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Realidade virtual ajuda a entrar no cotidiano de aldeia indígena

Valor Econômico - http://www.valor.com.br/cultura
Autor: CHIARETTI, Daniela
26 de Abr de 2017

Realidade virtual ajuda a entrar no cotidiano de aldeia indígena

Daniela Chiaretti

SÃO PAULO - O espectador coloca os óculos e é transportado para uma aldeia indígena do Alto Xingu. As malocas estão dispostas em círculo - e é possível dar a volta toda. Os homens, enfileirados, exibem pinturas corporais e uma índia aparece lá atrás. A moto quebra a atmosfera idílica por alguns segundos, até os índios avançarem em canoas pelo rio - dá para seguir as águas até a curva, lá adiante. O jogo de futebol é transmitido na tevê dentro da maloca, uma índia decora suas esculturas impressionantes em barro, outra faz farinha. Assim é o cotidiano na aldeia indígena Piyulaga, do povo waurá, exibido no primeiro documentário em realidade virtual feito em uma aldeia indígena no Brasil.
Os sete minutos de "Fogo na Floresta", documentário de curta-metragem dirigido por Tadeu Jungle e narrado pela atriz Fernanda Torres, são um mergulho dentro de uma aldeia xinguana em cenário em 360 graus. "Nunca tinha tido a experiência de estar em uma aldeia. A ideia da realidade virtual foi um pouco essa, de levar a pessoa a vivenciar esta situação", diz Jungle. A realidade virtual permite que se veja o que está acontecendo na cena, naquele momento, à frente, ao lado e atrás, basta girar a cabeça (se se está usando óculos) ou o mouse (o vídeo abaixo é 360 graus; veja a imagem mexendo com o mouse).
Quando o fogo se aproxima de uma maloca, o espectador se assombra com o maior problema ambiental que atinge hoje os índios do Alto Xingu, ao sul do Parque Indígena do Xingu criado pelos irmãos Villas-Bôas há 55 anos.
"Os índios sempre usaram fogo. Nunca tiveram este problema", registra Paulo Junqueira, coordenador do Programa Xingu do Instituto Socioambiental, o ISA. Os índios usam o fogo para limpar as roças, para fortalecer o sapé que usam nas casas, para tirar mel, limpar os caminhos, fazer oferendas ou se comunicar.
Mas com o desmatamento no entorno - mais de 5,856 milhões de hectares foram desmatados fora do parque, segundo dados de 2016 - e a mudança no clima, a mata fica mais vulnerável, e o fogo dos índios, foge ao controle. No ano passado, 221 mil hectares queimaram dentro do parque.
Se o fogo acontece dentro do Território Indígena do Xingu (como os índios rebatizaram o parque), o descontrole vem do desmatamento além das fronteiras. Nos últimos 25 anos, 44% do território na bacia do Xingu no Mato Grosso foi desmatado. "Essa supressão da vegetação fora tem impacto dentro. Um dos impactos é o ressecamento da floresta. A prática milenar dos índios nunca foi um problema, o fogo não avançava", explica Junqueira.
Os sete minutos de "Fogo na Floresta" "abrem caminho para muitas conversas", acredita Junqueira.
Jungle, que fez em realidade virtual o documentário "Rio de Lama", mostrando o impacto do rompimento da barragem da Samarco na região de Mariana, acredita que a técnica "é a primeira grande revolução desde a invenção do cinema em termos de narrativa. É disruptiva. Você grava uma esfera". O ISA convidou Jungle a filmar "Fogo na Floresta" com a intenção de aproximar as pessoas das aldeias.
O Parque Indígena do Xingu é possivelmente o território indígena mais famoso do Brasil.
A versão de Jungle da vida na aldeia Waurá, onde vivem 560 pessoas, é mais real que romantizada - por isso, a moto, a televisão, a aula onde índios aprendem o beabá alternadas às cenas da pintura da cerâmica ou os guerreiros paramentados com faixas coloridas nos antebraços e joelhos.
É a primeira vez que o Festival Internacional de Documentários "É Tudo Verdade" inclui na programação um filme em realidade virtual. "Fogo na Floresta", coprodução do ISA com a Academia de Filmes, será exibido quinta-feira, às 18h, no Centro Cultural São Paulo. Duas lideranças waurá-Atakaho Waurá, cacique da aldeia Piyulaga, e seu tradutor, Arikutua Waurá - virão do Xingu para a exibição.

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