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Reféns apoiaram ações dos índios pela posse da terra

O Liberal-Belém-PA
Autor: Edivaldo Mendes
20 de Mai de 2003

Durante os cinco dias em que foram mantidos reféns dos índios tembé do Alto Rio Guamá, da terça-feira retrasada, 13, até a manhã do sábado 17, em momento algum os três funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram importunados, apesar da forte pressão psicológica que eles viveram nesses dias de cativeiro, principalmente por conta da possibilidade de um já anunciado confronto entre os posseiros da vila Bacaba e os indígenas.

Na verdade, reféns e índios faziam parte de um mesmo grupo que tem um mesmo objetivo, que é o de expulsar os invasores que há anos vêm tirando madeira nobre da reserva, acabando com a caça, poluindo o rio Guamá e os igarapés e formando pasto para criar gado. Tanto é que, após a reunião de quase quatro horas do último sábado, que acabou na decisão de soltar os prisioneiros e as lideranças indígenas se reunirem em Belém, índios e reféns chegaram a chorar juntos no meio da sede da aldeia, solidários no mesmo problema.

Mas apesar dessa união tácita, os índios Tembé, cansados de tanta exploração, com certeza não titubeariam em usar os funcionários da Funai como escudos num hipotético ataque contra os invasores. "Há muito tempo que nós fazemos parte dessa luta. Os índios estão no seu direito e sabem o que querem", afirmou um dos reféns, que já esteve, em 1996, junto com 77 tembé, nas mãos dos posseiros que viviam na Vila Livramento, sob o comando do posseiros Humberto Alencar, o Paraíba, depois de uma escaramuça que teve carros da Funai incendiados pelos invasores e só acabou sem mortes por interferência da Polícia Federal.

Caso a reunião de hoje, em Belém, entre lideranças do Tembé, Ministério Público, Ibama, Funais e Polícia Federal não dê os resultados que eles esperam, tudo leva acrer que a situação na área indígena do Alto Rio Guamá vai ficar cada vez mais tensa e delicada, insustentável, com grandes possibilidades de confronto. Os índios culpam a Funai por tudo o que lá está acontecendo há mais de 30 anos na reserva, com posseiros sendo indenizados, mas que meses depois retornam á área.

Esse possível conflito terá como testemunhas pessoas como o lavrador Patrício Gomes dos Reis, um paraense de 64 anos, nascido em Primavera mas que há 40 anos vive bem ao lado da reserva indígena, junto com sua família. Dono de nove lotes agrícolas, herança do seu pai, seu Patrício garante que os Tembé "têm muita paciência", e que se fosse ele já teria expulso os invasores. "Eu acho que os índios devem ter uma segurança do governo para suas terras não ser invadidas. Olha que desde quando vim pra cá que vejo eles lutando para garantir a terra deles, e sempre é assim, posseiros entrando e saindo como se a terra fosse deles", protesta o lavrador amigo dos Tembé.

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