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Refúgios florestais de Belém estão restritos a três bairros

O Liberal - www.orm.com.br
13 de Set de 2009

Uma cidade com esgotos a céu aberto, ameaçada pela invasão de animais peçonhetos, recepcionados pelo calor. Além da hostilidade da população, os bichos enfrentariam a ausência de água potável e de sombra de árvore para se proteger. Horrível morar em um lugar assim, não? Mas essa cidade, em pouco anos, poderá ser Belém. De acordo com o estudo mais recente do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a capital paraense atualmente abriga apenas 31% de sua vegetação original.

A interferência do homem na cidade não foi bem sucedida. Sem planejamento, não valorizou as florestas. O crescimento da maioria dos bairros também ocorre de maneira desorganizada e sem responsabilidade ambiental. Em Belém, hoje, há focos de áreas verdes apenas nos bairros da Terra Firme, Val-de-Cães, Utinga e nas proximidades das avenidas João Paulo II e Júlio César. A permanência de florestas em áreas urbanas é um indicador de qualidade de vida e exemplo de sustentabilidade.

As Áreas de Proteção Ambiental (APA) são a alternativa atual para evitar a destruição da cobertura floresta que sobrou. São úteis para disciplinar o processo de ocupação urbana e otimizar os recursos naturais encontrados em uma metrópole. A APA de Belém, mais conhecida como mata do Utinga, convive cercada por aglomerados urbanos, como o entroncamento, Embrapa, Ceasa, Ufra e a Avenida João paulo II.

De acordo com o Imazon, até 2006, 50% do Utinga já havia sido desmatado. Já o Parque Ecológico de Belém, no conjunto Médici, perdeu 45% de suas matas originais. 'O tamanho de áreas verdes identificados na cidade é pequeno, com execessão daquelas regulamentadas por lei. O Estado detém as áreas do Utinga, APA do Combu e Pirelli. Nesses três locais, há gerência, vigilância e equipe administrativa. Já a APA de Belém, de um ponto de vista ecológico, é impensável', diz o engenheiro florestal e coordenador de ecossistemas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Crisomar Lobato.

'Não conseguimos saber se daqui a cinco anos ainda vamos ter alguma vegetação primária', alerta o biólogo do Museu Emílio Goeldi, Leandro Ferreira. Ele explica que os fenômenos provenientes do desmatamento em larga escala podem ser observados atualmente na capital. Por conta da falta de planejamento urbano, destruição e perda na qualidade da vegetação, cobras, escorpiões e aranhas, começam a buscar refúgio no asfalto.

'Com a expansão dos bairros para as florestas, os animais não têm para onde ir. Se você tem uma casa ou uma sombra, eles vão tentar se proteger ali', afirma Leandro Ferreira. Macacos, aves e insetos também podem apresentar o mesmo comportamento. 'O bosque Rodrigues Alves, que tem limitação de floresta e é cercado de poluição sonora e atmosférica, está morrendo. Os animais, estressados ou em situação de superpopulação, podem pular as cercas', completa.

São lagos Bolonha e Água Preta, no Utinga, os responsáveis pela água que abastece a cidade. As nascentes dos mananciais estão sendo invadidas pela expansão dos bairros. Sem consciência ambiental, a população não faz cerimônia em despejar lixo e dejetos na água, deixando-a imprópria para consumo e disseminando doenças como cólera, diarréia, febre tifóide e hepatite. 'A solução seria fazer a recuperação destes rios, replantando a mata ciliar (às margens dos cursos d'água) que havia antes, pois ela é responsável por proteger e filtrar as impurezas que contaminariam o rio', analisa o biólogo.

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