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Radiografia da Mata Atlântica

O Globo, Ciência, p. 38
19 de Mar de 2010

Radiografia da Mata Atlântica
Mais completo estudo já feito lista toda a flora e aponta as plantas em maior risco

Carlos Albuquerque

Maltratada praticamente desde o descobrimento do país, a Mata Atlântica ganha um considerável reforço para a sua preservação com o lançamento do livro "Plantas da floresta atlântica", o mais completo levantamento da flora da região. O trabalho resume as pesquisas de quase 200 cientistas do Brasil e do exterior sobre um dos mais ricos e ameaçados ecossistemas do mundo, do qual hoje só restam cerca de 7% de sua área original.

A publicação de 516 páginas lista todas as espécies conhecidas da flora da Mata Atlântica, onde vivem cerca de 70% dos brasileiros. São dados de 15.782 espécies distribuídas em 2.257 gêneros e 348 famílias, constituindo aproximadamente 5% da flora mundial. Além disso, o livro comprova que a floresta - considerada a mais rica em biodiversidade do planeta - concentra um grande número de espécies (chamadas endêmicas) que só existem ali.

- Obter uma listagem confiável das espécies existentes na Mata Atlântica é um desejo antigo de todos, não só da comunidade científica - conta Rafaela Campostrini Forzza, pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e uma das autoras do livro. - Até para os trabalhos de preservação, as pessoas querem saber esses números e também onde essas espécies estão.

O livro tenta responder a essas duas perguntas recorrentes. São números necessários num momento em que o Brasil precisa defender cada vez mais sua biodiversidade

Dados essenciais para a preservação da floresta
Para os especialistas, a obra é importante não apenas porque preenche uma lacuna no conhecimento da flora do país, mas também por trazer dados essenciais para a tomada de decisões em torno da sua preservação.

- Sempre tivemos estimativas, mas nunca um número tão preciso sobre a flora da Mata Atlântica. E isso prejudicava qualquer trabalho de conservação - diz Rafaela, sobre o trabalho - Ainda há muito o que catalogar. Cada vez que um pesquisador entra na mata, ele volta com uma espécie nova nas mãos.

No livro, explica a pesquisadora, as espécies estão catalogadas por família e também pelo nível de ameaça enfrentado por elas.

- A listagem obedece os padrões internacionais; então, dizemos em que estágio de ameaça elas estão, se criticamente ameaçadas, vulneráveis, em perigo etc. Também dizemos em que tipo de formação elas ocorrem, se em floramentos rochosos, se em restingas etc.

O trabalho foi realizado num prazo relativamente curto, entre agosto de 2007 e dezembro de 2009.

- Foi realmente um esforço concluir o livro nesse tempo, mas contamos com uma equipe eficiente, que trabalhou de forma coletiva, reunindo informações já disponíveis e o trabalho de campo. Esse trabalho representa um amadurecimento da ciência brasileira.

Segundo ela, tal amadurecimento, reflexo de maiores investimentos, não é suficiente para vencer os inimigos da floresta.

- Hoje é difícil achar alguma espécie endêmica da Mata Atlântica que não esteja ameaçada. Do jeito que a floresta sofre com a devastação, por mais comum que seja uma espécie, ela tem grandes chances de estar ameaçada - afirma Rafaela. - É uma eterna luta contra o tempo. Diversas vezes, entramos em uma área, fazemos uma coleta e quando voltamos, um ano depois, a área já está no chão, virou pasto ou pedreira. A ciência não consegue vencer a corrida contra o poder econômico. Esse livro é mais um capítulo nessa batalha inglória.

O Globo, 19/03/2010, Ciência, p. 38

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