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Raposa: governador de Roraima diz que política indigenista do governo é 'caótica, incoerente e irresponsável'

O Globo
Autor: Flávio Tabak
29 de Mai de 2008

RIO - O governador de Roraima, José de Anchieta Junior (PSDB), afirmou na manhã desta quinta-feira, assim como havia dito o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, que a política indigenista brasileira é caótica. Em seminário promovido pelo Clube Militar do Rio de Janeiro, o governador também fez uma série de ataques a organizações não-governamentais que atuam na floresta amazônica e à Fundação Nacional do Índio (Funai).

Contrário à demarcação da reserva Raposa Serra do Sol em terra contínua e a favor da reivindicação dos plantadores de arroz, Anchieta é também o autor da ação que questiona a demarcação em terra contínua. Conseguiu sua primeira vitória quando o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar suspendendo a operação Upatakon 3, da Polícia Federal, criada para retirar os não-índios da reserva. Os ministros entenderam que a operação pode criar um ambiente de violência. (Infográfico: Entenda o conflito na reserva)

A demarcação em área contínua também enfrenta a oposição dos militares. Em abril, o general Heleno foi repreendido, depois de ter criticado, em reunião também no Clube Militar, a política indigenista adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demarcação em área contínua de 1,6 milhão de hectares. A reserva foi palco de enfrentamentos recentes entre índios e arrozeiros que se recusam a deixar a área, mesmo com indenizações oferecidas Funai. Aliados a índios contrários à demarcação, os rizicultores se armaram.

Nesta quinta-feira, o governador de Roraima divulgou documentos que mostram, segundo ele, o mau uso de recursos no convênio entre o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Dos R$ 14 milhões encaminhados ao CIR, aproximadamente R$ 12 milhões serviram apenas para encargos pessoais.

Anchieta também criticou o laudo antropológico aprovado pela Funai e o posterior decreto do presidente Lula homologando a reserva indígena Raposa Serra do Sol em terras contínuas.

- Esse decreto foi covardemente assinado. A política indigenista do atual governo é caótica, incoerente e irresponsável - disse em pronunciamento aplaudido com entusiasmo. - O general Heleno (comandante militar da Amazônia) deu exemplo de civismo e patriotismo. Nós estamos com o mesmo objetivo. A soberania está ameaçada quando se tem centenas de ONGs estrangeiras que deixam as fronteiras vulneráveis. Esse também é o sentimento do comando militar da Aeronáutica. Essas prestações de contas de ONGs são absurdas - disse o governador. ( Ouça trechos da entrevista do governador )

Sobre o laudo antropológico, Anchieta atacou a Funai:

- É um órgão de compadre e comadre. O laudo é fraudulento.
Quartiero volta a chamar Tarso de terrorista

Um dos maiores opositores da demarcação em terra contínua, o prefeito de Paracaima (RR), Paulo César Quartiero (DEM), afirmou no mesmo seminário que vai acatar a decisão do Supremo, mesmo que seja pela retirada dos não-índios da reserva. Quartiero, porém, voltou a chamar o ministro da Justiça, Tarso Genro, de "terrorista".

- Essa decisão do STF não é o tônico para todos os males - disse Quartiero, que é presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima - Acho que vai ser apenas uma decisão que envolve uma série de outras. Vamos ter que acatar, mas nós temos que tomar uma atitude e avaliar o que representamos. Nós nos sentiremos pessoas sem pátria. Me ligaram hoje de Pacaraima dizendo que a Polícia Federal dobrou o número de homens lá. Se o Supremo der área contínua, eles não vão nos varrer do mapa? Vamos resistir com o quê? Vamos protestar. O terrorismo é feito pelo seu terrorista-mor, aquele nosso amigo Tarso Genro. Esse é terrorista. Nós pedimos apenas a judicialização da questão. O governo faz terrorismo de Estado - afirmou o prefeito.

Quartiero também explicou quais foram os artefatos apreendidos em sua fazenda e motivo de sua prisão no último dia 6, em seguida a um conflito em sua propriedade que deixou dez índios baleados.

- Quero que devolvam os artefatos bélicos de destruição massiva que apreenderam na minha fazenda, porque são canos das semeadoras que levam o adubo ao solo para produzir arroz. Preciso deles para trabalhar. As armas de destruição massiva servem para produzir arroz - disse Quartiero.

Também participaram do seminário o presidente do Clube da Aeronáutica, brigadeiro Ivan Frota, o presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo, o ex-ministro da Aeronáutica no governo Sarney Octávio Moreira Lima, e também o ex-ministro do Exército do governo Figueiredo Leônidas Pires Gonçalves. Estava também à venda para os participantes, por R$ 30, camisas camufladas com a frase " A Amazônia é nossa".

Na quinta-feira da semana passada, o presidente do STF, Gilmar Mendes, a ministra Carmén Lúcia, e Carlos Ayres Brito, relator do processo sobre a reserva Raposa Serra do Sol, sobrevoaram, de surpresa, a área indígena.

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