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Reagir nao e o bastante

JB, Opiniao, p.A10
24 de Fev de 2005

Reagir não é o bastante

O poder público, no Brasil, move-se por inércia. Atropelado pelo clamor da imprensa e de ativistas de todos os matizes ideológicos, o governo federal anunciou a criação de reservas ambientais e mandou tropas ao Pará. Fez de tudo para mostrar dinamismo, mas só depois que a missionária Dorothy Stang, ameaçada há anos, morreu com seis tiros.
A questão não se circunscreve à remota localidade de Anapu. É nacional. Como prova a morte de mais um ambientalista, ontem, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O Estado faz um tremendo esforço para marcar presença na selva amazônica, mesmo que tardiamente, mas falha em dar segurança a quem zela pela proteção do meio ambiente, bem aqui, na vizinhança da segunda maior metrópole do país.

O campo sem lei está mais próximo da desordem urbana do que o noticiário deixa transparecer. Em ambos os terrenos, correm risco os pulmões verdes das futuras gerações. Sua exploração é marcada pela selvageria.

Desmatamento ilegal, grilagem de terras, pistolagem, extração clandestina de palmito e outros produtos nobres da mata, todas estas atividades estão sordidamente interligadas. Há décadas, ativistas das mais diversas procedências lutam para preservar as riquezas naturais do país da pilhagem de ricos e pobres. No Sul do Pará, uma lista macabra de ambientalistas marcados para morrer circula entre pistoleiros. Nela, a vida da freira americana, que adotou o Brasil como sua pátria, custava R$ 50 mil. Há quem tenha a cabeça a prêmio por mais: R$ 100 mil. Caso do frei francês Henry des Roziers, que figura no topo da lista de ameaçados apresentada à imprensa esta semana pela Comissão Pastoral da Terra.

Novos crimes põem em evidência um massacre silencioso, que, nas últimas duas décadas, ceifou mais de 1,3 mil vidas. A maioria ficou sem qualquer punição. Já passou a hora de uma ação efetiva do poder público, que vá além das fotos de soldados montando guarda na mata. Por enquanto, o Estado só reage. A ação é comandada pelos criminosos. Tal equação precisa mudar.

JB, 24/02/2005, Opinião, p.A10

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