VOLTAR

Refinarias suíças vetam importação de ouro da Amazônia

Valor Econômico, Especial, p. A16.
28 de Jun de 2022

Refinarias suíças vetam importação de ouro da Amazônia
Compromisso é não lidar com metal de territórios indígenas da Amazônia ou de origem ilegal

Assis Moreira

28/06/2022

Refinarias de ouro da Suíça, que estão entre as maiores do mundo, se comprometeram a não importar ouro proveniente de territórios indígenas da Amazônia brasileira, numa declaração inédita que ilustra o crescente escrutínio envolvendo material procedente da floresta.

As refinarias Valcambi, considerada a maior do mundo, Argor-Heraeus, Metalor, MKS Pamp e PX Précinox, além da Associação Suíça da Indústria de Metais Preciosos (ASFCMP), assumiram "compromisso de não lidar com ouro de territórios indígenas da Amazônia brasileira e tomar as medidas técnicas e humanamente possíveis necessárias para não aceitar, importar ou refinar ouro ilegal, incluindo o Brasil, rastreando e identificando este ouro".

Também condenam e rejeitam "qualquer atividade de mineração ligada às áreas protegidas da Amazônia sem o consentimento livre, prévio e de boa-fé das comunidades afetadas".

As refinarias suíças condenam o recurso ao uso de mercúrio, pedem para o governo brasileiro proteger o meio ambiente e as comunidades indígenas. E dizem compartilhar a inquietação das nações indígenas envolvendo o Projeto de Lei 191/2020, que abriria as terras indígenas à mineração e a outras atividades comerciais.

O compromisso é resultado de diálogos com organizações não governamentais (ONGs) que culminou em encontro em Berna, capital suíça, das refinarias com uma delegação da Amazônia, incluindo representantes da comunidade munduruku Wakoborun (de Tajapós), movimento Xingu Vivo para Sempre, Aliança Volta Grande Xingu, Amazon Watch, mediada pela Associação para os Povos Ameaçados (SPM).

Christoph Wiedmer, codiretor da SPM, diz que a declaração de intenção é inédita no setor suíço de matérias-primas. A questão agora é como ela será aplicada, afirma ele. Nenhum consenso foi alcançado sobre a questão central de transparência na cadeia de abastecimento do ouro para a Suíça.

"Autoridades brasileiras disseram que em 2020 e 2021 saíram cinco toneladas de ouro duvidoso para a Suíça", observa Wiedmer. "Ainda estamos buscando para onde foi esse ouro, porque as refinarias suíças dizem que eles não o importaram", completa o diretor da entidade.

Christoph Wild, presidente da Associação Suíça da Indústria de Metais Preciosos, afirma que a Suíça importa ouro de todas as partes do mundo, "incluindo do Brasil, mas extraído de forma legal e conforme as normas internacionais''. Disse também que o país não importa o metal precioso vindo da Amazônia, de toda maneira, e que sabe se tratar de algo bastante sensível. A declaração conjunta com ONGs, acrescentou, procura mostrar atenção com cadeias de abastecimento sustentáveis.

A Suíça é o segundo maior importador de ouro do mundo, o principal exportador e um centro global para a comercialização do metal precioso. Organizações não governamentais costumam reclamar que o país está longe de poder garantir a origem do ouro importado.

Globalmente, a extração de ouro chegou a 3.300 toneladas em 2019. O maior produtor foi a China, com 380 toneladas, seguido pela Austrália, com 325, e a Rússia, com 305. O Brasil aparece com produção de 90 toneladas, e o Peru, com 128 toneladas.

Um relatório da organização WWF calcula que entre 50% e 70% de todo o ouro negociado no mundo transita fisicamente pela Suíça - cifras que a indústria contesta, dizendo que tudo depende da definição usada, se é ouro extraído das minas ou lingotes ou de outra forma.

Segundo WWF, boa parte vem de países que não produzem o metal precioso, como o Reino Unido (importações de 130 toneladas), Emirados Árabes Unidos (128 toneladas) ou Itália (68 toneladas), por um sistema comercial com múltiplas facetas que impedem de assegurar a rastreabilidade do ouro.

Na semana passada, dados da aduana suíça mostraram que mais de três toneladas de ouro foram expedidas da Rússia para a Suíça em maio, no primeiro grande embarque desde a invasão da Ucrânia pelos russos em fevereiro, e sendo assim uma entorse às sanções internacionais contra Moscou. Os países do G7 - grupo das sete maiores economias do mundo - decidiram proibir a importação de ouro, em decisão anunciada no fim de semana na Alemanha.

Valor Econômico, 28/06/2022, Especial, p. A16

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/06/28/refinarias-suicas-vet…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.