VOLTAR

A realidade na Amazônia

CB, Visão do Correio, Opinião, p. 12
04 de Nov de 2008

A realidade na Amazônia

Divulgada na quarta-feira, a mais recente notícia sobre a devastação da Amazônia revelou uma redução de 22,35% no ritmo de derrubada de árvores em setembro, com relação a agosto.
Visto isoladamente, o dado é falsamente promissor. Por trás dele, informações adicionais têm o poder de uma motosserra. Uma delas: o desmate ilegal somou 587km² num único mês. Outra: foi praticamente igual ao do mesmo mês do ano passado (603km²). Mais uma: 83,8% das matas atingidas por queimadas sofreram destruição irreversível. Há que se considerar ainda que 33% da área pesquisada estava encoberta por nuvens, sinal de que a situação pode ser pior. Por fim, podemos acrescentar que de janeiro a setembro o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) contabilizou 6.268km² de destruição da floresta.
A conclusão é óbvia: avance mais ou avance menos em determinado período, a depredação segue em frente. Exemplos: recuou 20% em junho e 70% em julho, mas expandiu-se 134% em agosto. De agosto de 2007 a julho de 2008, intervalo de tempo que corresponde ao calendário de monitoramento, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram o desbaste de 8.138km² de matas, contra 4.974km² nos 12 meses anteriores. Enfim, só haverá o que comemorar no momento em que se constatar uma recuperação progressiva e sustentável da área coberta e se estiver plantando mais do que derrubando ou queimando árvores na região.
Antes, há que se aperfeiçoar os sistemas de controle e medição, para que sejam plenamente confiáveis. Hoje, são usados o Deter, de baixa resolução e capaz de detectar apenas devastações de 25 hectares para cima, mas que tem a vantagem de funcionar em tempo real; o Programa de Cálculo de Desflorestamento da Amazônia (Prodes), mais preciso, porém lento, com periodicidade de 16 a 26 dias e que serve sobretudo para computar taxas anuais; e o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que usa metodologia própria para analisar imagens geradas pelo Deter e Prodes (do Inpe), com acompanhamentos mensais.
Só com informações precisas e imediatas será possível identificar agressões e combatê-las desde o início, fixar objetivos por regiões a serem mapeadas e cobrar o cumprimento das metas. O ideal é que se comprometa os governos dos estados e as prefeituras municipais.
Uma ação governamental nos três níveis facilitaria a fiscalização e a imposição de critérios rigorosos para a regularização ambiental das propriedades, sejam elas privadas ou públicas.
Não podem faltar recursos para a proteção da Amazônia. Há inclusive um fundo criado com esse objetivo - e para o qual a Noruega já se dispôs a doar US$ 1 bilhão até 2015. É bom acelerar as providências e não se deixar enganar pelas idas e vindas dos números.

CB, 03/11/2008, Visão do Correio, Opinião, p. 12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.