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Relato sobre mortos, o estopim

OESP, Nacional, p.A4
13 de Jan de 2006

Relato sobre mortos, o estopim
Funai se irritou com exageros em dados da Anistia
Roldão Arruda
É cada vez mais intenso o debate sobre a porção do território nacional que deve ser destinada aos índios. No Congresso existe até uma proposta de emenda constitucional que transfere para o Senado a competência para aprovar os processos de demarcação de terras. É de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti, do PTB de Roraima – Estado que tem 50% de sua área ocupada por reservas indígenas e florestais.
Até agora, porém, nenhum alto dirigente da Funai tinha feito referência tão explícita ao exagero das reivindicações por mais terras. O estopim da crise foi um relatório divulgado na semana passada em todo o mundo pela Anistia Internacional, no qual se afirma que 38 ativistas indígenas foram assassinados no Brasil em 2005 – o que corresponderia ao índice mais elevado dos últimos 11 anos.
O relatório, baseado em números fornecidos pelo Cimi, irritou a direção da Funai. Segundo seu presidente, Mércio Pereira Gomes, foram de fato registradas mortes por disputas de terras. Mas a afirmação de que 38 ativistas foram mortos é exagerada. Pelo menos metade desse número, disse ele à Reuters, refere-se a mortes causadas por disputas entre os índios, na maior parte das vezes em estado de embriaguez.
Assessores do Cimi disseram ontem que a entidade nunca afirmou que eram 38 ativistas. O erro teria sido da Anistia. Os mesmos assessores, porém, insistiram em que a paralisia” nas demarcações expõe os índios a situações de violência.
Para o Cimi e outras organizações não-governamentais de defesa dos interesses indígenas, o governo estaria agindo com lentidão por causa de acordos para manter a base parlamentar no Congresso. Texto divulgado no ano passado pelo Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas afirma que está ocorrendo no País uma negociação política sem precedentes” do direito dos índios.
O assunto envolve também o Poder Judiciário, que seria lento demais, segundo o Cimi e a Funai.

Disputa mostra distância entre governo e ONGs
Roldão Arruda
O novo embate entre o Cimi e a Funai é mais um indicador do fosso que se abre entre o governo Lula e os chamados movimentos populares, especialmente aqueles ligados à ala progressista da Igreja Católica – que ajudou o PT a crescer e fez campanha para eleger o atual presidente.
O Cimi e sua coirmã, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), figuram hoje entre os críticos mais ácidos do governo. As duas entidades lidam com a questão da redistribuição da terra e acusam Lula de ter se rendido aos encantos do agronegócio.

OESP, 13/01/2006, p. A4

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