantes e ex-integrantes do núcleo central da equipe de Braga por suposto favorecimento às empresas de Cordeiro em licitações promovidas pelo governo estadual.
Até agora, 34 pessoas já foram indiciadas
As investigações da Albatroz começaram em janeiro de 2003 a partir de uma denúncia sobre suposto enriquecimento ilícito de Cordeiro. Até agora, 34 pessoas foram indiciadas por envolvimento no suposto esquema de fraudes em licitações no Amazonas. Em dez anos de existência, o grupo teria desviado R$ 500 milhões dos cofres públicos.
Um dos trechos mais comprometedores do documento é o diálogo entre o deputado e o empresário José Farias Freire, o Marquinho, sócio dele na empreiteira Tetoplan, em 25 de julho de 2003. Depois de participar de uma reunião na casa de Eduardo Braga, Cordeiro telefona para Marquinho e comemora uma conquista.
— Ele (governador) pediu pra mim ( sic ) falar com aquele rapaz, que é pra me dar uma obra — diz o deputado.
Segundo o relatório, o rapaz era o então secretário de Infra-estrutura João Bosco Saraiva. Na mesma conversa, Cordeiro afirma que Braga prometera a ajuda só para ele e nenhum outro empreiteiro seria beneficiado. Logo depois da conversa, Cordeiro telefona para Bosco Saraiva para falar sobre a obra supostamente prometida pelo governador.
— Bosco, o governador pediu pra mim, depois que ele sair contigo, pra vocês visitarem obras, que eu fiquei de ir pra algumas também, pra mim ( sic ) sentar contigo. Aí eu tô ligando pro meu amigo marcar o local e o horário — sugere o deputado Antônio Cordeiro.
Governador não quis comentar as denúncias
Procurado pelo GLOBO na quinta e na sexta-feira, Braga não comentar as denúncias da Operação Albatroz. Segundo um assessor, o governador não falará sobre os comentários de Cordeiro porque o caso está sob segredo de Justiça. Os assessores negam, no entanto, que Braga tenha favorecido a Tetoplan e a Pointer, outra empresa ligada a Cordeiro. Alegam que as acusações vieram à tona agora por causa das eleições.
— As obras foram executadas. Estão aí pra quem quiser ver — disse um dos assessores do governador.
Cordeiro também não quis entrar em detalhes sobre os diálogos em que cita Braga.
— Não me lembro que eu tenha falado nada com o governador — disse Cordeiro.
Empresas ganharam três licitações
Duas empresas vinculadas a Antônio Cordeiro, a Tetoplan e a Pointer, ganharam três licitações promovidas pelo governo do Amazonas em 2003. Uma das licitações vencidas pela Tetoplan foi cancelada no último dia 10, menos de 24 horas depois da deflagração da Operação Albatroz. A empresa receberia R$ 26 milhões para executar obras de ampliação da avenida Max Teixeira, em Manaus. Pelos cálculos da PF, a obra poderia ser executada por um terço do valor que seria pago à empreiteira do deputado.
No relatório de 1.260 páginas, a PF descreve com detalhes conversas telefônicas e encontros de Cordeiro com os secretários da Fazenda, Isper Abrahim, da Infra-estrutura, Fernando Elias, com os ex-secretários de Fazenda Alfredo Paes e de Infra-estrutura Bosco Saraiva e com o ex-presidente da Comissão Geral de Licitação João Gomes Vilela. Os cinco foram indiciados por formação de quadrilha.
Numa conversa com o amigo Isaltino Barbosa em novembro de 2003, Cordeiro conta que o então secretário de Controle Interno, Ética e Transparência, Isper Abrahim, ensinou-o a driblar um pregão para a compra de medicamento. O pregão é uma licitação aberta e instantânea. Segundo especialistas, esse tipo de licitação é mais difícil de ser fraudada que as comuns, executadas a partir de propostas apresentadas em envelopes fechados.

O Globo, 30/08/2004, p. 4

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