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Refugiados do clima serao 150 milhoes em 2050, diz especialista

FSP, Ciencia, p.A15
03 de Fev de 2005

Cifra foi apresentada ontem na Inglaterra
Refugiados do clima serão 150 milhões em 2050, diz especialista
O aquecimento da Terra pode provocar o deslocamento de 150 milhões de pessoas em meados deste século. A conclusão é de um estudo apresentado ontem durante uma conferência científica em Exeter (Reino Unido), destinada a debater a estabilização das mudanças climáticas.
Um outro trabalho científico apresentado no encontro reúne pela primeira vez as informações disponíveis sobre o impacto que variados graus de aquecimento terão sobre os ecossistemas da Terra. Seu autor afirma que, para uma elevação de 3C na temperatura global em relação aos níveis pré-industriais, o gelo do Ártico e a Amazônia têm risco de perder 50% da sua área ou das suas populações animais e vegetais.
Os "refugiados do clima" fogem da seca, que deve tornar estéreis diversas zonas de cultivo, e das inundações. Calcula-se que só a Índia terá 30 milhões de refugiados devido a enchentes, e que um sexto do território de Bangladesh pode sumir sob as águas ou ter seu solo arrasado.
Segundo o pesquisador nigeriano Anthony Nyong, as temperaturas podem subir 2C, e as chuvas podem sofrer uma redução de 10% por volta de 2050 se a tendência atual de aquecimento continuar. Isso significaria secas mais graves que, de acordo com Nyong, poderiam levar à fome até 100 milhões de africanos.
Escala da tragédia
Em sua apresentação ontem em Exeter, Bill Hare, ex-negociador-chefe do Greenpeace para a questão climática e pesquisador do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos em Potsdam (Alemanha), compilou uma escala que mostra os impactos da mudança climática se multiplicando à medida que a temperatura global sobe, de 1C a 3C.
Hoje o processo já se iniciou, com uma média global 0,7C acima da média no período pré-industrial (antes que a humanidade começasse a queimar grandes quantidades de combustíveis fósseis, como carvão mineral, que emitem dióxido de carbono, gás que aprisiona o calor irradiado pela Terra na atmosfera).
Nos próximos 25 anos, quando as temperaturas se aproximam da marca de 1C a mais, alguns ecossistemas já começam a entrar em risco alto de perda de mais de metade da sua biodiversidade. Entre eles estão alguns "hotspots", locais com grande número de espécies endêmicas, como o Karoo das plantas suculentas, na África do Sul. Em alguns países do Terceiro Mundo, a produção de alimentos já começa a declinar.
É quando as temperaturas chegam a 2C acima do nível pré-industrial, algo esperado para a metade do século, que os efeitos mais sérios começam a se fazer sentir, de acordo com vários estudos (veja o quadro acima).
Acima de 3C de aumento, o que poderá acontecer antes do fim do século, os efeitos seriam catastróficos. O gelo do Ártico desapareceria, e a escassez de água atingiria 3 bilhões de pessoas a mais do que hoje.
Com France Presse e "The Independent"

FSP, 03/02/2005, p. A15

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